E.E Saturnino Leon Arroyo: onde a educação realmente é para todos

20 de Agosto de 2025

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E.E Saturnino Leon Arroyo: onde a educação realmente é para todos

Conforme o próprio diretor da E.E Saturnino Leon Arroyo, Carlos Antônio de Jesus Cabral, “inclusão não é apenas adaptar espaços físicos”. E é justamente aí que a Escola Saturnino se destaca das demais em todo Estado de São Paulo. Além de contar com toda estrutura física com corrimãos, banheiros (masculino e feminino), piso tátil e rampas, a instituição de ensino fernandopolenses, fundada em 1968 (à época com nome de Colégio Estadual de Fernandópolis), proporciona todas as oportunidades para que o aluno portador de alguma deficiência possa ser respeitado em todos aspectos tendo formação integral, inclusão e, acima de tudo, sucesso.

Além de 70% do corpo docente dominante de Libras – Língua Brasileira de Sinais-, a escola conta com quatro professores interlocutores à disposição dos alunos com deficiência auditiva. Além disso, uma empresa rio-pretense terceirizada, especializada no assunto, presta serviço à Saturnino com dois cuidadores que auxiliam os deficientes físicos desde o momento em que chegam à Escola, no transporte adaptado até o momento em que deixam o local.

Atualmente a E.E Saturnino Leon Arroyo conta com 23 alunos portadores de alguma necessidade especial: nove com deficiência intelectual, seis com deficiência física, quatro com deficiência auditiva e quatro com deficiência visual. “A educação inclusiva é uma realidade hoje, mas até pouco tempo estes alunos estavam totalmente segregados, sem acesso à escola. Então com o advento da constituição, da redemocratização do país, veio a necessidade de educação para todos. Houve também a necessidade de se instalar em Fernandópolis uma escola com os primórdios da acessibilidade. Ao tomar essa iniciativa no fim dos anos 90, era uma escola com estrutura em um único pavimento, sem depender de elevadores e outras obras arquitetônicas que poderia dificultar a acessibilidade. Então houve uma adequação para atender os deficientes físicos e os visuais. Pouco a pouco fomos deixando a escola 100% acessível”, contou Cabral, na direção da Escola desde dezembro de 2008.

O diretor lembrou ainda que alguns pais deixavam os filhos em casa, sem estudar por falta de acessibilidade nas escolas e que atualmente, graças às mudanças, alguns ex-alunos da Saturnino já cursam até mesmo a segunda faculdade, além de alguns já estarem empregados. “Temos o exemplo de mãe e filha que estudaram juntas aqui. A filha já está na faculdade e a mãe permanece no EJA – Educação de Jovens e Adultos, na E.E Afonso Cáfaro e também na sala de recursos da nossa escola que atende diversas pessoas com deficiência em horários opostos aos de aula. Agora porque ela ficou tanto tempo sem estudar e resolveu agora? Como ela iria aprender se ninguém entendia o que ela precisava? Hoje ela vai na sala de aula e há a figura do interlocutor”, disse Cabral.

 E esta preocupação e desejo de atender a todos já contagiou os professores e alunos da escola que disseminam a política da inclusão da melhor maneira possível. Os alunos fazem questão de ajudar os colegas e se tornam melhores cidadãos também fora da escola, já os professores se doam um pouco mais, desenvolvendo voluntariamente um projeto com alunos sem qualquer tipo de deficiência em horários alternados com aulas de libras.

“Em 2002 começaram a ser feitas as adaptações como banheiros, rampas e corrimãos, quando a Escola era dirigida pela educadora Aidê Terra Verdi, já em 2005 iniciamos uma parceria com a APADAF – Associação de Pais e Amigos do Deficientes Auditivos de Fernandópolis-, que também contribuiu para recebermos esse rótulo de escola acessível. Eles passaram a trazer seus alunos para iniciar a vida estudantil. Desde então estamos contribuindo para a formação adequada de cada um. Mantemos o mesmo padrão de ensino de qualquer escola, realizando o mesmo trabalho com todos os alunos, pois se fizermos diferente já não é inclusão, é exercitar a exclusão. Todos são capazes de aprender, desde que respeitadas suas diferenças individuais. É dessa maneira que proporcionamos a educação da melhor qualidade a todos”, destacou o diretor.

