Em mais uma matéria da Série Escolas, CIDADÃO destaca hoje mais uma escola estadual de Fernandópolis que, apesar de estar mergulhada em várias qualidades, também sofre com preconceitos e estereótipos negativos. Na E.E Antônio Tanuri os professores e gestores da escola precisam “matar um leão por dia” em nome da boa educação para que as coisas não fujam do controle, ainda mais tendo em vista que fatores extraescolares teimam em atrapalhar diariamente o andamento do ensino.
A Tanuri, possui um corpo docente extremamente qualificado, que conta com 26 professores efetivos em meio aos 36 profissionais da educação, em sua maioria com títulos de especialização, mestrados e até doutorado, que desempenham uma função não apenas de meros “ensinadores”, senão de pais, incentivando os alunos a dar sequência aos estudos para que tenham uma boa qualificação profissional, uma boa inserção no mercado de trabalho e, consequentemente, qualidade de vida.
Em virtude da Escola estar localizada no Bairro Trevo, atendendo alunos dos adjacentes, Jardim Ubirajara, Taiguara, Paraíso, Ipanema, as Cohabs Antônio Brandini e João Pimenta e Alto das Paineiras, considerados bairros de classe média baixa, onde os alunos terminam o ensino médio e já começam a trabalhar para ajudar com as despesas de casa, sem tempo (e talvez oportunidade) de buscar uma qualificação superior, a E.E Tanuri, assim como a última escola destacada em nossa Série, E.E Carlos Barozzi, também sofre com os estereótipos negativos e preconceito. “Tem pais que moram aqui por perto e ainda assim levam o filho em escola mais distantes próximas ao centro por crer que aqui existe marginalidade e ensino inferior”, contou a diretoria da escola Marcelaine Cardoso de Miranda Ferreira.
Na escola há nove anos, nas funções de coordenadora, vice-diretora e agora diretora, Marcelaine conta que ao entrar na escola, realmente algumas brigas ocorriam entre alunos e que até mesmo ocorrência com porte de drogas já haviam acontecido na escola, e que estes fatos isolados no passado mancham até hoje a imagem do lugar. “Houve algumas intercorrências no passado, e acaba ficando na memória das pessoas. Entretanto, a cada dia nós buscamos respeitar cada aluno e, pela qualidade da estrutura, do ensino e do corpo docente efetivo que temos, conseguimos conquistar a confiança dos alunos e fazer com que o respeito seja mútuo. Não consigo lembrar qual a última briga de alunos que teve na escola. As coisas mudaram muito nos últimos anos e a disciplina que aplicamos dia a dia tem surtido um efeito muito positivo”, disse ela, desmistificando os boatos sobre a escola.
Ainda assim, o maior diferencial da E.E Professor Antônio Tanuri é o corpo docente com vários professores efetivos que consegue superar e melhorar a cada dia a imagem da instituição. “Costumo brincar com eles, ‘se os alunos são difíceis, os professores são muito mais’. É uma equipe muito unida, que trabalha junto há bastante tempo e costuma encarar os desafios de frente, o que faz muita diferença para o aluno. Não tem aquela rotatividade, daqui a dois anos se voltar aqui será a mesma equipe. Isso faz muita diferença para a aprendizagem, confiança e identidade. Os mais novos estão aqui há oito anos, os demais já estão aqui há 15, 20 anos. E é com essa união que conseguimos os resultados, pois somos ‘apaixonados pela educação’”, destacou.
Outro ponto de destaque é a estrutura da escola, cujo prédio foi construído em 1968 e conta atualmente com nove salas de aulas, uma sala de multimídia, uma biblioteca, um laboratório de informática, uma sala de recursos para alunos que necessitam de educação especial, uma quadra coberta, um almoxarifado, uma sala de professores, salas de coordenação e direção, secretaria, cantina e cozinha. Apresenta um espaço físico aconchegante, com boa pintura, todos os espaços internos com pisos, salas bem arejadas, espaço verde interno e externo, demonstrando boa aparência e bom estado de conservação.
