Quanto vale manter o espírito do Natal vivo? Na conta de energia, nada mais nada menos que um aumento de 360%. Trocando em miúdos, cerca de R$ 400 até mesmo para a classe média alta o valor é consideravelmente alto. No entanto, quando o ser humano é contagiado com esse período natalino, vale até parcelar a conta de energia.
Dois fernandopolenses extremamente saudosistas e amantes das tradições, simplesmente enfeitaram suas casas com micro lâmpadas e vários outros objetos natalinos, ganhando destaque na cidade e atraindo admiradores, que não resistem e param os carros para registrar numa foto a decoração natalina.
Paulo Pereira da Silva, o “Paulo eletricista” e Adauto Donizete Cassimiro fizeram questão de se apertar um pouco final do mês para não deixar de enfeitar as casas com os pisca-piscas. Ambos moram de parede e meia, moradores da Avenida dos Arnaldos (Av.4). No entanto, nada foi combinado, e as coincidências não param por aí. Além de serem do tipo de pessoas que adoram guardar relíquias e recordações, como, por exemplo, Paulo que tem mais de 600 fitas VHS, com imagens de momentos marcantes de acontecimentos na cidade ou Adauto, que guarda tijolos de monumentos históricos de Fernandópolis, os dois nasceram no mesmo ano – 1963, Paulo em julho e Adauto em junho -, começaram a trabalhar aos sete anos e vieram de famílias bem humildes. “Éramos muito pobres. Eu queria um presente de Natal, mas meu pai não tinha dinheiro para comprar. Uma vez meu pai me deu uma caminhonetinha e aquilo foi tão especial que guardo ela até hoje. Não tínhamos condição nem de tomar guaraná no final do ano. O conforto era bem pouco, mas jamais passamos fome. E ainda assim o Natal sempre foi marcante para mim. É um período mágico o mês de dezembro, as pessoas confraternizam, se congratulam. Lógico que isso deveria ocorrer o ano todo, mas dezembro é realmente iluminado”, disse Adauto.
Paulo, além de não receber presentes, também pela dificuldade financeira da família, ainda convivia diariamente com aqueles que podiam ter presentes no Natal. “Meu pai era bancário e, no outro período do dia ele trabalhava como eletricista e encanador. E desde os sete anos eu prestava serviços nas casas junto com ele. Na época do Natal éramos chamados para instalar as luminárias, os pisca-piscas, enfim, e eu convivia com aquilo tudo na casa dos clientes que tinham condições de fazer grandes enfeites e dar presentes às crianças. Mas para mim, o espírito do Natal vai além de ganhar presentes. Sempre enfeito a árvore de frente à minha casa com bastante coisa. Vou juntando um dinheirinho durante o ano e incrementando ela. Penso mais é nas crianças que gostam. Esse ano uma criança já pediu um bonequinho de mamãe noel que está pendurado na árvore e já prometi que darei a ela no Natal”, contou Paulo.
Adauto colocou cerca de nove mil micro lâmpadas na frente de sua casa, que não passa desapercebida para quem passa pela Avenida. Além disso, há um presépio montado em cima de alguns tijolos resgatados por ele, tanto da primeira escadaria da Escola JAP, do primeiro prédio do Feirão do Alumínio, da antiga Farmácia Popular e das olarias do Sr. Orlando Birolli, José Meleiros, Armelindo Ferrari e Afonso Cáfaro. “É uma tradição que tem de ser mantida. Foi um acontecimento que marcou a humanidade, por isso sempre monto. Minha mãe nunca deixou de montar enquanto esteve viva, por isso, até hoje enfeito o túmulo dela com objetos de Natal. Só não coloco pisca-pisca no túmulo porque não tem energia”, comentou Cassimiro.
Paulo era o responsável pelos enfeites dos pinheiros que existiam na Praça Fernando Jacob, da antiga Coferauto, concessionária da Volkswagem – hoje Faria Veículos-, da Ford Fermasa e Ford Cargo – hoje Ford Wells -, que atravessava a avenida até onde hoje é Supermercado Sakashita, da Rossafa Veículos, concessionária da Fiat e em várias outras casas. “Eu era magrinho, subia lá no alto do pinheiro para colocar a estrelinha, Me chamavam de doido, mas deixa tudo impecável”, contou ele, que tem registrado o dia em que os dois pinheiros foram cortados pelo Corpo de Bombeiros.
Embora façam sua parte para manter viva a tradição e o espírito contagiante do Natal com as luzes, tanto Adauto, que enfeitou a casa toda, quanto Paulo que enfeitou sua árvore, percebem com tristeza o quanto a população tem se esquecido da tradição. “Infelizmente parece que as pessoas se esqueceram do espírito do Natal. Não se esforçam para no mínimo enfeitar suas casas e criar esse clima mágico que influencia quem passa. Já pesquisei quanto cada lâmpada gasta. A cada oito horas que fica ligado um conjunto, ele resulta em R$ 6,50 na conta de energia. Minha conta salta de R$ 107 para R$ 500, e mesmo assim faço questão de enfeitar a casa. Depois parcelo a conta em oito ou 10 vezes se precisar”, brincou.
“Desde 1984 eu enfeito minha casa. Fazia uma pirâmide de árvores de Natal na minha casa, depois fazia em cima do sobrado, e há oito anos faço na árvore. Sinto necessidade de enfeitar minha casa. Me sinto bem. As pessoas reclamam que é cara a energia, mas a motivação vai além do bolso. Enquanto eu tiver vivo vou me esforçar para melhorar a decoração ainda mais”, disse Paulo.
Para quem não teve o prazer de conferir a decoração de ambos, basta passar pela Avenida dos Arnaldos, entre as Ruas Leonildo Alvizi e Paraná. Sendo de forma simples ou não, os dois resgatam, à sua maneira, a tradição natalina e cada pessoa que se impressiona e registra uma foto ratifica o quão influenciador e contagiante é o Natal.