Kaká Brandão: mais de 30 anos conseguindo sobreviver da música

20 de Agosto de 2025

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Kaká Brandão: mais de 30 anos conseguindo sobreviver  da música

Viver de música sem se tornar uma celebridade realmente parece utopia. Por mais competente que seja o músico, é difícil acreditar que alguém consiga ganhar o sustento com sua própria arte, não apenas pela desvalorização do mercado da música, mas também pela vida em função do público, do distanciamento da família e da rejeição dos que não curtem o gênero musical escolhido por você.

Em meio aos percalços e, por vezes, o não reconhecimento, o amor à música sempre prevalece, e no caso de Carlos Alberto Brandão, o Kaká, mais ainda, até porque talvez ele seja um dos poucos em Fernandópolis a conseguir sobreviver de seus shows.

O cantor se orgulha de ter conseguido o feito de estar há mais de 30 anos em Fernandópolis cantando e, consequentemente, ter criado os dois filhos, Thaynara e Thyago.

Em Fernandópolis desde 1987, onde chegou para trabalhar como divulgador e vendedor de cursos de uma escola de computação (o IPI – Instituto Paulista de Informática), Kaká Brandão é um velho conhecido do público amante de MPB e Pop Rock. Embora no interior paulista, onde o sertanejo de raiz e, agora universitário, é o gênero predominante, o músico paulistano nunca mudou seu estilo por dinheiro. Sempre defendeu aquilo que gostava e hoje é referência na região quando o assunto é show de MPB.

“Sempre gostei de Caetano Veloso, Chico Buarque, Toquinho, Vinicius de Moraes, Ivan Lins, João Bosco. Continuo levando aos meus shows o melhor destes caras e o público gosta bastante. É um estilo ‘pra veio’ e que não morre nunca”, brincou Kaká, que não se nega a atender pedidos por flash backs e sertanejo raiz.

Nascido em São Paulo no dia 2 de dezembro de 1957, numa família de cinco irmãos, cujo pai e o irmão mais velho já eram músicos, Kaká aprendeu a respirar música o dia todo. O irmão mais velho, Valbueno, que toca nos bairros Vila Madalena e Pinheiros, na capital paulista até hoje, sempre gostou de MPB e de Rock, já o pai João Brandão tocava em um grupo de chorinho.

Com música vindo de todos os lados da casa, logo aos 16 anos Kaká passou a ajudar o irmão nos shows, época em que já se arriscava cantando em bares sozinho. Autodidata, ele rumou a Santos com seu violão logo aos 20 anos, onde passou a criar e vender bijuterias. Além dos manufaturados, ele ainda cantava em vários bares à beira da praia, o que lhe proporcionou segurança para levar sua mãe consigo, já que a mesma se divorciara do pai que morrera pouco tempo depois.

Já no fim da década de 70 ele ainda voltou a morar em São Paulo onde era o vocalista da Banda de baile Appa-Tota, que tocava em colônias japonesas às sextas e sábados, na região de Campinas e de Valinhos.

 Alguns anos depois, se mudou para Presidente Prudente onde continuou com as duas artes: o artesanato e a música. Lá, em pouco tempo teve o talento reconhecido e se tornou vocalista da Banda Som Brasil que fazia bailes em toda a região e até mesmo no estado do Paraná. Embora o campo de atuação para músicos pareça ter regredido, Kaká afirma que as coisas melhoraram de 1987 para cá. “Antes tinha menos casas de shows, vários outros artistas cantavam esse gênero que era mais forte. Agora diminuiu muito e há muitos cantores sertanejos, além do surgimento de outros gêneros musicais, por isso, para mim está bem melhor agora, pois muitos já conhecem e contratam”, afirmou Kaká.

Tão logo veio para Fernandópolis vender cursos, o IPI – Instituto Paulista de Informática-, fechou no ano seguinte (1988), e sem se desesperar, confiando em seu dom artístico, ele seguiu morando no Hotel Municipal (onde hoje é a Casas Bahia), vendendo suas bijuterias e se apresentando em bares onde logo ficou conhecido e fez bons amigos como Sérgio Kamiyama, Farelo (Pateis), Glauber, Vandão (in memoriam), Luizinho, Pantera. Com estes dois últimos, Kaká formou o que chamavam de “Trio do Pilão”, uma vez que eram a atração dos finais de semana no extinto “Café Pilão”, que ficava atrás da Igreja da Matriz.

Anos mais tarde ainda montou a Banda Mega-hertz, na época em que a Rádio Jornal FM realizava o nostálgico “Paquera na Avenida”. A banda de Kaká, que contava com Bebeco, Silas Tg, Carlinhos Batata e Nenê, chegou a fazer a abertura do show da Banda Camisa de Vênus, no Ginásio Querton Ribamar de Souza, o Beira Rio, completamente lotado pelos fãs de rock.

Com o Café Pilão fechado, Kaká passou a se apresentar frequentemente na região e se tornou figura carimbada no, também extinto, Kalamantan, em Jales.

Em 1990, casou-se com Márcia Regina Gavioli Brandão, e de lá para cá, passou a se apresentar apenas como Kaká Bradão, sendo acompanhado em alguns shows por Niltão e Glauber. Atualmente ele ainda toca na região, mas via de regra, se apresenta às sextas-feiras e sábados no Cupim na Telha com um repertório de cerca de 60 músicas, em um show que varia de 3h a 4h. Kaká também faz propaganda volante com carro de som, além de alugar som para festas em geral.

Questionado sobre um diferencial que o fez conseguir manter-se financeiramente apenas vivendo de sua arte, Kaká, de longe pareceu o músico desinibido dos palcos. Com uma simplicidade sem tamanho e certa timidez, paradoxalmente ele tentou responder. “Sou dedicado e acredito que muito abençoado”, disse Kaká, que é comparado a Caetano Veloso pelo timbre de voz suave.

De poucas palavras para falar de si mesmo, ele disse que viverá de música “até quando Deus quiser e, perguntado sobre o que a música representa para si nesses 30 anos dedicados a ela, ele foi categórico mais uma vez. “Música é liberdade. É minha vida. O tempo todo respiro música”, concluiu.

 

RAIO X

Nome: Carlos Alberto Brandão

Cidade natal: São Paulo

Esposa: Márcia Regina Gavioli Brandão

Filhos (as): Thaynara e Thyago

Profissão: Músico e empresário

Comida predileta: Comida italiana

Um hobby: caminhar e cantar

Um esporte: Futebol

Uma música: Papel Machê- João Bosco

Um cantor: Jorge Versilo

Um ator: Lima Duarte

Um ídolo: Jesus Cristo

Um político: Nenhum

Um filme: Entre o Céu e a Terra

Um perfume: Qualquer um amadeirado

Uma frase: “Desesperar jamais”

Um personagem marcante: Minha mãe Zilda

Um defeito: Falastrão

Uma qualidade: Amoroso

Um programa de TV: Globo Repórter

O que gosta de fazer nas horas vagas: Assistir TV, principalmente relacionado à natureza

Do que tem saudade: Da praia

Um sonho: Continuar fazendo o que faço

Fernandópolis é: um lugar bom de se viver, com qualidade de vida