De volta ao passado: professora reenvia carta escrita por alunos há 25 anos

20 de Agosto de 2025

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De volta ao passado: professora reenvia carta escrita por alunos há 25 anos

Din’don, a campainha tocou. À porta, o carteiro, com um envelope amarelo nas mãos. Neste envelope, apenas uma tarja com a seguinte descrição: Letras – FEF – 1990/1993. No remetente, um nome conhecido, Eliana Jacob de Almeida, sua professora há 25 anos.
Ainda curiosos, sem saber do que se tratava, os destinatários romperam os lacres das correspondências e se deparam com uma carta escrita por eles mesmos em 1990, ano em que compunham a primeira turma do curso de Letras da FEF – Fundação Educacional de Fernandópolis.
Junto ao manuscrito, já amarelado, desgastado pelas duas décadas e meia, uma folha de sulfite, bem branquinha, impressa a laser, um contraste entre o presente e o passado, trazia a explicação de tudo aquilo:  

Encontro com o passado

Fernandópolis, 28de janeiro de 2015.    
Meu querido aluno
Há poucos dias, vi no Fantástico uma matéria sobre um professor que havia falecido. Entre seus pertences, seus filhos encontraram cartas que ele pretendia mandar para seus ex-alunos de 1990. Na verdade, eram textos que seus alunos haviam escrito naquela época e o professor mandaria de volta agora. Como não teve tempo, seus filhos o fizeram.
Pois bem! Ao ver a matéria, lembrei-me de que havia feito algo parecido, naquele mesmo ano, em que você entrava na faculdade e eu estreava como professora universitária. No dia 09 de março de 1990, primeiros dias de aula do curso, eu passei algumas perguntas sobre a expectativa de ser professor, seus sonhos... e em 03 de agosto de 1992 – dia do meu aniversário - já perto da formatura, devolvi o texto para que vocês confrontassem as respostas, lembra?
Pena que nem todos estavam no dia em que eu dei essa tarefa; outros estavam – estou com seus textos - mas eu não os encontrei pelo Facebook, nem pela lista telefônica, nem pelo Google. Algumas meninas se casaram e mudaram seus sobrenomes. Vou anexar uma lista com o nome de todos; se tiverem notícias, me deem um alô, ok?
Lembrei-me das brincadeiras do dia do professor, em que vocês imitavam cada um de seus mestres; da serenata na porta da minha casa - até da música! - das festas e do anel que me deram de formatura, igual ao das meninas, pois eu fazia parte da turma...e que turma!!!
A primeira turma do curso de Letras da FEF ficou na história e na minha memória.
Guardei esse material durante 25 anos e, hoje, venho lhe propor um encontro com sua versão jovem, universitária, cheia de ideais.
Espero que isso faça para você o mesmo sentido que fez para mim.
Um forte abraço, cheio de saudades.
    Eliana Jacob Almeida
PS: E se cada um tirasse uma foto com o envelope amarelo e postasse no face, dizendo o que sentiu ao reviver seu passado? Estaríamos numa grande praça em que muitos teriam a oportunidade de encontrar colegas de quem não têm mais notícias. Quem não tiver face, poderia fazê-lo por meio da página de um filho ou amigo. Na apresentação da foto, deverá vir: Eu estava lá, em 1990... Combinado? Até mais!


Eliana encontrou 26, dos 46 alunos que fizeram a tarefa e o retorno logo veio por mensagens em sua página pessoal no Facebook.
“Hoje meu dia foi feito de emoções...Eu chorei muito, mas de alegria....Obrigada Eliana Jacob Almeida...Até meu papai e meu filho choraram comigo...Gostaria que meus amigos e parentes vissem isso. Foi divino. É isso que nos dá força para seguir nessa profissão tão perfeita”, publicou a também professora Claudineia Nogueira.
Celeste Antenore também fez questão de agradecer. “Eu estava lá, em 1990...Que lindo e emocionante gesto minha amiga Eliana Jacob Almeida. Foi muito bom relembrar o quanto o curso de Letras e todos os meus professores me fizeram mudar de ideia quanto a ser professora. Só posso agradecer muito a Deus sua presença e influência em minha vida. Amo você! Obrigada”.
Outra que fez questão de agradecer foi Sandra Berton. “Eu estava lá em 1990 ... com Eliana Jacob Almeida. Viagem no tempo, de surpresa! Não tive tempo nem de fazer a mala! Obrigada, Eliana. Adorei a surpresa. Beijos”.
O conteúdo das correspondências será resguardado aos autores e, é claro, às lembranças de Eliana Jacob, que destacou o que mais lhe chamou a atenção nas cartas.
“A maioria tinha ideia de ser professor e mudar a educação no Brasil, porém muitos não seguiram a profissão. Acredito que de alguma forma eles tenham se desencantado, o que é uma pena, pois eles, sem dúvida alguma fariam a diferença na educação brasileira se eles tivessem se tornado professores, não só na rede pública, como também na privada. À época o carro chefe da FEF era enfermagem, por ser um curso mais antigo e de renome. Porém, quando foram abertos os cursos ligados a licenciatura (história, letras e geografia), o de letras também se destacou, pois tinha um corpo docente muito bom – Amelinha, Amadeu, Durval, João Zaide, a Elen, enfim, um ótimo corpo docente - e os alunos saiam e faziam um bom trabalho”, contou.
De acordo com a mestre, a intenção é encontrar todos os alunos que participaram da dinâmica. “A minha intenção é que depois que a maioria der a resposta a gente faça uma lista dos que não forem encontrados e publique para os que receberam a carta nos ajudem a encontrar os demais. Tem gente que nunca mais vi, mas tenho esperança de que os outros que encontrei, me ajudem a localiza-los e assim finalizarmos a iniciativa”.
Ainda segundo Eliana, o que mais a marcou em sua primeira turma universitária, foi o respeito e a admiração que os alunos tinham para com ela.
“Eles não me tratavam apenas como uma professora, mas sim como uma colega. Inventei uma dinâmica, em que no Dia dos Professores eles nos imitavam. Tinha uma de minhas alunas que me imitava, a Sônia, e ela chegou a comprar um sapato vermelho de verniz, igual ao que eu tinha e ficava muito parecida comigo. No dia a faculdade parava para ver a brincadeira, que depois virou uma tradição. No ano seguinte, no primeiro dia de aula da segunda turma de letras da Faculdade, eu peguei minha classe e os levei até eles para recepcioná-los com um botão de rosas. Quando essa primeira turma se formou todos os alunos que haviam recebido esse botão de rosas foram até a janela da sala deles e fizeram uma serenata. E isso ficou na história. Toda a turma que se formava sabia que iria ganhar uma serenata. Só que um dia eu estava em casa e comecei a ouvir uma cantoria e fui lá ver o que estava acontecendo. Aí me deparei com uma serenata de minha primeira turma, todos com velas nas mãos e me entregaram um anel de formatura, igual ao que eles tinham ganhado no dia em que se formaram”, completou.
A professora concluiu afirmando que pretende repetir o feito. “Penso e me arrependo de não ter feito mais. Mas esse ano, como eu sempre gostei muito de história e recordações, tive a ideia de montar um varal aqui na escola (Em Bom Português) e colocar uma fita colorida com o nome de cada aluno que passasse por aqui. A intenção é de que no final de cada ano nós recolhamos essas tiras e guardemos em potes de vidros. Assim, daqui a 20 anos, por exemplo, poderei pegar esses potes e buscar saber o que cada um que tem seu nome dentro dele anda fazendo”, concluiu.