Indubitavelmente o acolhimento é ponto crucial em qualquer escola. De uma forma ou de outra a escola é a segunda casa de muitos alunos, e os próprios pais veem na instituição de ensino um local seguro onde deixar seus filhos. Todavia, em alguns casos, este acolhimento ultrapassa os níveis do que é considerado comum e a necessidade vital em contribuir de todas as maneiras com o aluno faz a escola desempenhar funções paternais, se é que esta é a melhor forma de descrever o que a E.E Professora Maria Conceição Aparecida Basso, representa para o Distrito da Brasitânia.
Pelos mais variados tipos de carência da comunidade em geral, os gestores, professores e funcionários de maneira geral se viram como pode, se doando muito além de suas atribuições para atenderem o aluno da melhor forma possível, tornando o local uma segunda casa, literalmente, até mesmo pelo fato de ser uma “Escola de Tempo Integral”. Além de escola, enquanto instituição de ensino, a Maria Conceição é uma opção de lazer, esporte cultura, de domingo a domingo. Isso porque o Programa Escola da Família representa um diferencial no Distrito, desprovido destas opções à comunidade. “O Programa traz tudo isso. Por ser um distrito, com pouco lazer e cultura, a Escola se tornou um diferencial do local, com prática de esportes, atividades à população e profissionalização em um espaço cultural. E isso, despertou um pertencimento na comunidade que têm um respeito notável pela escola. Aqui não há depredação, é um patrimônio conservado”, destacou a diretora Maria de Lourdes Porteira Sanchez Pussoli, que comprova este acolhimento com sua própria história.
Com a marca de incríveis 30 anos na escola, ela foi aluna no ensino fundamental, professora por 15 anos, e agora comanda a direção da escola.
Se em alguns casos, alunos não gostam de ir para escola, em Brasitânia a história é outra. Todos frequentam a Escola durante toda a semana, e ainda questionam quando ela não abre aos finais de semana, em casos de feriados. “No último domingo, por exemplo, em que a Escola ficou fechada em virtude da Páscoa, muitos não gostaram. Ficam tristes de verdade”, contou.
Embora não seja uma realidade muito animadora, outro fato que deixa explícito esse universo acolhedor é saber que muitos dependem quase que exclusivamente da refeição servida na escola, tendo-a como imprescindível no dia a dia.
Um outro diferencial da E.E Professora Maria Conceição Aparecida Basso é a atenção individual a alguns alunos que chegam à Escola com alfabetização prejudicada. Em virtude da região ser um uma potência agrícola, principalmente nos setores da cana-de-açúcar e seringueira, muitos nordestinos são atraídos pelas oportunidades de emprego, moradia, além de aluguel mais barato, e os filhos, são os mais carentes de uma educação de qualidade. “Recebemos um grande número de alunos do nordeste com índice de defasagem de ensino muito grande, alunos de idade avançada em séries inferiores e a gente procura fazer um acompanhamento bem próximo. Representam cerca de 15% do total de alunos – que é de 121 alunos -, quase três em cada sala. Os professores ajudam a recuperar essa alfabetização que vem bastante prejudicada. O foco principal é desenvolver a competência leitora e escritora deles. Todos profissionais da escola estão motivados para desenvolver essa competência nos alunos, pois entendemos que um aluno que lê bem, escreve bem, interpreta bem e vai se sair bem em todas as disciplinas”, explicou a diretora destacando a atenção individual que cada aluno recebe com apoio de um professor readaptado da sala de leitura que
trabalha individualmente, sistematizando a leitura e escrita, corrigindo falhas e tentando trabalhar o raciocínio lógico.
Segundo relato de uma professora, algumas crianças chegaram à Escola sem sequer saber cantar o “Parabéns”, uma vez que não possuíam tal hábito devido às condições financeiras da família. Neste caso, mais uma vez o papel de “segunda casa” da Escola é exercido, já que muitas famílias mandam o bolo e refrigerantes no dia do aniversário do filho e pede para que os educadores organizem a confraternização com os amigos de sala.
Este entrelaçamento com a comunidade é visto ainda nas reuniões de pais e mestres, cuja participação dos pais, segundo a diretora “Lourdinha”, é de 70%. “Nós consideramos uma boa participação e, além disso, quando não podem vir por motivos de trabalho eles nos procuram dias depois, assim que podem”, frisou a diretora.
