Maestro Thito: uma paixão, um destino traçado e um presente para Fernandópolis

20 de Agosto de 2025

Compartilhe -

Maestro Thito: uma paixão, um destino traçado e um presente para Fernandópolis

Sem sombra de dúvidas Fernandópolis foi agraciada em 1999 com a chegada de Francisco Ferreira de Souza, o popular Thito. Após formar-se em Direito pela Unicastelo, motivo pelo qual lhe seduzira a vir à Terra Moça, ele ainda foi vendedor de publicidade na extinta Folha de Fernandópolis e professor de música na RHM. No entanto, em 2004, motivado pelo músico e atual presidente da Câmara André Pessuto, à época na Secretaria de Cultura, iniciou um grande trabalho de extrema valia para Fernandópolis, não apenas no âmbito musical como também social e pedagógico: a Orquestra de Violeiros.

Com esse presente do destino, em mais uma dessas histórias de benefício recíproco, ele se reencontrou fazendo o que sempre amou e em troca Fernandópolis ganhou não apenas visibilidade regional com uma orquestra de qualidade como também um celeiro de novos talentos que são garimpados e disciplinados como cidadãos, orientados por um disciplinador nato, daqueles que gostam de tudo correto, conforme método de educação tradicional, hoje, infelizmente em extinção.

Nascido em Aparecida do Taboado-MS, no dia 10 de novembro de 1961, Francisco Ferreira de Souza trabalhou na roça com o pai até os 15 anos quando foi para Curitiba estudar e tentar ganhar a vida, onde o irmão recém-formado em medicina já se estabelecera.

Se primeiro contato com a música foi logo cedo, no entanto, ainda era apenas uma admiração. “Um dos meus irmãos comprou uma sanfona e eu ficava encantado, gostava muito, mas nem conseguia pegar porque a gente era bem raquítico naquela época. Para mim, aquilo era o fim do mundo (risos). Quando ia aos bailes de fazenda então, nem comia, já ia lá na frente e ficava vendo os músicos tocarem”, contou.

Embora o gosto estivesse no sangue, Thito não acompanhou a fase de músico do pai, que tocou em bailes de fazenda com sua sanfona “pé de bode, oito baixos”. Abatido pela morte de uma “tia-mãe”, que lhe criara, já que a mãe morrera no parto, ele se desfez de todos os instrumentos no mesmo ano em que o maestro nasceu. No entanto, ainda chegou a ensinar alguns acordes e a técnica de afinação ao filho, já com 14 anos. “Não cheguei a vê-lo tocar nessa época. Lembro que levavam sanfona para ele afinar. Mas somente depois quando um irmão lhe presenteou com uma viola eu fui ver, um ano depois de ter ido embora para Curitiba, quando fui passar as férias com ele”, lembrou.

Já na capital paranaense Thito trabalhou como office boy na gráfica da Universidade Positivo, onde também estudava. Fascinado por leitura desde pequeno, quando lia à luz de lamparina – a energia só chegou no sítio da família em 2006 -  e na roça, na hora das refeições, ele conseguiu um outro trabalho na Cooperativa do Livro, no setor de ciências agrárias da Universidade Federal do Paraná. Dois anos mais tarde foi trabalhar no Banco Francês e Brasileiro, quando iniciou a faculdade de Direito na PUC e já se arriscava a cantar em barzinhos, sozinho, incentivado por um garçom pernambucano, interpretando cantores da MPB como Zé Ramalho, Osvaldo Montenegro, Fagner, dentre outros que ganharam notoriedade na década de 80. Embora tenha nascido num berço sertanejo, Thito sempre apreciou este gênero musical e como o sertanejo não tinha tanto espaço nos barzinhos curitibanos, ele uniu o útil ao agradável. “Minhas raízes sempre foram Tião Carreiro e Pardinho, Milionário e José Rico e por isso, no fim da noite, acabava tocando algumas como ‘Saudade da Minha Terra’, enfim, mas sempre gostei da sonoridade destes cantores da MPB, tanto que gosto até hoje”, destacou.

