Quando se fala em telemarketing, o que vem à cabeça do brasileiro é, dentre outras coisas, “encheção de saco”. A venda de produtos e oferta de serviços nem sempre é bem-vinda em meio a correria do dia a dia e stresse elevado. Por isso, a atividade profissional sofre com preconceitos diversos, e os operadores de Telemarketing passam por maus bocados diariamente em seu ofício.
CIDADÃO buscou ouvir quem realmente lida diretamente com telemarketing.
Thaise Boaroto, 29, que atuou como operadora de telemarketing por nove anos na APAE – Associação de Pais e Amigos do Excepcionais-, atualmente integra a Central de Doações da Santa Casa de Fernandópolis e, ao invés de oferecer produtos comerciais, ela oferece a oportunidade da pessoa exercer o voluntarismo, o que a faz provar um lado um pouco mais adocicado da profissão.
Qual seu primeiro emprego como operadora de telemarketing e como surgiu a oportunidade?
Foi na APAE de Fernandópolis. Depois de ter saído de uma outra empresa, meu pai ficou sabendo da vaga na APAE pelo rádio. Eu participei da seleção e fui escolhida, talvez pela forma espontânea de falar.
Pensou duas vezes ao aceitar o cargo haja vista o preconceito que existe entorno da profissão?
Quando eu aceitei a proposta eu não conhecia a fundo o trabalho de um operador de telemarketing, então não tinha uma noção de que algumas pessoas poderiam ter algum tipo de preconceito.
Como se resumiria seu dia de trabalho na Santa Casa de Fernandópolis e como vê a importância deste setor na entidade?
Diariamente, entramos em contato com a população falando do trabalho que a Santa Casa desenvolve. Nesse contato, enfatizamos a importância da doação, que é destinada à compra de medicamentos, equipamentos ou até outros itens e pedimos a contribuição. Quando um doador diz “sim”, nós anotamos os dados da pessoa e explicamos como nosso mensageiro fará para buscar a doação. Sempre mostrando que essa ação pode ajudar a salvar uma vida, o que é muito importante pra gente. Além disso, depois de cada doação, entramos em contato para agradecer esse apoio.
Eu vejo que esse setor é uma porta para as pessoas que querem ajudar a Santa Casa. Com esse serviço, com a união dessas várias pessoas de bem, é possível conquistar algo de relevante para o hospital, já que o valor pago pelo SUS não é suficiente para cobrir o que gastamos para atender nossos pacientes.
Já foi ofendida em meio à ligação ou ouviu algo que a aborreceu?
Não, mas, infelizmente, temos todos os tipos de reações. Desde pessoas que se incomodam com nossa ligação, até aquelas que ficam por alguns minutos conversando porque gostaram do atendimento.
Em seu caso específico, você faz pedidos por doações ao invés de oferecer um produto ou um serviço. Ainda assim, enxerga o preconceito à sua profissão mesmo com a pessoa do outro lado da linha?
Não, preconceito não. Algumas pessoas até se surpreendem, porque recebem ligações oferecendo vários serviços que talvez não sejam do interesse delas e quando recebem a ligação da Santa Casa, por uma causa tão nobre, acabam tendo uma reação positiva. Até mesmo as pessoas que, naquele momento, não podem doar nos tratam com respeito, escutando as informações que passamos. Algumas até ficam surpresas quando falamos o tanto de pacientes que atendemos aqui. Poucas são as vezes que não somos bem recebidas.
Tem recebido mais “sim” ou mais “não”?
Infelizmente nesse trabalho ouvimos mais “nãos”, só que as pessoas que falam “sim” compensam todos aqueles que não puderam colaborar, seja por não terem condições naquele momento ou outro motivo.
Tem um ditado que diz: “o não nós já temos”. Então, partimos em busca das pessoas que podem e querem contribuir com a Santa Casa. Muitos entendem o valor que essa instituição tem para nossa região e que querem fazer algo pelo próximo e pela própria Santa Casa. Como disse, algumas ficam até surpresas quando informamos o trabalho que o hospital desenvolve e o tanto de pessoas que atendemos por dia. Quando você passa esse tipo de informação as pessoas até se assustam, porque não têm consciência da grandiosidade que é a Santa Casa.
Qual a estratégia para manter o dinamismo e alto astral na próxima ligação tendo acabado de receber um “não”?
Quando eu comecei, há 10 anos, quando eu recebia uma resposta negativa eu ficava nervosa, chegava a chorar e me perguntava se havia cometido algum erro. Mas com a experiência, eu fui percebendo que não era bem assim, que eu não precisava me martirizar, pois se alguém falou “não”, haverá uma outra pessoa que pode dizer “sim”.
Você já ouviu algum fato interessante ou algum relato positivo durante uma ligação?
Recentemente, tive um relato muito marcante. Eu liguei para a casa de uma senhora pedindo a doação e ela se emocionou, dizendo que esteve internada em nossa UTI e que se não fosse a atenção dos nossos profissionais, em especial a equipe de psicologia, ela não teria aceitado o tratamento. Pela ligação, ela demonstrou a felicidade por nossa equipe ter dado forças pra ela continuar lutando e que hoje ela está viva graças a esse carinho e doação de amor que ela recebeu. Isso me comoveu muito e me deu mais certeza que estamos trabalhando por algo bom, que fará bem ao próximo.