Você já deve ter presenciado ou até sido o protagonista da seguinte situação: você e mais alguma pessoa estão no mesmo local onde há pernilongos. No entanto, os insetos insistem em atacar preferencialmente um de vocês, ao invés de distribuir as picadas igualmente. É comum algumas pessoas brincarem diante desta situação quando são “mais atraentes” aos pernilongos, dizendo possuir “o sangue doce”, ou então ter o sangue “mais gostoso”.
Alguns estudos já davam conta de que o dióxido de carbono exalado pela respiração é um excelente convite às picadas, que pessoas com sangue tipo “O” atraem mais mosquitos, ou que mulheres grávidas recebem duas vezes mais picadas que outras pessoas. No entanto, é a primeira vez que uma base genética para a escolha de quem os mosquitos vão atacar foi identificada, no caso pelo estudo publicado na Revista Plos One, que sugeriu que “há componentes do DNA que são detectados pelo olfato dos insetos e tornam alguns indivíduos mais ‘interessantes’ do que outros.
Para verificar se odores individuais, controlados geneticamente, poderiam atrair os mosquitos, a equipe de pesquisadores britânicos escolheu trabalhar com gêmeos - que podem compartilhar a totalidade de seu DNA (se são idênticos) ou só parte dele (não-idênticos). Os 18 pares de gêmeos idênticos escolhidos foram amplamente preferidos na hora das picadas em relação aos outros 19 pares de gêmeos não idênticos utilizados no teste.
Os resultados da pesquisa, que utilizou mosquitos Aedes aegypti -o vetor da dengue- sugerem que os genes têm um papel fundamental para determinar o odor corporal e o quanto ele é atraente para os mosquitos. Cerca de 80% dos elementos químicos que produzem odor no corpo são determinados por componentes do DNA.
O professor da FEF – Fundação Educacional de Fernandópolis-, Oscar Farina Junior, que é biólogo e ambientalista, elogiou o estudo e considera a descoberta mais um grande avanço da ciência. “Conhecer a contribuição genética à essas predisposições, na minha opinião, seria a grande sacada do trabalho dos biólogos da London School of Hygiene and Tropical Medicine. Embora ainda não saibamos quais os genes que modelam essas escolhas pelos mosquitos, o trabalho surge como um avanço significativo para entendermos melhor estes efeitos e por consequência criarmos no futuro repelentes personalizados e mais eficazes”, destacou o biólogo, que é mestre pela Unesp em Biologia Animal.
Diante da afirmação que “o estudo não apagará as feridas causadas pelas picadas, mas ao menos trará uma explicação às pessoas”, Oscar lembrou a preocupação com a dengue, especificamente:
“De fato, muita gente já sofreu e vem sofrendo com os problemas causados por esses insetos, especialmente no que diz respeito a dengue, mas sabemos que de fato a situação não é aleatória como já se pensou. A alimentação, o tipo sanguíneo e recentemente a genética de um indivíduo podem deixá-lo mais ou menos
vulnerável aos pernilongos. Segundo a OMS -Organização Mundial da Saúde, quando a doença afeta 300 casos/100 mil habitantes é tratada como epidemia. Em nosso país, segundo o Ministério da Saúde a incidência é 367,8 casos/100 mil habitantes o que enquadra como epidemia. Ainda de acordo com a OMS, o país registrou 745,9 mil casos de dengue entre 1° de janeiro e 18 de abril deste ano. É um número muito expressivo na minha opinião. Falo da dengue, mas temos outras doenças que são veiculadas pelos pernilongos como a filariose, leishmaniose, febre amarela e malária. O estudo certamente serve para tirar conclusões para todas elas. Na minha opinião, o estudo em questão poderá contribuir como uma ferramenta a mais dentre outras que já temos, como a modificação de pernilongos e vacinas”, explicou ele, ressaltando mais uma vez a possibilidade da elaboração de repelentes mais eficazes.