“Em reconhecimento público pelos relevantes serviços efetivamente prestados”. Esta é, via de regra, a explicação oficial da Câmara Municipal explícita no convite para a sessão solene de outorga do Título de Cidadão Fernandopolense ao Sr. Shiguero Uetanabara, o “Sr. Natal” do Nosso Bar e Sorveteria.
Porém, não fosse o padrão engessado e sistemático presentes em documentos oficiais do Legislativo, com certeza haveria uma explicação mais sensível para os reais motivos que levaram a vereadora Neide Garcia escolher o ilustre comerciante de Fernandópolis que, ao lado de seu irmão Fernando Uetanabara, produz aquele que é considerado o melhor sorvete da cidade há mais de meio século.
Desta vez, dificilmente haverá questionamentos por parte da população e de alguns vereadores quanto a escolha do homenageado. Há alguns anos a entrega do título, uma das honrarias mais notáveis da Câmara Municipal, foi banalizada e utilizada de forma politiqueira, concedendo-o a personalidades com pouca ou quase nula relação com a cidade.
A homenagem está marcada para a próxima quarta-feira, 25, às 20h, na Câmara Municipal, que com certeza contará com bom público. De simpatia inigualável e querido por todos os clientes – alguns teimam em ficar sentados por horas no local – Sr. Natal atua no comércio de Fernandópolis desde 1960, porém sua relação com a cidade começou um pouco antes.
Shiguero Uetanabara nasceu no ano de 1941, ano que iniciou-se numa quarta-feira e terminou numa quarta-feira, que por ironia do destino é o mesmo dia da semana em que ocorrerá a homenagem da Câmara. Neste mesmo ano em que ocorreu a Segunda Guerra Mundial e outros crimes de guerra como a invasão da Alemanha nazista à União Soviética e ataque da marinha imperial japonesa à ilha de Pearl Harbor no Havaí, nascera também os cantores Roberto Carlos e Bob Dylan.
Em uma família de 11 irmãos, Shiguero nasceu no município de Nova Europa, próximo à Araraquara, porém logo aos seis anos o pai Gentaro e a mãe Hume se mudaram para a Colônia Braga – entre General Salgado e Magda - para trabalhar com a lavoura de algodão. Em 1950 a família chegou a Fernandópolis e adquiriu uma propriedade para continuar com a plantação de algodão. “Nós plantávamos algodão onde hoje é a Faria Veículos. Mas, em 1955 um tio nosso disse que não teríamos futuro morando no meio do mato e mandou a gente ir para Jaú. Tínhamos conseguido um bom dinheiro com algodão e fomos embora”, disse Natal.
Lá, os irmãos Fernando e Natal abriram sua primeira sorveteria que acabou não dando lucro. Sempre ladeado do irmão e parceiro Fernando Uetanabara, que até hoje faz questão de ir todos os dias no Nosso Bar, eles precisaram vender doces – também feito por eles - e verduras para recuperar o dinheiro investido. Porém, a relação com Fernandópolis estava longe do fim e em 1960 voltaram para a cidade onde abriram um bar e sorveteria onde hoje funciona a relojoaria Imperial. De lá compraram o Nosso Bar e Sorveteria onde estão até hoje fabricando o próprio sorvete e os salgados já tradicionais com apoio incondicional de Tomiko, esposa de Fernando, Mitie, esposa de Natal e Angélica, filha do homenageado, que ajudam a manter firme o empreendimento de sucesso.
Questionado sobre o segredo do sorvete diferenciado, Sr. Natal com um sorriso faceiro despistou. “Tudo é a maneira de trabalhar. Tudo sempre tem uma técnica. Fora que muita gente é relaxada e eu não. Não compro mercadoria de baixa qualidade”, afirmou Shiguero que até hoje faz o sorvete, agora com maquinário de tecnologia avançada e sem a famosa colher de madeira.
Desde os seis anos na lavoura de algodão, Sr. Natal acorda todos os dias por volta das quatro da manhã. De domingo a domingo, ele faz sorvete e prepara os salgados. Segundo ele, seu lazer é mesmo trabalhar. “Raramente, quando sobra um tempinho gosto de fazer churrasco com a família, mas minha distração é o Bar, conversando e trabalhando.
Casado com Mitie Sato, e pai de três filhos: Marcos, Renato e Angélica, Sr. Natal estudou apenas o primário, e teve a oportunidade de ter como diretor o ilustre educador Olívio de Araújo, na Escola Jap. Porém, Shiguero Uetanabara é mais um dos incansáveis comerciantes que compensam as dificuldades com o esforço e desejo de fazer bem feito, sem deixar de lado valores como humildade e simplicidade, que com nenhum tipo de condecoração seria possível premiá-lo à altura.