HC de Fernandópolis já realizou quase 45 mil mamografias

20 de Agosto de 2025

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HC de Fernandópolis já realizou quase 45 mil mamografias

No mês da campanha “Outubro Rosa”, que alerta para os riscos do câncer, pode se afirmar que as mulheres estão mais conscientes quantos aos exames preventivos do câncer de mama. O trabalho de conscientização tem sido fundamental, e os números comprovam que, além da diminuição no número de mortes pela doença, o público feminino tem buscado paulatinamente realizar a mamografia.

Nesta semana, foi noticiado um levantamento feito nos últimos cinco anos no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo com pouco mais de quatro mil mulheres que mostrou que 60% dos casos de câncer de mama foram identificados ainda no estágio inicial.

No que diz respeito à consciência das mulheres atendidas pela unidade do Hospital de Câncer de Barretos em Fernandópolis, também é possível afirmar que o pensamento quanto aos riscos da doença mudou e de forma visível. De 2013 para cá, o aumento no número de mamografias realizadas na unidade foi de 62%. Naquele ano, foram realizados 5.482 exames números que já foram superados em 2015, uma vez que até o último dia 30 foram contabilizadas 6.164 mamografias. Neste mesmo período em 2013, apenas 3.784 haviam sido realizadas.

O aumento acentuado foi percebido já em 2014 quando no mesmo período 5.614 mamografias foram realizadas.  Ao todo foram 7.831 exames naquele ano.

Vale ressaltar que os números correspondem a exames feitos na unidade em Fernandópolis, que também realiza por meio da carreta (Programa Rastreando Câncer) exames de mamografia. Na carreta, em 2015, já foram feitas outras 38.284 mamografias.

Para entender mais sobre a doença e a importância do diagnóstico precoce, CIDADÃO conversou com o médico radiologista Alexandre Vinícius Rodrigues da Silva, fernandopolense, que explicou as principais dúvidas sobre a doença.

O que é câncer? E por que ele se desenvolve na mama?

O organismo de uma pessoa é todo formado por pequenos tijolos chamados de células. Um tumor é um conjunto amplo de doenças que possuem algumas características em comuns sendo que, invariavelmente em todas as suas formas, encontramos um conjunto de células que assumem um comportamento atípico e distinto do que habitualmente esperaríamos dele. Por exemplo, um conjunto de células da tireoide que sofreram uma eventual agressão em seu núcleo passa a configurar um nódulo que pode secretar uma quantidade muito aumentada do hormônio tireoidiano ou, ao contrário, pode perder a capacidade secretora. Quando os tumores ganham a capacidade de multiplicar indefinidamente invadindo órgãos e se espalhando para outras partes do corpo, ele é chamado de câncer ou tumor maligno.

A mama, como todo o resto de nosso organismo, é formada por estes “tijolinhos” e eventualmente também pode sofrer uma alteração celular que promova o surgimento do câncer.

Na atualidade, a medida em que vivenciamos um aumento da difusão do conhecimento e da conscientização da importância da prevenção e do diagnóstico precoce, temos a sensação que há um aumento do número de casos da doença, isso ocorre realmente?

Não, definitivamente não. Ocorre que o câncer de mama se torna uma doença muito mais comum após os 40 anos. Com o advento das melhorias do saneamento urbano e da saúde pública, bem como do aumento da expectativa de vida da população em geral, as pessoas vivem muito além desta marca. Temos que lembrar que a pouco mais de 150 anos as pessoas morriam de Tuberculose, de Tifo, não haviam cuidados de higiene ou remédios naquela época e depois com a erradicação destes males, abrimos as portas para o século XX e para as doenças contemporâneas, a maior dentre elas, o Câncer. Essa sensação ocorre, então, por dois motivos, primeiro a pirâmide etária brasileira vem mudando gradativa e continuamente nos últimos 35 anos, na década de 80 tínhamos muito mais jovens e crianças comparativamente às pessoas de mais idade. Hoje, esse perfil mudou muito com a diminuição da taxa de natalidade e aumento da expectativa de vida, quase equiparando as faixas etárias e, portanto, concluímos que se há mais pessoas ultrapassando esta idade deverá surgir proporcionalmente mais casos da doença. Se você cair na falácia de dividir o número de doente pela população total (de todas as idades) você concluirá erroneamente que é melhor morar na Etiópia do que no Reino Unido, pois lá quase não tem câncer (esquecendo-se que lá também poucas pessoas atingem idade mais avançada). O segundo motivo é justamente o fato dos métodos de diagnóstico e de notificação terem evoluído muito, na época de nossos avós era comum morrer e não identificar a causa, hoje não mais.

