De aluno a zelador e de zelador a diretor da escola onde tudo começou

20 de Agosto de 2025

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De aluno a zelador e de zelador a diretor da escola onde tudo começou

Dentre as inúmeras datas reservadas no calendário brasileiro, celebra-se no dia 9 de fevereiro o Dia do Zelador, uma profissão muito respeitada no passado e que hoje pouco se ouve falar. Em Fernandópolis são inúmeros os exemplos de pessoas que dedicaram toda sua vida a essa profissão, como a dona Cidinha do JAP, o seu Zé do Saturnino e tantos outros. Mas a história de um zelador em específico pode servir de exemplo para inúmeros jovens ainda em fase escolar. 
Toda uma geração de fernandopolenses que estudou na EELAS – Escola Líbero de Almeida Silvares – conhece Valdemir Dias Brasil ou simplesmente “seu Brasil”, como ficou conhecido durante os 13 anos em que tomou conta da zeladoria da escola. 
Brasil vem de uma família humilde. Cresceu na roça em uma colônia de café em Estrela D’Oeste. Quando criança, caminhava 13 km para ir à escola de manhã e quando saia da aula, tinha que correr para casa, pois antes das 13h já tinha que estar na plantação. “Era meio dia de escola e meio dia de trabalho”, lembra ele. 
Assim foi sua vida dos oito aos 12 anos de idade, quando em 1972, seus pais José Dias Neto e Adelaide Dias Brasil decidiram se mudar para Fernandópolis. O pai de Brasil foi trabalhar na antiga CAIC e ele passou a frequentar a EELAS e no período de folga dos estudos trabalhava como sorveteiro e fazendo outros bicos para ajudar a família até que conseguiu seu primeiro emprego com carteira assinada como operário aprendiz na Cobral, uma grande empresa de algodão que existia na época, quando ele tinha 14 anos. 
Em 1978 ele decidiu prestar um concurso público para o cargo de escriturário e passou a, além de estudar, trabalhar na EELAS. Algum tempo depois Brasil se casou com Maria A. Puiti Brasil e foi morar com a esposa em uma casa alugada, até que surgiu uma vaga de zelador na escola e, para fugir do aluguel, ele decidiu encarar o trabalho. 
“Então decidi ir morar na zeladoria. Não ganhava nada, mas me safava de pagar aluguel e as contas de água e luz e ainda continuava trabalhando como escriturário da escola”, contou. 
Enquanto cuidava da escola, Brasil decidiu traçar um rumo para sua vida e aproveitou de sua função para isso. 
“Nos meus horários de folga aproveitava todos os recursos da escola, da qual eu era responsável, para alcançar esses objetivos. Tinha a biblioteca que era uma das melhores da cidade e eu lia todos os livros, materiais didáticos e até o Diário Oficial para me capacitar, me preparar, estudar”, completou.
Foram horas de estudo que lhe garantiram conhecimento suficiente para prestar um novo concurso e depois outro e mais outro... “Com o conhecimento que absorvi ali eu passei a fazer todos os concursos que apareciam e passei para oficial administrativo, depois agente de custeio, secretário, professor, coordenador pedagógico, vice-diretor e por fim diretor”, disse. 
Mesmo quando ascendeu ao cargo de professor, ele seguia com suas funções na zeladoria. “Como zelador eu subia no telhado, desentupia calhas, capinava, fazia limpezas arrumava ventiladores, canos quebrados e as vezes via meus alunos me observando de longe e comentando, mas eu não sentia vergonha disso, pois nada mais era do que um trabalho”, concluiu. 
Além dos concursos, Brasil fez quatro faculdades e uma pós-graduação. Foi diretor do EELAS, da Pedro Malavazzi e fepois do processo de municipalização das escolas, foi para Mira Estrela onde ficou por mais cinco anos até se aposentar.
Hoje, já aposentado, passou em mais um concurso público para diretor de escola, só que dessa vez para a rede municipal, mas aguarda uma decisão judicial já que ainda não lhe deram posse. 
Ele tem dois filhos que cresceram no pátio da EELAS, o Maurício Puiti Brasil e VInicius Puiti Brasil. Um também seguiu carreira na área de educação e é diretor de uma escola em Piracicaba. O outro também tornou professor, mas optou por seguir a carreira de policial militar.