Glauber Luiz Borrachini é mais um que sonhou em ser um jogador de futebol. No seu caso ele bem que chegou perto, mas o destino passou a lhe pregar peças, jogando-o de cabeça para o mundo da música, onde mais tarde lhe faria perceber que sua verdadeira paixão era os palcos, e que isso lhe traria satisfação profissional e pessoal.
Nascido em São Caetano do Sul no dia 8 de dezembro de 1969, Glauber ainda precisou se mudar para Rio Preto, Belo Horizonte, Foz do Iguaçu e Angra dos Reis até chegar a Fernandópolis, onde já havia tido uma breve passagem quando criança, já que o pai, até então consultor da OEA – Organização dos Estados Americanos-, viera para trabalhar como chefe de treinamento da Usina Hidrelétrica de Água Vermelha.
Em Fernandópolis, já com 11 anos, ele concluiu o ensino médio na EELAS e logo passou a ter aulas de violão com um senhor que entregava plantas na loja de seu pai. Glauber, que estava prestes a começar a fazer aulas em uma escola de música, aprendeu os princípios básicos do instrumento com o humilde fornecedor que se propôs a ajudá-lo. “Este senhor não tinha dois dedos da mão esquerda e tocava clássico no violão. Era inacreditável”, contou Glauber.
O restante dos ensinamentos sobre as técnicas o músico aprendeu na rua, em meio aos amigos com os quais mais tarde formaria uma banda profissional.
Com seus 16 anos, o músico resolveu correr atrás de um sonho comum com o de outros milhares de garotos brasileiros: se tornar um jogador de futebol. Ele passou a treinar nas categorias de base do FFC como meia direita e logo foi levado para um teste na Ferroviária de Araraquara. E passou. Mas, o que parecia um início de carreira, foi interrompido pela primeira ação do destino. Durante seu último final de semana em Fernandópolis, onde voltara para buscar suas malas e rumar a Araraquara em definitivo, Glauber Borrachini se envolveu em um acidente automobilístico e lesionou os dois joelhos, a coluna e ainda de “quebra” perdeu sete dentes. A caminhonete em que ele estava com o irmão Elton e um amigo foi colidida por um caminhão de carvão. Os amigos voltavam do Água Viva Thermas Clube, quando ao chegarem na alça de acesso da Brasilândia foram atingidos e lançados ao solo.
Um ano e meio de recuperação e Glauber já queria retomar o sonho novamente. Ele chegou a passar no famoso “peneirão” do Rio Preto Esporte Clube, mas se esbarrou no baixo salário na hora de firmar o contrato. De volta aos treinos do FFC, ele se profissionalizou e chegou a estar nos planos do clube para a temporada, mas acabou abandonando o time por não ter sido relacionado após três treinos atuando bem. “Quando a gente é novo já quer começar por cima. Como eu tinha sido aprovado no teste da Ferroviária e treinado ao lado do Marcão, que depois jogou no São Paulo e de jogadores que depois foram para o Corinthians, eu já queria jogar. Mas fiquei indignado no FFC e abandonei. Além disso nada dava certo. Em dia de amistoso me dava alergia ou alguma dor e eu fica impossibilitado de jogar”, contou Glauber.
Além das alergias e desconfortos em dias decisivos, Glauber ainda chegou a sofrer um outro acidente que lhe tirou dos campos por seis meses. “Eu estava indo ao estádio de bicicleta para treinar em um dia de chuva e caí ao passar em uma poça. Na queda eu bati o pulso num caco de telha e me cortei. Saí correndo igual o homem-aranha até a Santa Casa, jogando sangue para todo lado”, brincou.
Sua última cartada foi um retorno à Ferroviária de Araraquara, por intermédio do ex-jogador do FFC, Bereco. No entanto, pela terceira ou quadragésima vez, o destino voltou a agir contra o sonho de menino. “Consegui novamente voltar para a equipe, mas na véspera da minha estreia meus joelhos doeram demais, pois estavam inflamados ainda em decorrência do acidente. Aí foi a gota d’água”, contou Glauber aos risos.
Profissional, com passagens por três clubes, porém sem pisar no gramado em um jogo oficial, Glauber seguiu sua vida de músico que já estava começando com as bandas “Beco”, que tocava bailes, casamentos e barzinhos e a “Repto”, de rock and roll. “Fizemos muitos bailes e ganhamos dinheiro com a Beco. Já a Repto era mais por diversão mesmo, para tocar os rocks que a gente gostava”, destacou.
