Raysa e Eloá: eficiência a serviço da Santa Casa

20 de Agosto de 2025

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Raysa e Eloá: eficiência a serviço da Santa Casa

Trabalhar faz parte da rotina de muitas pessoas e isso exige muita paciência, facilidade em conviver com outras pessoas diariamente, comunicação e eficiência, que geralmente é comprometida caso falte algum dos itens anteriores. Geralmente, a maioria das pessoas se mostra deficiente quando estão diante de alguém que possui alguma limitação, seja física, auditiva, visual, ou mental, e isso também pode comprometer o trabalho destes profissionais que se desdobram para, além de desempenhar sua função, entender e se fazer entender em relação aos que estão a sua volta, que nem sempre denotam o mesmo esforço.

No caso de Raysa Martins Leonel, 25, e Eloá Fernanda Stefani Topan, 18, digitadoras no setor de doações da Santa Casa de Fernandópolis, a labuta diária tem sido bastante tranquila em relação aos “normais” que atuam no hospital. Contratadas em junho, as universitárias surdas não só preencheram as duas vagas carentes da entidade como também agregaram qualidade à função. “Na realidade os deficientes acabam sendo nós, pois não dominamos a LIBRAS e eles é que se desdobram para se fazerem entender, enquanto nós pouco fazemos para entendê-los. Quando soube que elas trabalhariam no meu setor fiquei preocupada de não saber como me relacionar, mas foi tudo muito tranquilo e nunca tive dificuldade alguma”, lembrou Gildete Almeida Silva Gonçalves, encarregada da central de doações.

O trabalho de digitação e cadastro de cupons fiscais no Programa Nota Fiscal Paulista era feito por colaboradores fora do horário de trabalho e remunerá-los se tornou um entrave trabalhista. Por isso, foi preciso buscar dois funcionários que conseguissem fazer os cadastros com eficiência. “Quando decidimos que o certo seria contratar pessoas para executar esta função, nosso setor de recrutamento e seleção fez pesquisas em vários artigos de qual grupo de pessoas seria o mais adequado para esta função e tomamos conhecimento de que são as pessoas surdas pelo alto nível de atenção e  concentração. Foi aí que procuramos a APADAF e fizemos as entrevistas. E a contratação delas foi boa para o hospital como um todo”, disse Alexsander César de Oliveira, gestor de pessoas, que confirmou que fará o curso de LIBRAS justamente com outro funcionário de seu setor.

Seja presencialmente ou via Whats App, já que ambas leem e escrevem, a comunicação na central de doações jamais esteve prejudicada. “Nos comunicamos normalmente com as duas. Aprendemos a falar mais devagar, com pausas e até mesmo quando fiquei fora por duas semanas tudo correu normalmente no setor. É a quebra do paradigma do preconceito, pois prova que não é nada além de uma limitação assim como nós também temos e superamos. Está sendo um aprendizado trabalhar com as duas que tem nos feito crescer muito”, destacou Gildete.

Felizes por terem sido escolhidas no processo de seleção que avaliou seis pessoas, Raysa e Eloá, que nunca haviam trabalhado com carteira assinada, disseram estar felizes e que o trabalho é bem tranquilo e compatível com a limitação de cada uma. “Às vezes as pessoas falam rápido ou falam sem olhar para a gente e aí fica mais difícil de entender, mas é tudo bem tranquilo e estamos nos dando bem com todos. Sem contar que é uma grande oportunidade, já que existem vários outros jovens que estão em busca de emprego”, disse Eloá, estudante de Pedagogia que já havia feito um estágio de monitora do Fundap – Fundação do Desenvolvimento Administrativo.

Já Raysa, estudante de Estética e Cosmética, lembrou que se todos tiverem paciência limitação é superada facilmente e se mostrou muito satisfeita com seu primeiro trabalho. “Algumas pessoas não têm paciência com o surdo, existe um certo preconceito. Apesar disso, o trabalho que desenvolvemos é de mais fácil adaptação, não trazendo uma dificuldade maior, como trabalhar em uma loja de roupas, onde teríamos que interagir com pessoas sem a paciência de nos compreender. Essa oportunidade representa muito, pois eu ainda não havia trabalhado e é preciso ganhar dinheiro também”, brincou a jovem de Cassilândia que veio para estudar em Fernandópolis.

Um dos desafios para o presidente da APADAF - Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos de Fernandópolis-, Uilian Pezati é inserir os alunos ao mercado de trabalho. “Sempre divulgamos que a APADAF tem vários surdos que podem ser encaminhados para trabalhar. Nosso papel é mostrar que eles podem estar inseridos no mercado de trabalho, ganhar seu próprio dinheiro e constituir uma família. Sempre colocamos dentro deles que eles podem ser alguém na vida conquistando seus ideais assim como outros vários assistidos que hoje trabalham, são casados e tem filhos”, ressaltou Pezati.

Ele lembrou ainda mais uma valorosa lição de valor às oportunidades. “Quando elas souberam das vagas ficaram entusiasmadas e se dedicaram ao máximo. Virou uma correria, algumas nem tinham currículo e queriam de todo jeito aproveitar a vaga. Enquanto uns tem preguiça de trabalhar e tem oportunidade, elas tem muita vontade e poucas oportunidades. Se essa vontade fosse a mesma do lado de quem contrata seria muito melhor”, lembrou Uilian.

Essa vontade a qual o presidente se refere é em relação à Lei 8.213 de 24 de julho de 1991 determina no art. 93 que empresas com 100 ou mais empregados devem reservar um percentual de 2% a 25% dos cargos para pessoas com deficiência ou beneficiários reabilitados. Vale lembrar que praticamente nenhuma empresa em Fernandópolis cumpre tal legislação e a multa por descumprimento é de R$ 1.812,87.