Já no final da década, ele casou-se com a catarinense Marli Laskosky que fazia aulas de violão e, a pedido do professor, foi a um barzinho para vivenciar um show ao vivo e, foi aí que conheceu Thito Marques, com quem tem dois filhos, Otávio Augusto e Rafael Jesus. Nessa época, o maestro Thito voltou-se de vez para o sertanejo com a formação da dupla Thito Marques e Alessandro e deixou o banco. “Achávamos que já seria profissional, que tudo daria certo e começamos a fazer campanha política e tinha comício sempre, por isso larguei o banco. Era doido, agi no impulso. Foi a primeira aposta na música que deu errado”, lembrou.

Após um tempo parado, a dupla se reencontrou e logo gravou um LP na JWC, em São Paulo, influenciado pelo gerente da Volvo, onde Thito arrumara emprego através do parceiro Alessandro que já trabalhava lá. “Esse gerente, Osmar Verussi, investiu na gente e gravamos o LP na gravadora que tinha lançado o Só Pra Contrariar, a Helena Lin e de novo achamos que as coisas iriam fluir. Aí saímos do emprego, mas as coisas não deram tão certo quanto pensávamos, até pela ascensão do pagode no Brasil”, contou Thito que chegou a fazer outra campanha ao lado de Alessandro.

No entanto, a experiência com a política possibilitou que o maestro trabalhasse como assessor do deputado Carlos Simões, que conhecera na faculdade de direito e que foi quem sempre o incentivou a tocar sertanejo. No período de 1994 a 1998 ele ainda atuou como produtor do canal de tv CNT uma vez que chamou a atenção pela boa escrita -desenvolvida graças ao prazer pela leitura desde os tempos do roçado – na confecção de textos e pautas que iam ao ar na época de campanha. Nessa época ele conviveu com grandes apresentadores como Ratinho e Rolando Boldrin.

Ele ainda chegou a ingressar numa faculdade de Economia e tentar a vida como comerciante vendendo roupas usadas, CDs, revistas e jornais ao lado da esposa Marli, mas já desiludido com a política contou ao irmão sobre o desejo de deixar Curitiba e morar mais próximo do pai, já que a mãe havia falecido. Com o surgimento da faculdade de Direito na Unicastelo, Thito resolveu tentar a vida em Fernandópolis, onde logo arrumou emprego como vendedor de publicidade, como já destacado. “Eu até entreguei currículo na Unicastelo, mas o Dr. Agnaldo Pavarini disse que não tinha nada para mim, pois o currículo era muito bom”, contou aos risos.

Pouco tempo depois, Thito percebeu que Fernandópolis se tornaria sua casa definitivamente pelo fato de ter sido valorizado e se reencontrado com a música, de tal forma a nunca mais deixá-la. Ele conheceu o maestro Luís Fernando Paina, hoje líder da Osfer – Orquestra de Sopros de Fernandópolis-, com quem montou uma orquestra na Unicastelo. Anos mais tarde, já dando aulas de violão e canto na cidade, e com potencial reconhecido pela sociedade, foi convidado para criar a Orquestra de Violeiros da cidade.

No entanto, o contato com a música foi muito além das Orquestras e das aulas. Ao lado da esposa, ele animou as noites de Fernandópolis e região fazendo um dueto que ainda causa nostalgia em quem acompanhou.

Hoje, à frente das orquestras de Fernandópolis, Guarani D’Oeste e São João das Duas Pontes, Thito ajuda se desdobra como pode para atender a grande demanda de alunos o que o procuram para aulas de violão, viola, sanfona e canto. Tal valor de seu trabalho junto à Orquestra ainda lhe rendeu uma Moção de Aplausos, concedida pela Câmara Municipal em 2011, coroando o reconhecimento que encontrara em Fernandópolis.

Com a frase adaptada por ele de que “às vezes vamos ao encontro do destino pela estrada na qual queremos fugir dele”, o maestro Thito é a prova de que por mais que pense em largar da música, quando o destino está traçado e tem ela na composição do DND, o sucesso profissional está fadado a ocorrer, por mais tardio que pareça ser.