Biblioteca: interesse diminui, carência aumenta, mas importância continua a mesma

20 de Agosto de 2025

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Biblioteca: interesse diminui, carência aumenta, mas importância continua a mesma

Um Decreto brasileiro datado de 9 de abril de 1980 instituiu no país a Semana Nacional do Livro e da Biblioteca, bem como o Dia do Bibliotecário. Por este motivo, o dia 9 de abril é conhecido como o Dia da Biblioteca.

Em caráter de curiosidade, a Semana Nacional do Livro e da Biblioteca é comemorada de 23 a 29 de outubro, e o Dia do Bibliotecário foi determinado para o dia 12 de março: data de nascimento do publicitário, escritor e poeta cearense Manuel Bastos Tigre, que exerceu a função de bibliotecário por 40 anos, sendo considerado o primeiro bibliotecário por concurso do Brasil.

Tendo em vista a data comemorada na última quinta-feira, CIDADÃO visitou a Biblioteca Municipal de Fernandópolis “Professora Cleusa Maria Papani de Queiroz” para conhecer a realidade de um dos locais mais importantes para a cidade. Embora tenha irrefutável importância, tanto para o bem estar mental quanto para formação cultural de uma pessoa, o interesse em recorrer aos livros e às pesquisas de maneira geral em biblioteca, tem diminuído com o passar dos anos.

Os números que outrora eram oscilantes, agora tem queda acentuada e recorrente. No início do novo milênio, a média de retirada de livros na biblioteca municipal era de 37 mil livros. Já em 2005, quando as mídias digitais passaram a tomar o espaço dos meios tradicionais na busca pela informação, ao invés do número cair ele seguiu o aumento. Foram 55.219 livros retirados.

No entanto, de lá para cá, com a disseminação exacerbada das mídias e mudança de hábitos desde os mais jovens, a queda tem sido notável. Em 2011, a retirada de livros foi de 48.197 com uma média de 14 mil consulentes, ou seja, o fluxo que utilizou a biblioteca tanto para leitura, quanto para pesquisas. Em 2012 foram 30.753 retirados e 354 novos inscritos (que fizeram carterinha). No ano seguinte o público consulente foi de 13 mil pessoas, com 29.659 livros retirados, 318 inscritos e 318 pesquisas. No ano passado a queda foi ainda maior. Apenas 23.709 livros foram emprestados, 257 pessoas fizeram suas carteirinhas e 183 realizaram pesquisas nas dependências da biblioteca.

Atualmente a Biblioteca Municipal de Fernandópolis, criada em 1º de abril de 1951, conta com 17 mil usuários cadastrados e um acervo de 36.484, além de gibis, DVDs, CDs, livros de banca, revistas, dentre outros. “Tivemos uma queda muito grande em termos de pesquisa e retirada de livros. Em outros anos, a média era de 5 mil livros emprestados a cada mês, fora o grande número de pessoas que vinha para pesquisar. Atualmente apenas um grupo de estudantes se reúne aqui para estudar em virtude do ambiente agradável e do silêncio”, contou Maria Lúcia Lacerda Borges,

bibliotecária desde 1974 e responsável pela biblioteca de Fernandópolis desde o dia 16 de julho de 1984.

Apesar de os números não serem tão animadores, ela fez uma importante reflexão na data comemorada na última quinta-feira. “E tenho certeza de que o livro nunca vai deixar de ser importante e nunca vai deixar de existir. Você manuseia, viaja, diferente de um filme que você vê e não viaja na sua imaginação. O livro é nosso respaldo, nosso sustento de conhecimento, com ele aprendemos a ler, escrever, discernir, discursar. A biblioteca, ao meu ver, é o bem mais importante de um ser vivo. Num acervo você tem todas as informações que precisa, do passado e do futuro. Claro que a internet e os livros digitais têm sua importância, te dá algumas opções que não temos na biblioteca, mas esse avanço da tecnologia e desenvolvimento intelectual deveria caminhar junto com a leitura de biblioteca”, destacou ela, que se considera uma apaixonada pela leitura.

Lúcia, que entrou na escola já sabendo ler e escrever, lembrou que o próprio Bill Gates, renome da tecnologia digital, declarou em uma de suas palestras “Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever – inclusive a sua própria história”. Outra frase que descreve bem toda essa importância da leitura, foi dita pelo célebre escritor Carlos Drummond de Andrade que citou: “A leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas por incrível que pareça, a quase totalidade, não sente esta sede”.

Porém, ainda assim, muitas bibliotecas carecem de incentivos para continuar sendo um local atrativo e condizente com seu benefício à sociedade, embora nem todos governantes levem-na a sério. Como a própria bibliotecária por formação frisou, “Uma biblioteca não pode sobreviver apenas de doações”. Em Fernandópolis as principais carências são a compra de novos livros – uma quantidade mínima é de lançamentos-, estantes, móveis – principalmente cadeiras já em mau estado de conservação-, internet (já que conta apenas com Acessa SP) e assinatura de jornais de circulação nacional.

Logo no início da atual gestão, a assinatura do Jornal Folha de São Paulo não foi renovada com a justificativa de que “uma biblioteca não precisa de jornal”. Embora sempre tenha havido leitores ávidos que liam o jornal na biblioteca, a Prefeitura enxergou no cancelamento da assinatura um reles e inaceitável corte de gastos, em prejuízo à Biblioteca, que tinha no periódico sua maior fonte de informação atualizada, sucinta e rápida.

De acordo com Maria Lúcia, a assinatura da Revista Veja só é possível graças a verba levantada com o pagamento de multas em detrimento dos atrasos em devoluções de livros.

Em meio às carências, queda no interesse e importância da Biblioteca Municipal, fato é que os dias da bibliotecária de Fernandópolis frente ao patrimônio estão com os dias contados. Em julho do ano passado completou-se 30 anos de serviços públicos prestados e em dezembro ela fez o pedido de sua aposentadoria, que deverá sair em pouco mais de um mês. Formada em Biblioteconomia pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, ela ainda nutre um sonho: escrever um livro. “Só não coloquei esse sonho em prática por falta de tempo. Preciso sentar, pensar e ir viajando”, disse ela com um largo sorriso.

A Biblioteca Municipal de Fernandópolis funciona diariamente das 8h às 19h (não fecha para almoço) e fica situada na Avenida Milton Terra Verdi, nº420 – Jardim Santa Helena. O telefone é o 17 - 3462 6153.