Tim Marques: a lenda viva do acordeom

20 de Agosto de 2025

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Tim Marques: a lenda viva do acordeom

Quem abre a Série Som da Terra de CIDADÃO é Laudecir Aparecido Stefanini, 60. Por este nome poucas pessoas o conhecem, no entanto, quando se fala em Tim Marques logo se ouve: “ah, o sanfoneiro”, “rapaz, toca muito esse Tim”. A fim de homenagear e trazer a tona histórias que merecem ser contadas, CIDADÃO inicia uma nova série com talentos da música fernandopolense, começando por Tim Marques, considerado por muitos o maior sanfoneiro que a cidade já teve – e tem.

Nascido no dia17 de junho de 1955, em Monte Aprazível, numa família de 12 irmãos, Tim Marques passou sua infância em Meridiano, onde o pai Paulo Stefanini, lavrador, comprou um sítio em 1956. Por ter paralisia infantil, que lhe causara uma limitação física na perna esquerda, o jovem Tim não conseguia ajudar o pai na roça, muito embora, se esforçasse ao máximo nas demais tarefas do campo. Dada a dificuldade e compreensão do pai, em uma época em que os filhos homem tinham de enfrentar a lida ao lado do homem da casa, Tim Marques começou a estudar música, propriamente a sanfona, em 1971 na Escola de Música Santa Cecília, em Fernandópolis, graduando-se cinco ano mais tarde. Apaixonado pela arte, chegou a formar-se em violão clássico na mesma escola em 1980. “Meu pai tocava um pouco de sanfona e comprou uma para meu irmão mais velho, mas como ele não levava jeito acabei pegando para mim”, lembrou ele.

Já em Fernandópolis, com um grande talento para a coisa, passou de aluno a professor e deu aulas na Santa Cecília até o ano de 1989. “Minha limitação nunca me atrapalhou. Claro que se me chamar para correr eu não dou conta e se uma vaca correr atrás de mim para me pegar ela pega mesmo (risos). Mas, me considero um cara perfeito, faço de tudo e creio que Deus pensou: ‘vou deixar as mãos desse moço livres para ele ganhar dinheiro”, destacou Tim.

Já habituada à cidade, o músico constituiu família. Casou-se – em 1980 - com Sônia e teve três filhas, Tatiane, Lidiane e Daiane. Ainda com alguns alunos particulares, no mesmo ano em que deixou de dar aulas na escola de música, ele passou no concurso público da Prefeitura de Fernandópolis onde está até hoje, no setor de patrimônio.

Tocando em bailes e diversas festas com duplas sertanejas, o chamado “free lancer”, ele também criou uma banda chamada “Som da Terra”, após uma experiência de cinco anos como sanfoneiro da Banda Tropical, que animava festa em toda a região.

Com teclado, duas sanfonas, guitarra e violão, a Som da Terra durou até 2010, quando Tim a vendeu para se dedicar um pouco mais a família, uma vez que o grupo se apresentava todas as sextas-feiras, sábados e domingos em uma agenda alucinante.

Inspirado por sanfoneiros de renome, Tim Marques sempre levou jeito para a coisa. “Era o instrumento que mais me chamava a atenção e naquela época a sanfona nem era considerada tão importante quanto é hoje. Era fã de Zé Betiol, Mário Zan, Luiz Gonzaga, Nardele, Tonico e Tinoco, Pedro Bento e Zé da Estrada, Zilo e Zalo, Zé Fortuna e Pitangueira e o sanfoneiro deles, Zé do Fole”, lembrou.

Embora a vocação e paixão pela música tenha proporcionado a chance de viver da arte de tocar seu acordeom, Tim Marques não esconde que gostaria de ir mais longe. “Hoje sou realizado, ainda vivo da música, dou aulas, faço bailes da terceira idade em toda região tocando sozinho, tenho um certo respeito do público que elogia bastante, mas gostaria de ter ido além, ter sido um músico profissional, tocado com grandes duplas. Creio que eu tinha talento para isso, mas como meu pai não deixava ir para São Paulo naquela época acabei deixando esse sonho de lado”, disse.

Embora se considerando amador, Tim Marques gravou três discos com  a dupla Armando e Armado, o que lhe rotula como músico profissional, além claro, da formação profissional. Quando perguntado o que lhe diferencia tanto dos demais sanfoneiros da cidade para ser considerado o melhor, com muita humildade ele despistou a reportagem do CIDADÃO. “Pra mim é uma felicidade ter tido a oportunidade de ter estudado música. Considero um privilégio ter aprendido a tocar em uma escola de música. Aprendi muitas teorias e talvez isso faça superar os demais, mas conheço muita gente boa na sanfona. Minha alegria é saber que muitos confiam no meu trabalho. Quando ficam sabendo que sou eu quem vai tocar determinado baile logo dizem: ‘ah, é o Tim, então vai ser bom’. Isso é gratificante”, destacou o sanfoneiro.

Ao falar do atual momento do instrumento no cenário musical, Tim lembra que poucos jovens queriam aprender a tocar o acordeom. “Quando estudei, me formei em uma turma de seis alunos, eu e mais cinco mulheres. Os jovens não queriam estudar. Daí uns anos as duplas passaram a trazer sanfoneiros, bandas de forró do norte e de uns 20 anos para cá os sanfoneiros ganharam maior valor na mídia. Todas as duplas tem um, mas o estilo é outro. Na minha época o sanfoneiro gravava discos, era solistas, um CD todo tocado por ele sem voz. Os sanfoneiros criavam músicas e não apenas compunham as bandas como hoje em dia”, comentou ele, lembrando seus preferidos neste estilo, Dominguinhos e Sivuca.

Conservando o rótulo de bom sanfoneiro, Tim Marques conserva também um jeito simples de moço do interior e coração solidário de fernandopolense quase nato. Além de dar aulas particulares e fazer alguns bailes da terceira idade ele está sempre à disposição de entidades da cidade para contribuir com o talento que Deus lhe deu.

 

Nome: Laudecir Aparecido

Stefanini

Cidade natal: Monte Aprazível

Esposa: Sônia Stefanini

Filhos (as): Tatiane, Lidiane

e Daiane

Profissão: funcionário público

e músico

Comida predileta: ovo frito

Um hobby: pescar

Um esporte: futebol

Uma música: Brasileirinho

Um cantor: Fagner

Um ator: Lima Duarte

Um ídolo: minha mãe

Um político: Paulo Maluf

Um filme: Dois filhos de

Francisco

Um perfume: Kaiak

Uma frase: O amor supera tudo

Um personagem marcante:

Zacarias

Um defeito: insegurança

Uma qualidade: amor ao próximo

Um programa de TV: noticiários

O que gosta de fazer nas

horas vagas: ouvir música

Um sonho: Ter um acordeom de qualidade e voltar a estudar clássicos

Do que tem saudade: meu pai

Fernandópolis é: minha vida