Nós ouvimos muito dizer que o Câncer de mama é uma doença hereditária, recentemente a mídia expôs o caso da atriz norte americana Angelina Jolie. Quais são os fatores de risco para o Câncer de mama?

O fator de risco mais importante na gênese do câncer de mama é a exposição ao hormônio feminino conhecido como estrógeno, que estimula a replicação celular na mama. As mulheres, a partir da primeira menstruação (menacme) até a menopausa, passaram por um número variável de ciclos ovulatórios onde este hormônio age em ondas com picos que precedem a ovulação. O estilo de vida moderno estimula as mulheres a adiarem ao máximo a primeira gravidez ou até evitá-las, e, praticamente, obriga as famílias a repensarem o planejamento familiar reduzindo o tamanho da prole. Quando uma mulher engravida, ela anula temporariamente a ação do estrógeno, quando ela promove o aleitamento materno ela prolonga esse efeito por todo esse período, assim como resultado deste estilo de vida contemporâneo temos uma pequena, mas significativa, redução da proteção contra o câncer pela maior exposição ao estrógeno.

O segundo fator de risco que concorre para o surgimento da doença é o avanço da idade, ao longo dos anos ocorrem injúrias no núcleo da célula, mais especificamente, em seu DNA que é transmitido às células filhas pela replicação celular. O acúmulo destas alterações no código genético acaba por propiciarem as condições necessárias para iniciar o câncer.

O fator hereditário seria o terceiro fator de risco principal (além) dos citados acima. Ele ocorre quando as injurias genéticas que propiciam as condições que iniciam o câncer não são adquiridas ao longo da vida, mas são herdadas de um progenitor, esse era o caso da atriz citada. Na realidade, a quantidade de cânceres herdados em síndromes familiares corresponde a uma parcela pequena de todos os cânceres de mama que detectamos na população, só cerca de 5%, no entanto, quando é identificado a síndrome familiar o risco da doença se desenvolver aumenta absurdamente nos indivíduos daquela família.

Fatores de risco secundários são aqueles que inclui hábitos alimentares inadequados, obesidade, ingestão de álcool e tabagismo. Devo frisar que estes fatores secundários podem ser corrigidos, mas os principais não permitem o mesmo manejo e por isso o diagnóstico preciso e precoce é muito importante, sendo a melhor ferramenta para reduzir o risco de morte pela doença.

Mesmo que a paciente não sinta nada, é preciso fazer o exame preventivo?

 Os sinais e sintomas principais do câncer de mama são: nódulo endurecido e indolor que promove abaulamento ou retração da pele, que aumenta progressiva e continuamente (exclui-se os nódulos que surgem e desaparecem em determinadas fases do ciclo menstrual, para estes deve-se sugerir outras causas).

Descarga de líquido pela papila (mamilo) desde que espontânea, unilateral com característica de água cristalina ou com sangue (líquidos diversos como leite, pus, secreção esverdeada, bilateral ou a expressão voluntária sugerem outras doenças).

Espessamento/Endurecimento da pele da mama. Sugiro que na vigência destes sinais e sintomas, um médico de confiança, preferencialmente um mastologista que é o especialista desta área, seja consultado.

Aproveito para esclarecer que a dor mamária (mastalgia) seja ela de ordem cíclica ou não, não está relacionada diretamente com o câncer e a priori não deve ser valorizada na investigação da doença.

