André Pessuto apronta as baquetas, Tuta posiciona os instrumentos de percussão, Bethoven estrala os dedos, Glauber confere afinação do instrumento, e Sérgio Kamiyama e Fabrício Boni fazem o último ajuste no pedestal e nas guitarras. À princípio parece uma viagem no tempo, momentos antes de um show da Banda Sr. Pestana, extinta há 14 anos, exceto pelo fato de uma jovem de 20 anos chegar ao palco com seu contra-baixo vermelho e se posicionar à direita. Este foi um dos diferenciais do épico reencontro da Banda Sr. Pestana, sucesso regional entre os anos de 1998 e 2001, no último dia 2 em Fernandópolis.
Atualmente em caminhos diferentes, os músicos se reuniram em um show realizado no BartoPub, que serviu para matar saudades e se deleitar com sensações inenarráveis, não apenas por parte dos integrantes da banda como também por parte do grande público que esteve presente revivendo momentos inesquecíveis que tiveram em apresentações da Sr.Pestana.
Se a noite já era especial para um dos integrantes, o guitarrista e vocalista Sérgio Kamiyama, o “mix” de emoções foi ainda maior, uma vez que sua filha Lívia Maira Torsani Kamiyama, 20, esteve ao seu lado tocando o baixo. “Foi um dia completo para mim. Já estávamos bem animados com o fato de rever os amigos, se reencontrar no palco e tudo mais, e com minha filha tocando com as gente foi mais especial ainda”, contou Serginho.
No primeiro ensaio para o reencontro, Fabrício, que participou via Skype, já que mora em São Paulo onde é produtor, atentou os demais músicos para o fato de que no CD de 14 faixas, gravado pela banda, o violão tinha uma sonoridade bem marcante, e que não poderia faltar no show de reencontro. “Nós queríamos desde o início apresentar algumas músicas nossas que o pessoal já conhece e levar fielmente como elas foram gravadas, mas para isso precisaria de um violonista. Foi aí que o Glauber, baixista, se dispôs a tocar o violão. E na hora de pensar em alguém para fazer o baixo, todos se lembraram da Lívia”, contou Kamiyama.
Entusiasmado com a ideia dos amigos, Sérgio falou com a filha que de pronto topou participar do dia histórico, até porque, ela sempre acompanhou a banda do pai. “Eu tinha três anos quando começaram e sempre que ele podia me levava aos shows. Sempre fomos muito grudados e todos da banda tinham carinho por mim. Fiquei muito empolgada com a possibilidade de mais uma vez estar tocando ao lado do meu pai e fazendo parte de uma banda que marcou a história da cidade”, destacou Lívia, que confessa ter ficado bastante nervosa ao ver tanta gente aguardando pela apresentação.
Em cima de um salto alto, ela tocou todas as músicas com a banda tendo apenas duas semanas de ensaio. “Como eu sempre ouvia o CD eu já sabia muitas músicas, mas ainda assim levei um computador para o caso de eu esquecer alguma nota. O mais difícil mesmo foi improvisar alguns pedidos quando alguns amigos dos meninos subiram ao palco para o famoso karaokê”, contou ela.
E se engana quem pensa que Lívia tirou de letra o turbilhão de emoções daquela noite. O teste para cardíaco foi posto à prova quando a banda reviveu seu maior sucesso: Outro Lugar.
No refrão da música, executada nas rádios da cidade e região com frequência, em que diz “todos tem a chance de tentar, tudo tem a hora e o lugar”, a canção foi entoada por praticamente todas as 1000 pessoas presentes no show, o que quase fez a jovem e talentosa baixista desabar. “Eu estava bem empolgada, emocionada, mas estava me segurando. Não imaginávamos que teria tanta gente e tantos fãs cantando as músicas, pulando feito criança. Na hora do refrão que paramos de tocar e todos cantaram a capela eu quase não me segurei, mas sabia que iria atrapalhar. Meus olhos encheram d’água, mas fui profissional e me segurei. Agradeci muito a Deus pelo dia, e em especial pelo André que conseguiu tocar perfeitamente”, lembrou Lívia em relação ao problema desenvolvido pelo baterista, que compromete a articulação dos dedos das mãos.
Lívia contou que o primeiro contato com um instrumento musical foi aos oito anos, quando seu pai lhe presenteou com um violão. “Sempre fomos grudados demais e eu aprendi a gostar de tudo que ele fazia. Mas não me dei bem com o violão e acabei me apegando ao contra-baixo”, disse ela que ainda se arriscou no teclado neste meio tempo.
Ela lembra que perguntou ao pai que som grave era aquele na música e ele lhe apresentou o baixo. “Foi o que mais gostei, mas ele disse que só me daria um baixo se eu realmente aprendesse a tocar, para não fazer como o violão”, brincou.
Com muita paciência, uma das maiores virtudes de Sérgio Kamiyama, ele deu as primeiras coordenadas à filha que fez aulas com os professores Felipe Rossi e Beto Silva. Já craque no instrumento, ela passou a integrar a atual banda do pai, a Velho de War, passando de assistente de TP (telepronpter) para baixista da banda.
Parceira do pai, ela conta que sempre tiveram uma relação de amigo e que tocar juntos seria uma consequência. “Era ele pegar o violão que eu já sentava ao lado dele. Tem fotos e vídeos dele que sempre tem eu do lado. Meu pai sempre foi muito amoroso, paciente, ainda mais vivendo com três mulheres em casa (a esposa e a filha caçula de 14 anos). Sempre foi de ir na cama de cada uma dar boa noite e um beijo e isso foi criando uma relação bem especial entre nós”, disse ela que contou só ter “apanhado” uma vez quando cuspiu um remédio.
O pai Sérgio Kamiyama, sempre se mostrou bem tranquilo, mas conta que o dia 2 de janeiro foi um dos dias mais especiais de sua vida. “Foi tudo muito bom, melhor que o esperado. Aquele frio na barriga de quem está começando a tocar. E além do reencontro da banda, reencontramos também vários amigos que iam nos shows aquela época, cantavam as letras e que estavam com seus filhos. Foi um encontro de gerações que fez a gente perceber o quão importante foram os quatros anos de Sr.Pestana em Fernandópolis e o quanto envelhecemos”, brincou Sérgio.
Embora tenha sido um reencontro de velhos amigos, que ficará eternizado no DVD, que está sendo feito pela Moguis Produções, muitos que estiveram no show usaram as redes sociais para pedir que a banda continue tocando. “Cada um seguiu seu caminho, tem suas bandas, enfim, foi um dia de revermos amigos, nos emocionar, e gravar o DVD que vai ser algo bem bacana para recordar”, disse Sérgio.