Luciana Azevedo: a guerreira forjada pelas circunstâncias

20 de Agosto de 2025

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Luciana Azevedo: a guerreira forjada pelas circunstâncias

Alguns adágios populares dão conta de que “os verdadeiros heróis surgem nos momentos difíceis”. Desta maneira, Luciana Azevedo mostrou que realmente “Deus dá o frio conforme o cobertor” e descobriu uma força que nem ela mesma imaginou que tivesse. A mãe do garoto João Pedro, que faleceu no dia 24 de março, vítima de uma leucemia, provou do doce sabor da maternidade e do gosto amargo de perder um filho.
Mãe de João Pedro, 8, Ingridi, 5, e da recém nascida Isadora, ela se tornou um ícone de amor de mãe, passando por momentos de angústias e incerteza ao lado filho João Pedro que lutou pela vida até o último suspiro. Bastante emocionada, ela abriu as portas de sua casa para o CIDADÃO, e contou um pouco sobre a experiência de ser mãe.

 

Conseguiria resumir a palavra “mãe” em apenas três palavras?

Mãe é tanta coisa, mas...Em três palavras eu diria que é um “jeito incondicional de amar”

Ao se tornar mãe, você passou a dar mais importância a alguma orientação que sua mãe lhe dava e que você não entendia ao certo o motivo, dando pouca atenção?

Lembro que ela dizia: “não repara no filho dos outros que você também vai ter filhos um dia”, ou então quando mandava por blusa para sair de casa. Ela também ficava preocupada demais quando ficávamos doente, por mais simples que você. Agora eu entendo que mãe quer ver o filho bem. Tem sempre uma preocupação extra com a saúde dos filhos.

Lembra-se do momento em que soube que seria mãe pela primeira vez? Relate esse sentimento.

Lembro certinho, foi em 2006. Eu estava casada há dois anos. Quando imaginei que estivesse grávida fui fazer o exame por conta. Quando abri vi a cegonha e fiquei feliz da vida, meu coração disparou. Cheguei em casa o Cláudio (marido) estava lavando louça e não esqueço a cara dele quando eu mostrei o exame. Ele também ficou bem alegre, pois era um momento muito aguardado por nós. Por mais que você pense que está, não é nada certo, mas quando vê o exame aí sabe que é para valer. Eu era apenas filha aí pensei: “agora vou ser mamãe”. Muda muito a vida da gente.

O que mudou em sua vida a vinda do João Pedro? Seu comportamento mudou no dia a dia? Passou a ser mais amorosa?

Mudou muito. Com certeza sou muito mais amorosa, paciente...Passei a ver a vida de outra maneira, percebe que o filho é um ser dependente de você para tudo, um ser indefeso. Você apssa a dar mais valor em tudo e a vida ganha um novo sentido.

Lembra-se de alguma passagem em que seu instinto de mãe realmente funcionou?

Quando o João Pedro aparentemente sarou da primeira crise logo apareceu algumas manchinhas e ele se queixava de dor nas pernas, então lá dentro eu sabia que ele não estava totalmente curado e que começaria tudo novamente. Quando ele se queixava de algo logo vinha à minha cabeça: “já vi esse filme antes”. Outra passagem que nem gosto de lembrar, sobre intuição, que nem sempre é positiva, é que no ano passado fizemos a festa de aniversário dele e da irmã Ingridi, que são datas próximas (João Pedro 22/11 e Ingridi 9/12) e o João ganhou uma camisa branco de botão, muito bonita. E mesmo tendo muito esperança de que ele recuperaria, depois de tudo que já havíamos passado e que estávamos passando, com ele praticamente todos os dias no hospital, eu sabia exatamente quando ele utilizaria aquela camisa...e...
Sempre que a via no guarda roupa me vinha um mal presságio de que ele não teria tempo de vesti-la em um dia comum, e foi o que houve.

 

De que maneira vocês estão mantendo o sonho de outras crianças por um transplante de medula? As campanhas continuam?

O Cláudio tomou frente de tudo e estamos firmes como sempre foi, organizando campanhas, ações, buscando parceiros, finalizando o site, que terá várias informações sobre doação, transplante e muitas outras coisas que também não sabíamos. Seria muito egoísmo da nossa parte abandonar tudo o que plantamos e que vem dando resultado só pelo fato de nosso filho não ter suportado essa luta. Como sempre dissemos, a guerra continua e não queremos ver mais famílias sofrendo. Se está alo nosso alcance conseguir salvar uma criança que seja, faremos de tudo para isso.

Como foi a primeira vez que foi chamada de mãe?

Foi o João, mas na realidade não saiu bem a palavra “mãe”, foi mais ou menos “mã, mã” e começou a balbuciar. Mas foi lindo, mágico, emocionante.

Você e seu marido Cláudio passaram por dias exaustivos. O lado mãe falou mais alto para encontrar motivação e força para enfrentar um dia após o outro?

Com certeza, por mais difícil que tenha seja, você tem que passar por certas coisas, ver seu filho dizendo que não ir ao hospital e você ter que se fazer mais forte ainda para encorajá-lo por saber que ele encontrava forças em nós é bem complicado.  

É certo que um filho não substitui outro, mas a vinda de Isadora renovou suas forças?

Isso me machuca muito. A maioria dizia para não tentar ter outro filho, que a chance de não ser compatível existia e que filho era para a vida toda, mas quando você é mãe você não mede esforços para ver um filho bem e se havia aquela chance eu quis tentar. Às vezes fico imaginando tudo que podíamos ter vivido os três juntos. Fico triste pensando que só fiquei com os dois perto de mim no momento de uma foto que tiramos no hospital. O João dizia que não queria vê-la apenas por fotos, que queria tocá-la. Ele esperou tanto a irmã. Às vezes fico pensando nisso, fico triste e a bebê sorri, parece que querendo me alegrar.

Qual a mensagem você deixa para as mães guerreiras como você, nesta data especial?

Amar seus filhos acima de tudo, não medir esforços para vê-los bem. Quando engravidei da Isadora eu nem pensei se poderíamos financeiramente ter outro filho, se era certo. Mas, quando se é mãe não pensa em mais nada, quer ver o filho bem. Não sabemos até quando eles estão aqui com a gente, então peço para que amem primeiramente seus filhos, depois a si mesmas, porque ser mãe é cuidar, lutar, sofrer, chorar, é um misto de tudo. Tudo é dobrado, a alegria, a emoção e também a saudade.