Quem encerra a Série Som da Terra do CIDADÃO é um músico que possui um grande prestígio em Fernandópolis tanto pelo trabalho de qualidade musicalmente desenvolvido, quanto pelo benefício social provocado por meio de seu esforço infindável. Luís Fernando Paina é daqueles seres humanos que amam tanto o que fazem que às vezes deixam seus benefícios particulares para se dedicar por um ideal. Neste caso, seu altruísmo, que começou logo criança, beneficiou e beneficia até hoje a Osfer – Orquestra de Sopros de Fernandópolis-, da qual é diretor artístico e maestro.
Com dificuldades financeiras para sobreviver em São José do Rio Preto, onde Luís Fernando nasceu, em 22 de agosto de 1973, a mãe Mercedes Paina, empregada doméstica, rumou a Fernandópolis com a irmã Neusa, que dizia que a cidade era melhor para conseguir emprego. Dito e feito. Porém, embora tenha conseguido trabalho no Hotel Estoril e em outras casas da cidade, a dificuldade era grande, já que Luís Fernando tinha seis anos e ela ainda tinha de cuidar de uma irmã especial e do sobrinho de um ano. Assim, o maestro começou a estudar na Saturnino Leon Arroio, onde ficou até terminar o ensino médio. Já com oito anos ele era o homem da casa e passou a adquirir responsabilidades que lhe ajudariam para o resto da vida. Assim sendo, ele fazia geladinhos com ‘ki-suco’ que a mãe comprava e saía para vender na rua. Isso quando não vendia algodão doce ou latinhas. Porém, com uma resistência muito baixa, Paina adquiriu uma alergia por estar em contato direto com lixo e deixou o “bico”. Mas, precisando ajudar em casa, e ainda comprar materiais escolares, ele conseguiu emprego aos finais de semana na roça de algodão, que lhe rendia uns trocados.
Logo, a mãe conheceu João Capobianco, que se tornara o verdadeiro pai do maestro, que não possuía contato com o pai biológico – que mais tarde ficara sabendo que era músico instrumentista, por ironia do destino ou por ‘veia’ mesmo-. Com o pai em casa, as coisas melhoraram um pouco, e o maestro passou a ajudá-lo a lavar a frota da Cesp – Companhia Energética de São Paulo-, nos finais de semana, no Auto Posto Fernandópolis (do Folchinni), o que lhe rendeu o convite por parte de Zé Preto para trabalhar meio período. Frentista aos oito anos, ele ficou no emprego até os 14, onde sofreu com o preconceito por ser muito novo para abastecer os veículos. Além do dinheiro apanhando algodão e das várias ‘gorjetas’ no posto, por ser criança, Paina ainda vendia sabão que fazia com sebo que ele adquiria no curtume.
E o esforço do garoto uma hora se cruzou com a música, o que forjou um grande maestro, respeitado por onde passa. Claro que além da dedicação, o dom também colaborara com Paina, que comprou uma flauta doce na 3ª série. Com o instrumento, veio um livrinho de músicas para iniciantes, que seria ensinado 15 dias mais tarde na escola. O mais engraçado e ao mesmo tempo genial, é que o sempre esforçado, Luís Fernando aprendeu todas as canções sozinho treinando diariamente em casa e se desdobrando para entender os ‘furinhos’. Ao ver o talento do garoto, Manoel Marques Filho passou a dar aulas na escola com o intuito de garimpar novos músicos para a Corporação Musical de Fernandópolis. A turma que começou com 50 alunos de flauta doce, em um mês só restara Luís Fernando. Mas, por questões políticas, Manoel acabou parando de frequentar a escola. Todavia, anos mais tarde, o mesmo Manoel foi abastecer seu Fusca branco, e quem era o frentista? Justamente. E Paina foi convidado a continuar tendo aulas, mas, no horário do recreio. Manoel realmente apostava no garoto. Poucas aulas depois, mais uma vez Manoel teve de parar de ensiná-lo por questões burocráticas de seu trabalho na Prefeitura. Anos mais tarde, Manoel descobriu que Paina estava trabalhando na Cerealista Rondom, porém já com 17 anos. Sem horário para aprender, as lições eram tomadas nos horários de almoço e no fim do expediente por Manoel que ia até a cerealista. Nessas idas e vindas, ele passou a integrar a corporação e com quatro meses de aula já participava dos ensaios que eram realizados no antigo Centro Social de Menores. Morador do Vista Alegre, Luís Fernando Paina caminhava 6km (ida e volta) todas as quintas-feiras. Após um ano e meio, um anjo chamado Dourival Bortoleto passou a lhe dar carona ao saber do longo trajeto do rapaz.
