E.E Carlos Barozzi: a qualidade ofuscada pelas injustiças históricas

20 de Agosto de 2025

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E.E Carlos Barozzi: a qualidade ofuscada pelas injustiças históricas

Uma estrutura física invejável, espaço amplo, limpeza impecável, corpo docente qualificado com 99% de professores efetivos e evolução no Idesp – Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo. Este são alguns dos atributos que uma escola precisa dispor para estar apta a oferecer qualidade no ensino tanto na formação intelectual quanto na formação do caráter de um ser humano.

Na Série Escolas, hoje destacamos a Escola Estadual Carlos Barozzi, localizada na Avenida que também leva o nome do fundador do bairro Brasilândia. Embora disponha de todos os atributos já destacados, até hoje a escola sofre com preconceitos e estereotipada como uma escola muito aquém da realidade. A qualidade de ensino atrelada a um trabalho social invejável, resultante da soma de empenho daqueles que doam muita além da sua capacidade e limitação, faz com que a E.E Carlos Barozzi cumpra com excelência o papel de uma instituição de ensino na comunidade.

Fundada em 4 de outubro de 1946, a escola completa 69 anos em 2015. Anos de dedicação à educação de seres humanos e, mais do que isso, de cidadãos de bem. Por mais incrível que possa parecer, a escola ainda sofre com preconceito em decorrência da briga ferrenha que existia antes da fundação do que hoje é Fernandópolis. Pela rixa existente entre duas vilas, Brasilândia liderada pelo sedento por desenvolvimento Carlos Barozzi e pela Vila Pereira, do incansável Joaquim Antônio Pereira, algumas pessoas ainda têm receio da escola e propagam uma imagem negativa sem nem mesmo ter feito uma visita para conhecer a escola.

“Não sabemos ao certo de onde surgiu este estereótipo. Se é pelo público que a escola atende, relativamente inferior socioeconomicamente ou pela história. Mas se todos aqueles que julgam a escola sem conhecer nos fizessem uma visita essa visão mudaria bastante”, contou o diretor José Roberto Longo.

O próprio diretor contou o relato de uma monitora que atua diretamente da Escola que atestou a qualidade da Carlos Barozzi apenas com o dia a dia. “Esta monitora disse que chorou a noite inteira quando soube que teria de trabalhar aqui. Achava que havia alunos violentos, consumo de drogas e várias outras coisas que ela acreditava por ter ouvido algumas pessoas falarem. Hoje em dia ela mesmo diz estar no céu”, contou Longo.

Diferente do que alguns propagam na cidade, a escola não possui histórico de violência em sala de aula, consumo e disseminação de drogas em seu interior e, tampouco alunos rebeldes. Se por um lado a Praça da Brasilândia é ainda uma dor de cabeça para a Polícia Militar, mesmo já tendo melhorado com a reforma que trouxe iluminação ao local utilizado com ponto de drogas, do muro da escola para dentro a realidade é bem diferente.

Com 15 salas e 378 alunos, a Escola consegue agregar o ensino com o envolvimento dos pais, conscientizando os jovens a trilharem o caminho do bem. O que comprova este trabalho social da Carlos Barozzi é o projeto de “Leitura para Comunidade” que atraiu os pais para dentro da escola buscando livros na biblioteca, que conta com mais de 14 mil títulos. “Neste projeto os alunos levaram livros às unidades de saúde e à Praça e leram para as pessoas. Assim, muitas pessoas que deixaram a escola há um bom tempo voltaram a tomar gosto pela leitura. O reflexo da ação social foi fantástico”, destacou Longo.

Outro ponto crucial que contribui na qualidade do ensino e envolvimento dos alunos é a efetividade de professores. De 2009 para cá a escola pôs fim ao rodízio de professores e hoje em dia conta com praticamente 100% do corpo docente efetivo. “Nossos professores conhecem a fundo cada aluno, suas dificuldades e isso ajuda muito. Inclusive os próprios alunos respeitam mais, interagem mais e consequentemente aprendem mais”, frisou o diretor.

Paralelo a esta qualidade da educação, os coordenadores da escola adotaram uma medida inovadora para diminuir os prejuízos trazidos pela tecnologia acessível a todos. Para evitar a distração com os celulares, smartphones e demais gadgats, febre principalmente entre os jovens, os professores passaram a recolher todos os dias antes das aulas os aparelhos colocando-nos uma tarja com nome do referido dono. E a estratégia funcionou, também influenciado pela maneira com a qual a medida foi imposta, sem autoritarismo, mas com a mesma cautela com a qual um pai aconselha o filho, ratificando mais uma vez o “papel família” da escola. No primeiro dia foram recolhidos 80 celulares, no segundo o número caiu para 28 e, no terceiro apenas sete. “Os alunos e conscientizaram e deixaram de levar os celulares para escola. Alguns que ainda levam são aqueles que moram na zona rural e utilizam a lanterna do mesmo para chegar ao ponto de ônibus.  Mais o resultado em si está sendo excelente. Os professores conseguem aula sem interrupções e sem precisar ficar chamando a atenção”, explicou Longo.