O grupo musical contava com André Pessuto, na bateria e no vocal, Sérgio Kamiyama na guitarra e no vocal, Fabrício Boni, no teclado e no vocal, Tuta na percussão e Glauber no contrabaixo.
Já submerso no mundo da música e apaixonado pela profissão que descobrira, o “fuçado” e curioso Glauber Borrachini se aventurou numa outra profissão correlata à música: a luthieria – arte de fabricar e reparar instrumentos.
Em meio a tantos reparos em instrumentos de cordas, Glauber resolveu criar sua própria marca de guitarra e chegou a fabricar 400 modelos da chamada “Cobein”, nomenclatura em alusão ao vocalista e guitarrista Kurt Cobain, da Nirvana, o qual Glauber possuía profunda admiração. “Meus ídolos eram o The Beatles, mas admirava o rock do Kurt, a energia que ele passava e inventei criei o nome da guitarra que eu fabricava”, contou ele, que ao lado do torneiro Sr. Orivaldo criou seus próprios maquinários de acordo com sua necessidade.
“Eu chegava a fazer 20 guitarras por mês e, embora pequena, era fabricação industrial. Vendi para Rio Preto, São Paulo, Fernandópolis, mas no interior se você faz no fundo de casa acham que deve vender barato, na capital o que é artesanal e feito de forma autônoma é mais valorizado. A mentalidade para a valorização é diferente”, ressaltou.
Engolido pelas gigantes fabricantes de guitarra, ele abandou o ramo de fabricação. Ainda chegou a tocar na “Poutz Grila”, uma banda de rock dos anos 60, mas ganhou notoriedade regional com a Banda Sr. Pestana, um dos grupos musicais que mais despontou na história da cidade. “Tocávamos em toda a região. Tudo que tenho hoje conquistei com a Sr. Pestana. Tocamos com o Ira na Casa de Portugal, com Bruno e Marrone, meses antes da fama, Eliana de Lima, fomos no Programa do Amaury Jr e gravamos nosso CD, que vendeu 1000 cópias, algo grandioso na época. Tentei de tudo para não pegar na enxada, até que deu certo com a banda”, destacou o músico.
Entre amigos, as presepadas não faltaram. No Programa de Amaury Jr, Glauber lembra aos risos da cara do cantor Pepeu Gomes ao entrar no banheiro que acabara de usar. “Me deu uma dor de barriga e eu fui ao banheiro. Nisso o Pepeu foi usar, bateu a cara e voltou para trás”, lembrou.
Baixista, professor e luthier, Glauber jamais desistiu da música. Após o desfecho de uma das mais notórias bandas de Fernandópolis, ele continua se apresentando nos bares ao lado do violonista Niltão com o “The Uglys” (Os Feios). “O cenário da música mudou. O sertanejo está mais valorizado, mas ainda assim, tem mais lugares para tocar. Todo mundo quer por som ao vivo, pois sabe que arrasta o público”, afirmou.
Atualmente, Glauber continua com sua firma de conserto de instrumentos de corda que fica na Rua Eurides Fração, nº 523, Coester. Agora realizado como músico, ele diz não se arrepender de não ter se tornado jogador. “O sonho vai mudando e o bom da música é que não tem prazo de validade. Pode fazer até morrer”, disse o sempre bem humorado Glauber Borrachini.
RAIO X
Nome: Glauber Luiz Borrachini
Cidade natal: São Caetano do Sul
Esposa: Cassiane Vendramini
Filhos (as): Letícia
Profissão: Músico/luthier
Comida predileta: Qualquer coisa menos verdura
Um hobby: Jogar futebol
Um esporte: Futebol
Uma música: Monte Castelo
Um cantor: Renato Russo
Um ator: Lima Duarte
Um ídolo: Elvis Prasley
Um político: Nenhum
Um filme: À espera de um milagre
Um perfume: Qualquer um
Uma frase: É sempre mais fácil colocar a culpa nos outros
Um personagem marcante: Meu avô Waldomiro
Um defeito: Pouca memória
Uma qualidade: Calmo
Um programa de TV: The Noite
O que gosta de fazer nas horas vagas: Assistir TV e comer
Do que tem saudade: Meu pai
Um sonho: Morar na praia
Fernandópolis é: Sossegada