Impossível falar da Corporação Musical de Fernandópolis – hoje Osfer – Orquestra de Sopros de Fernandópolis – e não se lembrar do trompetista José Lazinho Antônio Nunes, 73, ou simplesmente Lazinho Palmeirense. Apaixonado pelo clube alviverde, Lazinho tem até carimbos com o escudo do time com os quais ele marca as folhas de cheque. A peculiaridade é tão tradicional – desde 1980- que certa vez o gerente do Banco Bradesco, onde o mesmo é correntista desde 1973, ligou para ele para confirmar a procedência de um cheque em seu nome que não possuíra o carimbo, em uma das raras vezes que ele esqueceu de deixar a marca palmeirense. Em outra passagem, a esposa de Lazinho, Maria Nilza Ribeiro Nunes, foi até o açougue com uma folha de cheque sem o carimbo e o açougueiro carimbou o símbolo do arquirrival Corinthians para fazer gozação com o amigo, o que o deixou furioso.
Embora seja muito conhecido na cidade pela paixão desenfreada pelo time do Palestra Itália, Lazinho foi um grande músico em Fernandópolis e integrou os áureos tempos da inesquecível Corporação Musical de Fernandópolis, à época conhecida como “Banda de Fernandópolis” e que hoje é a Osfer - Orquestra de Sopros de Fernandópolis, que no próximo dia 20 completa 45 anos. A banda durou até meados da década de 1990, ficando desativada por alguns anos até que o atual maestro Fernando Paina a reestruturou iniciando-a do zero, com jovens aprendizes que hoje fazem da Osfer uma das mais renomadas do estado de São Paulo.
Lazinho foi um dos grandes músicos que contribuíra, inclusive, para uma conquista histórica para Fernandópolis: o título estadual da categoria Sênior de um concurso de fanfarras e bandas chamado “bagunçando o coreto”, que era realizado na capital paulista. A Banda de Fernandópolis, chamada ainda de “furiosa” vencera a fase regional e recebeu o título no dia 16 de outubro de 1988, no Conjunto Desportivo “Constâncio Vaz Guimarães”, no Parque Ibirapuera. Naquela ocasião, Fernandópolis desbancou renomadas Orquestras de Angatuba, Jaboticabal, Embu Guaçu e a Banda Musical Maestro Rossini, por exemplo.
Lazinho tinha ao seu lado Acílio, Nilson, Jonas, Dorival, Japonês, João, Osvaldo, Luciano, Murilo, Joaquim, Edvaldo, Hermes, David, Fernando, Wanderlei, Pernambuco, Pedrosa e Manuel, regidos pelo maestro Lucas Guimarães.
José Lazinho Antônio Nunes chegou a Fernandópolis em 1966 para trabalhar em uma empresa de terraplanagem, na construção do trecho da Rodovia Euclides da Cunha (SP-320), que liga Tanabi a Santa Fé do Sul. No ano seguinte ele mudou-se para Jales onde ficou por oito anos. Na segunda passagem por Fernandópolis, onde está até hoje, ele conseguiu emprego na Retífica São José em 1971, como mecânico montador de motores, onde ficou até se aposentar, em 2005.
Embora tenha relutado a aprender tocar o famoso “pistão”, a música sempre esteve no sangue do palmeirense que já tinha influência do pai, do irmão e da família da mãe. “Meu pai e meu irmão tentaram aprender pistão, mas não vingaram. E acabei conseguindo”, contou ele.
Lazinho nasceu em Santo Ângelo, distrito de Mogi das Cruzes, no dia 15 de fevereiro de 1942. Por conta de uma doença da mãe, Maria Mônaco Nunes, acometida por uma espécie de tuberculose, e da falta de recursos financeiros, Lazinho ficou por sete anos em um orfanato. Foi aí que se mudou para Cândido Rodrigues-SP e logo criança despertou a atenção do maestro da corporação musical daquele município, uma vez que tocava um pistão improvisado que consistia em um pedaço de mangueira com um funil na ponta, instrumento que ele tocava no estádio de futebol. “Toda cidade tem um arteiro. Eu fazia uma arruaça com o barulho e o maestro queria que eu fosse aprender a tocar algum instrumento de sopro, mas eu achava muito difícil, parecia que estava escrito em japonês as partituras”, brincou.
Em apenas seis meses de método (pebona), ele já tocava em festividades do município. Aos 16 anos aprendeu a profissão de mecânico num depósito de engarrafamento de pinga Catira. Ele ainda chegou a trabalhar na Ford de Taquaritinga onde aperfeiçoou as habilidades na profissão e também integrou a Orquestra daquela cidade após convite, assim como ocorreria mais tarde em Jales e Fernandópolis.
Com saudade, ele se lembra dos tempos da “furiosa”, sem saber o que lhe causa mais nostalgia. “Tenho saudade de tudo, dos maestros, dos músicos, das apresentações, era tudo muito bom”, disse emocionado.
Porém, a música também lhe trouxe alguns vinténs tocando os carnavais. “Na época do Carnaval em que eu tirava férias da retífica chegava a ganhar três vezes mais que o salário de mecânico montador. Consegui muitas coisas na cidade graças a música, por isso sou grato a Fernandópolis por tudo que tenho hoje”, contou Lazinho.
Pai de dois filhos, Fábio e Fabrício, o músico tem hoje como diversão os três netos, a sempre sorridente esposa a quem chama de Tereza – em alusão ao Orfanato Santa Terezinha- e a boa e velha televisão, onde passa o dia todo acompanhando os bastidores esportivos. “Assisto as notícias do Palmeiras o dia todo. E ai da Tereza se passar na minha frente quando eu estou assistindo o Verdão. Até um mosquito se passar em engulo ele”, disse aos risos.
Com carisma e bom humor invejável, Lazinho Palmeirense é mais um músico que cravou seu nome na história da música fernandopolense.
RAIO X
Nome: José Lazinho Antônio Nunes
Cidade natal: Santo Ângelo, distrito de Mogi das Cruzes
Esposa: Maria Nilza Ribeiro Nunes
Filhos (as): Fábio e Fabrício
Profissão: Mecânico montador de motores aposentado
Comida predileta: Arroz e feijão
Um hobby: Assistir aos bastidores esportivos
Um esporte: Futebol
Uma música: O Ébrio – Vicente Celestino
Um cantor: Nelson Gonçalves
Um ator: Tony Ramos
Um ídolo: Minha mãe
Um político: nenhum
Um filme: Marcelino Pão e Vinho
Um perfume: Qualquer um da Natura
Uma frase: Amigo, palavra doce de se pronunciar, difícil de se encontrar
Um personagem marcante: Minha esposa
Um defeito: Impaciente
Uma qualidade: Ser palmeirense
Um programa de TV: Os Donos da Bola
O que gosta de fazer nas horas vagas: Assistir programas esportivos
Do que tem saudade: Da infância
Um sonho: Ver o Verdão ser campeão mundial de novo
Fernandópolis é: Minha terra