As pacientes assintomáticas, na faixa dos 40 a 69 anos, devem sim realizar exames de mamografia periodicamente como forma de rastreamento, isto porque o câncer de mama demora vários anos para apresentar sintomas e estes anos perdidos até a sua detecção permitem que ele evolua reduzindo a chances de cura. Enquanto uma mamografia bem realizada e interpretada pode detectar um câncer precocemente da ordem de poucos milímetros, um exame clínico minucioso promovido por um profissional treinado geralmente só consegue detectá-lo quando atinge 1 centímetro, sendo que há casos extremos, principalmente nos ermos de nosso país, onde a paciente não dispõem nem de recurso nem de esclarecimento e o câncer alcança medidas maiores que um limão, promovem úlceras na pele e se alastram para outras partes do corpo antes que a paciente procure ajuda, nestas localidades longínquas a doença ainda é cercada de muito estigma e preconceito, quadro este que lutamos incansavelmente para revertê-lo.

SAIBA MAIS SOBRE O MÉDICO

Alexandre Vinícius Rodrigues da Silva nasceu em Fernandópolis onde estudou nas escolas Coronel Francisco Arnaldo da Silva (ensino fundamental), em 1992 e no Colégio COOPERE (ensino médio) em 1995. Já no ano seguinte foi aprovado no vestibular de Medicina em Catanduva, na Faculdade de Medicina Fundação Padre Albino, onde estudou de 1996 a 2001. Realizou pós-graduação entre os anos de 2002 e 2004 no curso de Residência Médica e Estágio Reconhecido em Radiologia e Diagnóstico por Imagem na mesma faculdade.

Alexandre trabalhou de 2004 a 2010 como médico radiologista e preceptor de curso de residência médica em clínicas e hospitais nas cidades de São José do Rio Preto, São Paulo e Ribeirão Preto. Em 2008 foi aprovado em suficiência para obtenção do Título de Especialista em Diagnóstico por Imagem conferido pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Associação Médica Brasileira.

Dois anos mais tarde o médico foi convidado a participar do projeto de Prevenção e Diagnóstico Precoce do Hospital de Câncer de Barretos – Fundação Pio XII, vindo atuar na unidade situada na cidade vizinha, Jales, onde participou em tempo integral do Departamento da Radiologia de Mama. Em dezembro de 2012, todo o projeto de Prevenção e Diagnóstico Precoce foi realocado de Jales para a recém-inaugurada unidade da cidade de Fernandópolis onde atua.

 Quando se decidiu que queria ser médico?

Olha, eu não sei ao certo quando eu decidi ser médico. Na realidade, acredito que, quando se é jovem, a curiosidade, as experiências vivenciadas pela primeira vez, o ímpeto pela aprovação e tantas outras coisas que na adolescência assumem proporções épicas faz em nossos pequenos projetos transmutarem rapidamente de artista a astronauta, e no minuto seguinte você esquece tudo e quer ser juiz de direto. Sinceramente, eu acredito que não foi um desejo que me motivou, foi uma necessidade, eu acabei sendo impelido a trilhar o caminho que já percorri e agradeço ao Pai por ter a oportunidade de fazer algo que amo podendo levar a cura, a caridade e a dignidade a quem necessita.

O que mais lhe dá prazer na profissão de médico?

Olha, de verdade não paro muito para pensar sobre isso não, mas refletindo agora poderia te dizer que é a gratidão estampada num sorriso. Poderia citar que é o reconhecimento e a aprovação. A boa remuneração pelos esforços incessantes, porque não? Mas com sinceridade diria que ser médico é receber uma dádiva. O dom de sentir o próximo como ninguém mais, sentir a alegria e a dor, a felicidade na vitória de cada manhã superada na luta contra o invencível e a angustia da treva mais profunda da alma que se entrega. Já torci e rezei por desconhecidos e já chorei pelas perdas sabidamente inevitáveis. Em todos os casos sentir é, como sempre digo, às vezes, o bônus e às vezes o ônus na sina do médico e, enquanto eu continuar sentindo, eu saberei que continuarei humano e vivo.

Eu acho que médicos são pessoas abnegadas, ao menos todos deveriam ser. Acho que orgulho e vaidade não cabem na minha rotina, simplesmente faço aquilo que é preciso fazer com amor e atenção.