“O esforço e a atuação integrada entre todos os setores que compõem a equipe Tanuri tem proporcionado conquistas muito importantes. Sem dúvidas, de grande relevância são os resultados das avaliações internas e externas, caso mais significativo do Saresp. Nos últimos três anos, por exemplo, tivemos um Idesp – Índice de Desenvolvimento da Educação de São Paul-, de 120% no Ensino Fundamental em 2012 e 2014, e 120% no Ensino Médio em 2013 e 2014. Como fator que comprova o sucesso dos últimos anos, tem-se o fato de praticamente não se perder alunos, evitando assim, o fechamento de salas, fenômeno comum nas escolas atualmente em função da redução das taxas de natalidade o que diminui o contingente de alunos. Para o ano letivo de 2015, mantém-se o mesmo número de salas de 2014, tendo como destaque a formação de uma turma na 1ª Série do Ensino Médio no período noturno, algo que não existiu nos últimos anos”, destacou João de Souza Lima, professor de geografia e coordenador da escola.
Em 2014 o principal destaque da escola foi a aluna Darin Lane Pereira Camargo, que conseguiu 900 pontos na redação do Enem – Exame Nacional do Ensino Médio. Além do esforço e dedicação da jovem, pode ser destacado ainda o fato da escola desenvolver um ótimo trabalho com a sala de leitura a qual tem proporcionado resultados positivos com o “Leitura livre” e o Projeto “Pasta Viajante”, além do crescente aumento na demanda de alunos que buscam a leitura. No projeto “Leitura Livre” tem-se uma hora por semana, em dias e aulas alternados, em que toda a escola deve estar ocupada com a prática da leitura de forma livre ou seja, qualquer gênero literário. Já o projeto “Pasta Viajante” é realizado por meio da montagem de algumas pastas contendo alguns exemplares de obras literárias juntamente com um caderninho de anotações, material que o aluno leva para sua residência, através de um rodízio, até que todos da sala sejam contemplados. O objetivo do projeto é incentivar a prática da leitura por parte do aluno e de seus familiares. Através das anotações que os pais têm enviado no caderninho é possível testemunhar o sucesso dessa iniciativa.
HISTÓRIA
A escola que conta com 584 alunos, divididos em 21 turmas, nove no período da manhã, oito no período da tarde e quatro à noite, foi fundada em 25 de novembro de 1964, pelo patrono o professor Antônio Tanuri, descendente de família de libaneses, nascido em São Carlos, em 30 de setembro de 1917.
Antonio Tanuri era professor primário formado pela Escola Normal de São Carlos, em 22 de setembro de 1937, tendo sido nesta escola um dos fundadores do Curso de Sociologia. Era considerado um estudioso das línguas estrangeiras, falava e escrevia fluentemente a língua inglesa. Abraçando a profissão de docente, trabalhou em várias escolas. De acordo com o testemunho de pessoas que compartilharam a convivência com Antônio Tanuri, tratava-se de uma pessoa muito amável, alegre e, cultivando o espírito de solidariedade, era bastante dedicado às pessoas, principalmente aos familiares.
Antônio Tanuri chegou em Fernandópolis em 1943, como professor estagiário e foi efetivado no cargo em Vila Pereira em 18 de janeiro de 1944. Em 29 de janeiro de 1944, aos 25 anos de idade, ocorreu seu falecimento, vitimado por septicemia, fato que provocou grande consternação entre todos que o conheciam.
Reconhecendo seu trabalho como professor e cidadão, a Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, vários anos depois, promulga lei passando a denominar “Grupo Escolar Antônio Tanuri”, o Grupo Escolar de Vila Ubirajara, perpetuando assim, a sua memória em justa homenagem ao jovem professor e sua família.
Estudante da E.E Tanuri durante os anos de 2001 a 2007, a advogada Sara Cristina Freitas de Souza Ramos, 24, atua nas áreas civil e previdenciária em Fernandópolis desde 2013. Graduada pela Unicastelo, Sara passou boa parte da adolescência com sua “segunda família” na Tanuri, do 5º ano do ensino fundamental a 3ª série do médio.
Ela conta que a contribuição escolar foi fundamental para que hoje se tornasse uma profissional de sucesso. “O ambiente sempre foi muito familiar. Eles eram muito mais que apenas professores. Me ajudavam fora da escola também. É difícil falar de um professor em específico, mas as professoras Maria Sipriana de Língua Portuguesa e a Luiza de História foram as maiores incentivadoras na época em que estava no 3º colegial, prestando vestibulares. Elas até fizeram uma vaquinha para pagar o meu cursinho que eu fiz paralelamente naquele ano”, contou Sara.
De acordo com a advogada, o maior feito em sua época de estudante da Tanuri, foi um 3º lugar estadual na Olimpíada de Língua Portuguesa em 2005 juntamente com outros alunos da DER – Diretoria Regional de Ensino.