Principalmente aos pais de primeira viagem, a hora certa de tirar as fraldas dos filhos e ensiná-los a usar o banheiro sozinhos é mais uma das várias dúvidas comuns na hora de cuidar das crianças. E este é mais um momento crucial na vida dos filhos, até porque o adiantamento do procedimento pode resultar em traumas que nem sempre são fáceis de reverter.
Você talvez já tenha ouvido falar que meninos demoram mais para largar a fralda que as meninas, o que é verdade. E o primeiro filho também demora mais a desfraldar, se comparado com o irmão mais novo.
Estudos já demonstraram que, quando se tenta adiantar o processo, o que acontece é que ele acaba levando mais tempo. Ou seja, o resultado é o mesmo, mas começar antes da hora dá muito mais trabalho, e é bem mais estressante para todo mundo.
O segredo do sucesso do desfraldamento é só começar quando a criança realmente já tem capacidade física para segurar as necessidades (ou seja, tem controle esfincteriano).
Para saber a idade certa em que os pequenos já podem se tornar mais independentes, CIDADÃO ouviu o médico pediatra Paulo Zucarelli, na profissão há 28 anos.
Qual a idade certa para o desfraldamento da criança?
Normalmente a criança vai estar pronta para sair das fraldas entre 2 e 3 anos de idade, mas tem crianças que conseguem antes e outras que demoram um pouco mais, isso no caso do desfraldamento diurno. Para tirar a fralda de criança é preciso que ela tenha percepção de ‘fazer xixi’, fazer ‘cocô’ e estes mecanismos neurológicos, musculares demoram a acontecer, então uma criança só consegue reter a urina mais ou menos em torno de 2 e 3 anos e o mesmo ocorre com as fezes. Somente nessa idade que ela tem uma musculatura apropriada e todo um mecanismo neurológico, para executar o ato de urinar e evacuar. O que se pode notar são alguns sinais; algumas crianças começam a ter percepção e segura bastante, urina poucas vezes por dia e quando faz xixi, faz bastante, ela sabe mais ou menos a hora certa de fazer, ou faz careta. Ela começa a aprender e está na hora de conversar com a criança, colocar ela no pinico inicialmente ou num vazo adaptado e mostrar para o menino como se faz, às vezes ele copia o adulto e normalmente esse momento se dá entre 2 e 3 anos.
No noturno, para a criança que urina na cama é um pouco diferente. Esse hábito noturno é considerado normal até os 5 anos de idade.
É correto orientar as crianças para tornar essa fase mais precoce ou é preciso esperar o tempo da criança?
Tem que ser no tempo da criança. O que vemos muitas vezes são pais ansiosos que acabam criando trauma na criança, algumas tem medo de sentar na privada, não gosta, então o vaso sanitário tem que estar bem adaptado ou o pinico, o ‘troninho’, mas a coisa tem que ser bem espontânea. Não adianta o pai querer que a criança ande com seis meses que ela não vai andar. O desenvolvimento neurológico da criança se dá da cabeça para os pés, por isso primeiro você senta, depois engatinha, depois fica de pé, depois anda, corre, e é o mesmo com as funções físicas, que chamamos de esfíncter, que são as funções de evacuação que estarão prontas nessa idade. Agora uma criança é diferente da outra, algumas conseguem controlar aos oito meses, já outras começam a controlar aos três anos, então essa ansiedade dos pais controlar é prejudicial à criança, isso cria um trauma, que pode ocasionar ressecamentos. Deve deixar a criança a vontade e quando chegar a hora a criança mesmo vai saber.
Se lembra de algum caso de uma criança traumatizada?
Ontem (terça-feira) mesmo eu atendi uma criança de cinco anos e que se recusa a se sentar no vaso sanitário, faz na roupa e precisei encaminhar para um psicólogo. É uma ansiedade que a criança cria, talvez até ansiedade dos pais. Talvez também por ela ter evacuado fezes duras em um determinado momento, a criança traumatizou.
SAIBA MAIS SOBRE O MÉDICO
Formado em Medicina em São José do Rio Preto, sua cidade natal, Paulo Eduardo Zucareli se especializou em pediatria em 1987, no Hospital de Base da cidade e veio para região de Fernandópolis em 1990 para trabalhar em Macedônia. Ele iniciou os trabalhos em Fernandópolis pouco tempo depois no Postinho da Brasilândia, mas só se mudou para a cidade em 1998.
Quando se decidiu que queria ser médico?
Acho que bem novo. Desde os seis anos eu falava que queria ser médico. Sempre foi minha paixão, gostava mesmo e nunca quis fazer outra coisa.
O que mais lhe dá prazer na profissão de médico?
A parte boa é que se fizer a coisa bem certinha você se torna reconhecido, faz amigos. Atualmente eu atendo crianças cujos pais foram meus pacientes e me respeitam muito, tem admiração. O fato de poder melhorar a vida das pessoas, salvar vidas é a melhor parte da medicina.
Se lembra de algum caso em que se orgulhou de ser médico?
Temos orgulho todo dia. Às vezes você pega um paciente desesperado e nem é algo tão complicado, aí você conversa com a pessoa, explica a situação e ela reconhece seu trabalho e passa a confiar em você. Já salvei vida de muitas crianças. Tenho um caso em que uma criança de quatro dias de vida chegou aqui (Hospital das Clínicas) desidratada, a ponto de sofrer uma parada cardíaca e consegui, por um milagre, pegar uma veia dela. Precisei injetar o soro com uma seringa e após isso ela se recuperou muito rapidamente. Creio que se ficasse mais uma hora em casa ele teria falecido. Hoje tem quatro anos e é satisfatório vê-lo com saúde.