Por falar em diferenciais, a Escola Carlos Barozzi conta também com fechaduras unificadas nas portas das salas de aula. As portas somente se abrem normalmente do lado de dentro, já do lado de fora é preciso de uma chave que fica em posse do professor. Assim, se um “engraçadinho” sai da sala sem a permissão do professor ele não mais consegue retornar a sala naquela aula. Outro diferencial é o sinal sonoro, que ao invés de um simples som costumeiro é executada uma música escolhida pelos próprios alunos em um rodízio semanal.

O acolhimento da escola, estrutura, limpeza e atenção particularizada aos alunos, fizeram com que a escola tivesse boa evolução no Idesp, indicador que leva em conta o desempenho dos alunos em Língua Portuguesa e Matemática, mensurados pelo Saresp – Sistema de Avaliação e Rendimento Escolar, e os indicadores de aprovação, reprovação e abandono. Em 2012 escola conseguiu atingir os 120% de aprovação com o 3º e 5º ano do ensino fundamental. Já em 2013, além do 5º ano, o 9º ano também conseguiu atingir os 120%. Assim, a escola saltou da 8ª para a 3ª posição dentre as escolas públicas de Fernandópolis. O rendimento total medido pelo ICM- Índice de Cumprimento de Metas foi de 97,29.

Embora alguns alunos se destaquem, o fator socioeconômico do público atendido pela escola, principalmente de alunos dos bairros Brasilândia, Coester e Jardim Paulista influencia já que muitos pais aconselham os jovens a trabalhar para garantir o sustento de imediato e não a longo prazo com uma capacitação profissional. Ainda assim, muitos jovens são aconselhados a cursar paralelamente um curso técnico, ainda mais pelo fato alguns cursos da Etec serem ministrado nas dependências da Escola, no período noturno.

Algumas conquistas individuais merecem destaque na Carlos Barozzi. Em 2014 a aluna Mariana Lanini Bergamini, da 2ª série do Ensino Médio foi premiada pela Secretaria Estadual da Educação no Projeto Viva a Alemanha com um cartaz com colagens que exaltava a cultura germânica no Estado. Quem também foi destaque foi a aluna Victória Aparecida do Carmo Martins, do 5º ano do Ensino Fundamental na Olimpíada de Língua Portuguesa da DER – Diretoria Regional de Ensino com uma “carta ao leitor”, que fez a dirigente de ensino, à época, arrepiar e pensar que estivesse lendo uma matéria de uma revista e não de uma aluna.

Outros alunos destaques da escola são Vinícius Arré que teve um conto (Segredos de um Parque Abandonado) publicado no Livro Horas Sombrias - contos sobrenaturais de suspense e de terror-, da editora Andross (48 contos), o aluno João Vítor Cainelli Bortoluzzo, advogado formado pela UFMS – Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, pós graduado e que foi aprovado em três concursos públicos (fórum), e ainda Deisiane de Cássia Machado, formada em web design pela Etec, Sistemas para Internet pela Fatec – Jales e graduanda de Agronegócio tendo passado em 1º lugar no concurso da Prefeitura para professora de informática, em 2013.

E não é apenas em sala de aula que alguns alunos elevam o nome da escola, senão nas quadras. A escola sempre carregou o rótulo de um “poderio” no futsal e no voleibol, que pode ser comprovado com as conquistas dos Jogos Escolares de 2007 com o voleibol mirim feminino, em 2008 com o voleibol pré-mirim feminino e o futsal infantil masculino, em 2010 com o voleibol mirim feminino e futsal mirim masculino, além das conquistas no ano passado, do voleibol mirim feminino, que também venceu a fase regional (Rio Preto) e representou a região administrativa na fase estadual realizada em Sertãozinho, onde conquistou o 5º lugar.

Assim, a soma de esforços dos funcionários que antes de qualquer função exercem o papel de amigo dos alunos, a estrutura física atrelada à limpeza impecável do prédio e esforço dos próprios estudantes, vai resultando na derrubada da imagem negativa criada infundadamente por algumas pessoas. Para aqueles que ainda duvidam da qualidade da E.E Carlos Barozzi, é aconselhável que façam uma visita para atestar que o Bairro da Brasilândia conta com uma instituição de ensino de excelência. O nome: Carlos Barozzi, o sobrenome: comprometimento.

PROFISSIONAL DE SUCESSO

Formado em Ciências Biológicas pela FEF e pós graduado pela UFG – Universidade Federal de Goiás, Marcos Vinícius dos Santos, 26, não seguiu carreira na profissão de biólogo tampouco de professor de biologia, no entanto, tanto a escolha do curso quanto seu dia a dia como gerente da Poly Sport de Votuporanga foram influenciadas pelos anos de estudo na E.E Carlos Barozzi.

Aluno do 1º ano do Ensino Fundamental a 2ª série do Ensino Médio (de 1995 a 2003), o jovem gerente, ressaltou a influência positiva que teve na escola. “Nós tínhamos aulas com o José Milani e ele sempre nos levava ao laboratório da escola, que por sinal era excelente, coisa que nem todas as escolas tinham. Por serem bem práticas as aulas eu tomei gosto pela biologia e decidi fazer como faculdade. Fora isso, o clima de amizade entre aluno e professor eu tento empregar no meu trabalho sendo amigo dos colaboradores. Os professores até jogavam bola coma gente”, lembrou ele.