O diferencial da E.E Saturnino Leon Arroio pode ser ratificado com as ilustres visitas de personalidades como o fundador do Centro de Emancipação Social e Esportiva para Cegos, David Farias Costa representando a Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência e o judoca brasileiro tetracampeão paraolímpico, Antônio Tenório, também deficiente visual, que se sensibilizaram com o trabalho especial empreendido na escola. Os dois passaram pela Escola em 2012 e contaram um pouco de suas experiências motivando os cerca de 550 alunos da instituição e ensino de Fernandópolis.

Além deles, outro grande destaque que comprova esse amor ao próximo e busca incessante pela educação inclusiva, é a ex-aluna Eloá Fernanda Stefani Topan, que em 2013, à época com 16 anos, teve seu projeto “A inclusão da Língua Brasileira de Sinais (Libras) no currículo nacional, aprovado por unanimidade pelo Parlamento Jovem na capital paulista e em Brasília. Ela concorreu com outros 1.061 projetos e agora, aguarda que o texto seja encampado por algum deputado para ser apresentado no Congresso Nacional. Hoje em dia a ex-aluna da Saturnino é estudante de Pedagogia pela FEF – Fundação Educacional de Fernandópolis-, e tem aulas de História da Educação com Cabral, diretor da escola.

Destaques é o que não faltam na Saturnino. Além de dezenas de projetos desenvolvidos ao longo do ano, como a Show de Talentos, GamesuperAção, Gincana de Libras, a E.E Saturnino ficou em 1º lugar do Estado de São Paulo como a escola pública com o maior volume de livros retirado pelos alunos: 7.690 títulos em 2012. Desde a implantação da Sala de Leitura, em 2009, a primeira da cidade, a biblioteca ganhou movimento e ação estimulando alunos à leitura. A pesquisa “Prazer pela Leitura”, foi realizada em 2013 pela Secretaria da Educação em 12 escolas públicas do Estado. Com o projeto Sala de Leitura Nota 10”, os alunos com deficiência visual têm acesso a livros em braile ou com letras ampliadas.

E é com por meio destas conquistas e do amor pela educação a todos que a E.E Saturnino Leon Arroyo mantém a excelência quando o assunto é educação integral e inclusão e comprova os célebres dizeres de um de seus projetos de inclusão e cidadania: “a força de vontade do ser humano quebra qualquer barreira”.

PROFISSIONAL DE SUCESSO

Narrador de rodeio e locutor em duas emissoras de rádio em Curitiba-PR, a Rádio Clube CFA e a Grapiuna FM, Cilso André Amarães da Silva, conhecido pela alcunha artística Andrei Magalhães, foi aluno da E.E Saturnino Leon Arroyo em 1996, dois anos após perder a visão.

Como em Fernandópolis não havia serviço para ele a nem para esposa, também deficiente visual, ele rumou a outros estados como Bahia e agora Paraná, atuando em rádios e nos rodeios. Com uma voz bastante grave ele se lembra da professora Noemi, que segundo ele é até hoje sua segunda mãe. “Quando entrei na escola me sentia perdido tanto lá quanto no meu mundo, pois fazia apenas dois anos que perdera a visão. O mais difícil foi lidar com as bolinhas (Braile). Mas fui a fundo com muita força, fé e coragem para chegar onde cheguei. Se não fosse a escola e a professora Noemi eu não seria nada hoje em dia. Sou cada vez mais apaixonado pelo estudo e pela minha independência. Não importa se enxergo ou não, o que importa é que estou feliz”, destacou Andrei.