Para exaltar ainda mais o tal lado paternal da instituição, Lourdinha, citou alguns casos de intervenção dos professores para que os alunos não abandonassem os estudos. “Alguns alunos ameaçam parar de estudar e a gente ‘cai matando’. Salvamos uma aluna no ano passado que ficou grávida no último ano do ensino médio. Levamos trabalho na casa dela, a professora mediadora levava e buscava. Um outro aluno queria parar para poder trabalhar na extração de látex na lavoura de seringueira e não deixamos, insistimos, envolvemos com outras atividades, pesquisas....Se não fizermos este trabalho a gente perde o aluno”, lembrou.
O desejo dos alunos em permanecer na escola também é notório nos casos de dois alunos com deficiência intelectual, que após integrados em salas regulares se adaptaram normalmente e possuem aprendizado até mesmo superior aos colegas de sala considerados “normais”. Um outro aluno portador de TOC – Transtorno Obsessivo Compulsivo-, também é um exemplo do universo acolhedor que a E.E Professora Maria Conceição Aparecida Basso se transformou. “O Lucas Henrique Liziero e a Joana Beatriz Silva dos Santos estudavam em salas especiais em outras escolas e vieram para cá. Mas não temos salas especiais, então integramos eles em salas regulares e tiveram uma evolução surpreendente. Outro aluno, o Alex Soares Godoy era agressivo, não aceitava o TOC, tinha dificuldade, não tinha noção de limite e respeito, não lia. Agora é um exemplo de aluno, uma criança tranquila e muito inteligente em matemática”, contou a Maria Lourdes.
Se por um lado alguns estão sendo bem integrados, outros já alçaram voos maiores após serem acolhidos pela Escola. Além de três professores que foram ex-alunos da instituição de ensino, alguns universitários gozam de bolsas de estudos integrais graças às boas notas no ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio, que garantiram o benefício pelo ProUni – Programa Universidade para Todos, do Governo Federal. Atualmente a aluna Adrieli Regina dos Santos cursa odontologia na Unicastelo com o benefício de 100% de bolsa de estudos pelo ProUni.
E para coroar todo este comprometimento com acolhimento, no ano passado a escola ficou entre as 10 finalistas do prêmio “Escola Voluntária”, da rádio “Bandeirantes”, em parceria com a Fundação Itaú Social, com o projeto “Leitura à Terceira Idade”, no qual os alunos vão até a casa de idosos do
Distrito ler a eles. “Além de realizar um trabalho que fomenta a leitura dos alunos é uma ação social realizada no município”, destacou a diretora.
Além desta premiação, a chamada “segunda casa” também recebeu outras premiações em 2014, tendo três textos condecorados no 1º Concurso Literário Regional “Letras de Encontro”, uma menção honrosa da OBMEP – Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas e o 3º lugar em “Ações Culturais” do Projeto Fernandópolis Cidade Responsável.
E é por essas e outras que a Escola da Brasitânia merece respeito e pode ser considerada sem sombra de dúvida como “muito além de uma escola”.
PROFISSIONAL DE SUCESSO
O profissional de sucesso destacado hoje, é uma prova viva de que estudar na E. E Professora Maria Conceição Aparecida Basso é um investimento válido. Professor de matemática e de tecnologia/robótica da instituição de ensino de Brasitânia e professor de matemática/geometria no Colégio Objetivo em Cardoso, Anderson Alves de Castro graduou-se na UNIFEV – Centro Universitário de Votuporanga-, em 2007, e estudou na Escola do Distrito de 1991 a 2002.
“Quando era aluno gostava de ajudar os colegas, fazia tudo correndo para ajudar os amigos. Meus professores foram muito bons, a Gislaine de Matemática, a Márcia que me encantou com seu jeito de explicar geometria e me inspira até hoje em minhas aulas em Cardoso. O número reduzido de alunos e o fato dos professores ouvirem bastante foi um diferencial que me espelho até hoje em minhas aulas. Sempre faço me ouvir. Hoje é um prazer estar ao lado daqueles que deram aulas e saber que eles têm orgulho de mim”, destacou Anderson.