No dia de seu aniversário, mãe terá alegria dobrada ao se formar com a filha

20 de Agosto de 2025

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No dia de seu aniversário, mãe terá alegria dobrada ao  se formar com a filha

É um motivo de muita alegria e, de certa forma, um alívio para qualquer pessoa ver o filho formado. A formatura então, nem se fala. Os pais ficam com cara de bobos festejando com o filho um momento especial na vida dele. Quando o nome do formando é chamado no microfone então, é um êxtase completo.

Hoje em Fernandópolis alguns pais terão esse prazer ao ver os filhos se formando, mas para a auxiliar de saúde, Silvia Cristina Braga, 50, a formatura da filha terá um “mix de emoções”, se é essa a melhor forma de descrever o fato de que ela, além de ouvir o nome da filha Lívia Braga Mendonça sendo anunciado como formanda, ouvirá o seu também e, o que é melhor no dia de seu aniversário de 50 anos.

Hoje, 23, será realizada a formatura de Lívia, que fez Engenharia de Alimentos e de Sílvia, formada em Nutrição, ambas pela FEF – Fundação Educacional de Fernandópolis.

Sem estudar há algumas décadas, Silvia esbanjou força de vontade e provou para si mesma que era capaz de que tudo que fosse possível de ser sonhado é possível de ser realizado. Há 33 anos, logo que terminou o ensino médio, a até então professora de piano, ingressou na faculdade de Ciências Contábeis da Unifev – Centro Universitário de Votuporanga-, na tentativa de se encontrar em uma profissão para a qual já tinha uma graduação técnica. Mas, sem vocação para tal, ela desistiu. No ano seguinte ela voltou à faculdade, dessa vez para cursar Ciências Biológicas, mas, novamente ficou apenas o primeiro semestre e desanimou outra vez.

Sem saber na verdade o que realmente queria para sua carreira profissional, a auxiliar de saúde foi no embalo da irmã e prestou vestibular para o curso de História, ingressando juntas. No entanto, nem é preciso terminar o enredo; a irmã de Silvia, Sandra é professora em Guarani D’ Oeste.

Após três frustrações e sem encontrar um caminho universitário, foi a vez de buscar algo na área da saúde. Foi aí que ela começou a cursar Auxiliar de Enfermagem na FEF, com um agravante: grávida de oito meses. Assim, cumprir os estágios e amamentar não era tarefa fácil e, mais uma vez, não deu tempo de pegar o diploma.

Ainda como professora de piano na extinta Escola Dinâmica Musical, de Celina Ikeda e Lídia Mara Ribelato Buissa, viu a situação ficar ainda mais complicada com o fechamento da Escola.

Foi aí que ela prestou um concurso público estadual e passou a trabalhar no “Postão”, onde está há 21 anos.

Até o ano de 2012, tudo parecia transcorrer normalmente. Bem empregada, com uma filha já no primeiro ano de Engenharia de Alimentos, o filho Felipe prestes a ingressar em Engenharia Eletrônica e o sentimento de dever cumprido ao ver a alegria dos filhos já bem encaminhados profissionalmente.

Mas, ainda não era a hora de ver a vida estagnar-se. Ainda faltava a conclusão de um sonho. O seu sonho. Algo que ainda martelava em sua cabeça, por vezes deixando-a desanimada por pensar em não ter sido persistente o bastante para se formar. Foi aí que, ‘aos 45 do segundo tempo’, o médico Luiz Henrique Semeghini, seu chefe, comentou sobre 300 bolsas filantrópicas na FEF para alunos que não possuíam curso superior. Sem condições financeiras, Silvia não deixou a oportunidade passar e logo pensou em fazer Psicologia, já que o atendimento no Postão por tantos anos, lhe fez gostar de ajudar as pessoas. Contudo, a possibilidade de estudar e acima de tudo, se ajudar, já que sofria de hipertensão e diabetes falou mais alto e Silvia ingressou no curso de Nutrição; Isso após ter uma boa nota e ser aprovada na avaliação social. Separada e com dois filhos, enfim, ela retornara às salas de aulas como aluna mais velha da turma.

A vida, de pacata, se tornou uma correria, mas o dia a dia fez ela apaixonar-se pelo curso concluindo-o com louvor. Sem nenhuma sub, exame ou DP, além de sua dupla com a amiga de sala Alessandra ter sido a única aprovada com nota 10 no TCC – Trabalho de Conclusão de Curso, ambas foram premiadas na segunda-feira, 18, durante a colação de grau, como as alunas destaque da turma, igualadas por um empate técnico.

E a força de vontade da mãe guerreira já criou uma corrente. Ao ver o esforço e sucesso da amiga de trabalho, a faxineira Eliandra também retomará os estudos, deixados ainda no ensino fundamental. Com isso, os próprios filhos de Eliandra passaram a se dedicar ainda mais na escola.

“A maioria das pessoas da minha idade fala que não tem pique. Mas a força vem de dentro, pois Deus é mais forte e basta querer para fazer o que quiser na vida. É só começar que o pique aparece. Nunca quis ficar velha, mofando no sofá de casa e esperando a morte chegar. Quero ser útil, ter qualidade de vida e terminar a vida bem, fazendo o melhor possível para todos e para mim”, contou ela, que está em fase final de exames para se submeter a uma cirurgia bariátrica.

A filha Lívia, orgulhosa pela mãe conta que ficou emocionada no dia da colação de grau da mãe. “Estavam os alunos e os pais lá assistindo. Mas os pais da minha mãe não estavam, no caso era eu e meu irmão que estávamos lá. E quando pediu para os pais dos formandos se levantarem a gente se levantou e foi um momento de muita emoção. Mais uma vez ela nos provou ser corajosa e nos encheu de orgulho”, disse a filha, que deu um jeitinho de colocar as mesas uma ao lado da outra para a festa de formatura de logo mais no Villa Vip’s.

Agora realizada com a Nutrição ela lembra que o destino foi bom com ela, embora em algumas oportunidades tenha relutado em enxergar. “Às vezes você fica triste, achando que é incapaz. Eu já havia desistido de todos cursos que comecei e todos sabem que gordinho tem baixa-autoestima. Mas, hoje vejo que se tivesse concluído algum daqueles que eu não gostava, eu teria perdido a chance de me encontrar fazendo Nutrição, pois as bolsas era só para alunos que não tinham curso superior. Nunca teria feito e continuaria decepcionada com a profissão”, lembrou.

Acostumada com o atendimento diário no “Postão”, Silvia já faz planos para a futura profissão. “Gosto dessa coisa de levar um pouco de luz à vida das pessoas, poder atender bem, solucionar algum problema. Vou aposentar daqui uns três anos e penso em montar um consultório. Por enquanto, vou fazer uma pós graduação e atender em casa se puder, já que tenho um tempinho livre”, afirmou a servidora pública, que cumpre cinco horas diárias para o Estado.

E logo mais, todo o esforço de Sílvia valerá a pena. Na festa de formatura ela estará reunida com boa parte da família, em duas mesas. “Sábado (hoje) vai ser emocionante, estarei ao lado da minha mãe, meu pai, sobrinhos e, claro, minha caçula que vai descer a escada. Por eu também estar formando vai ser uma emoção indescritível. Nossa senhora. É a prova de que todos somos capazes de qualquer coisa nesse mundo, que ninguém é melhor do que ninguém e que tendo inteligência, perseverança e disciplina podemos chegar a qualquer lugar. A vitória vence qualquer preconceito”, concluiu Silvia emocionada.