Que o Brasil possui um talentosíssimo lançador de peso disco todos sabem, no entanto, o que poucos fernandopolenses têm conhecimento é de que o recordista brasileiro Ronald Julião, medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, foi descoberto por um fernandopolense. Sérgio Soares não tem apenas um “dedo” nessa conquista senão uma “mão” inteira.
Isso porque enxergou no garoto humilde, então com 12 anos, um talento nato e uma força incompatível para garotos de sua idade e aos poucos o lapidou de maneira a torná-lo um campeão, que mais tarde conquistaria praticamente tudo no esporte aconselhado pelo fernandopolense.
No último dia 23, em sua sexta e última tentativa, Ronald Julião lançou o disco a 64,65m. Foi o suficiente para ganhar a prata no Pan, mas não para se classificar para o Campeonato Mundial de Pequim (China). O brasileiro precisava alcançar 65,00m. De qualquer forma ficou a apenas 15cm do campeão jamaicano Fedrick Dacres, que alcançou 64,80m na terceira tentativa e melhorou em mais de 2,5m, seu melhor resultado no ano. Ele também foi medalhista no último Pan, com a medalha de bronze em 2011 nos Jogos de Guadalajara, quando ficou a apenas 1cm de conquistar a prata.
A conquista deixou o educador físico fernandopolense Sérgio Soares ainda mais orgulhoso de seu pupilo, que já possui um currículo considerável. Ronald Julião, 30, ficou com o 10º lugar no lançamento de peso e com o 6º lugar no disco em 2007, nos Jogos Pan –Americanos do Rio de Janeiro. Já no Sul-americano de Buenos Aires ficou com o ouro no disco e em 2011 se tornou o recordista brasileiro do peso (18,78m) e disco (63,30m), em Shenzhen, na Universíada, quando obteve a medalha de bronze no disco. Em maio de 2012, no Grande Prêmio Brasil de Atletismo, Julião obteve o recorde brasileiro do disco com a marca de 65,41 m, com a qual Julião poderia ter obtido o 4º lugar do Campeonato Mundial de Atletismo de 2011. Com isso, obteve a vaga olímpica.
Sérgio Soares, filho do delegado aposentado Dr. Luiz da Silva Soares e da professora e bióloga Luiza, também se aventurou no esporte, mesmo com a resistência dos pais, porém seu maior feito não foi como atleta e sim como professor. Formado pela Funec (Santa Fé do Sul), Sérgio foi aluno da Coronel, Sólon e EELAS, e foi medalhista em várias competições regionais de Atletismo, à época em que era treinado por Jurandir Rossafa, às 5h, sem estrutura alguma, e pelo técnico Clóvis Aparecido Ramos, que contribuiu com a conquista de uma medalha nos 400mts com barreira, prova que jamais havia realizado.
Já em 1997, Sérgio – também conhecido como Batista, Pancada, Serjão e agora Serjones, surgiu como um anjo na vida do garotinho Ronald Julião, para mudar radicalmente sua trajetória. “Fiquei impressionado com o tamanho e capacidade atlética dele, então com 12 anos e a força de vontade em não faltar um treino sequer, em baixo de um sol escaldante das 13h. Ele estudava na E.E Professor Sebastião de Oliveira Gusmão, onde eu dava aulas. Não gostava de futebol e nem praticava nenhum esporte de contato, mas vi aquela potência na minha frente, uma força descomunal, nata, e incentivei a praticar arremessos. Logo ele começou a vencer tudo que disputava, inclusive uma medalha de ouro nos Jogos Escolares, no Ibirapuera, o que abriu portas para se tornar um atleta federado. Também consegui levá-lo até o Projeto Futuro de onde saíram atletas de renome como, por exemplo, a Maurrem Maggi, e foi aí nossa separação”, contou o professor, que continuou acompanhando de perto a carreira de seu pupilo campeão.
No entanto, nem tudo foram flores nessa trajetória de ambos, e Sergio Soares lembra que as dificuldades continuam as mesmas. “Assim como eu enfrentei resistência dos meus pais em ser educador físico, eu e o Ronald enfrentamos resistência por parte do pai dele, o senhor Odair, que era exigente, queria ver as notas boas do filho e não via com bons olhos o futuro no esporte. No entanto, além disso tudo, enfrentamos a falta de reconhecimento, investimento, estrutura, trabalho de base, dentre outros”, lembrou.
Ainda assim, o apaixonado pelo esporte continua garimpando talentos e destaca que outros três atletas descobertos por ele já integram a seleção brasileira de natação.
Já o campeão olímpico Ronald Julião se prepara para a disputa do mundial em Pequim, na China, este mês e no ano que vem disputará as Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016.
Com um desejo intrínseco de retornar a Fernandópolis um dia, o educador físico que tanto pode contribuir para cidade deixou uma mensagem aos jovens atletas da cidade e quem sabe um dia não tenha seu caminho cruzado com o de algum deles, o que seria um grande feito para os promissores talentos da cidade. “Seja você quem for, seja qual for a posição social que você tenha na vida, a mais alta ou a mais baixa, tenha sempre como meta muita força, muita determinação e sempre faça tudo com muito amor e com muita fé em Deus, que um dia você chega lá. De alguma maneira você chega lá . Autoconfiança . Ayrton Senna estava certo”, destacou Sérgio Soares.