Como passou a tocar também na Orquestra de Jales e como os músicos das bandas tinham salário na época, Paina deixou de vez o serviço no beneficiamento de café e passou a se dedicar totalmente à música e nunca mais parou. Nessa trajetória, deu aulas na Escola de Música RHM, tocou bailes com as bandas Estrutura 1, de Votuporanga e Banda Adventos, de Jales, além e acompanhar o casal fernandopolense Thito e Marli (destacados matéria anterior da série). Com o desejo de ter um maestro caseiro, o presidente da Corporação Hermes Bressan insistiu em Paina que se capacitou em Rio Preto, no Conservatório Mateus Amadeu Mozart e no Instituto Claritiano de Batatais (à distância) e também em Tatuí. Já regente, ele ainda participou do maior concerto musical do mundo Mid West Clinic, em Chicago-EUA. Além da música ele ainda achava tempo para estudar na Funec de Santa Fé do Sul, onde se formou em Educação física, quando tinha de escolher entre jantar ou tomar banho, antes de ir, já que só tinha 15 minutos para se ajeitar. Na área, chegou a trabalhar na APAE de Fernandópolis, uma das experiências mais marcantes de sua vida.
Como os músicos tinham a cultura de receber para tocar, quando entrava um prefeito e cortava o auxílio financeiro, o projeto parava. Isso até Fernando Paina assumir com “maestria”, com perdão do trocadilho. Ele garantiu que quando assumisse o projeto abriria mão de salário para que fosse investido em estrutura física, manutenção de instrumentos e a criação e uma escola de música para desenvolver um trabalho sério, onde os aprendizes se tornariam os músicos da Osfer com o passar do tempo. Em 2000 surgiu timidamente a Osfer, que contava com uma verba de R$ 3 mil, porém anualmente. Pasmem! Com muito esforço e provando seu trabalho altruísta, as coisas melhoraram e hoje o valor é 50 vezes maior, ou seja, R$ 150 mil anuais. E esse altruísmo pode ser visto não apenas por Fernando ter feito tudo isso e ainda assim ter sido exonerado em 2013 pela Prefeitura continuando os trabalhos, mas também pelo fato de que, de 2000 para cá, quando criou a Osfer, com verba ou sem, a banda nunca mais parou e hoje conta com 200 alunos arrastando grandes públicos por onde tocam. Hoje, com método pedagógico definido, a Osfer conta com a banda jovem, a Orquestra principal e uma orquestra iniciante de flauta doce, instrumento que lhe abriu as portas para o mundo da música.
Respeitado em todo território nacional como maestro, Paina é um exemplo de dedicação e amor à música. Batalhou, cresceu na dificuldade, e hoje colabora com a formação de vários jovens músicos e cidadãos de bem e reforça a frase de que “todos podem cair, mas somente os fracos permanecem no chão”.
Nome: Luís Fernando Paina
Cidade natal: São José do Rio Preto
Esposa: Karen Eliza Pereira Paina
Filhos (as): Luis Felipe
Profissão: Educador musical/músico
Comida predileta: Arroz, feijão e abóbora apimentada
Um hobby: Assistir séries
Um esporte: Voleibol
Uma música: Cinema Paradiso
Um cantor: Djavan
Um ator: Tom Hanks
Um ídolo: Minha mãe Mercedes
Um político: Nenhum
Um filme: À espera de um milagre
Um perfume: Azzaro
Uma frase: “Cada um dá aquilo que tem”
Um personagem marcante: Manoel Marques Filho
Um defeito: Crítico
Uma qualidade: Cauteloso
Um programa de TV: Trato Feito
O que gosta de fazer nas horas vagas: Brincar com meu filho
Do que tem saudade: Da minha mãe
Um sonho: A Osfer ter tudo aquilo que merece
Fernandópolis é: Minha realização de vida