Maestro Thito: o talento e a paixão a favor da música

20 de Agosto de 2025

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Maestro Thito: o talento e a paixão a favor da música

Figura de carisma notável e admirado por todos, Francisco Ferreira de Souza, ou simplesmente maestro Thito, chegou a Fernandópolis em 1999 e aos poucos ganhou respeito não apenas pelos ensinamentos musicais, mas pela disciplina e conduta repassada aos alunos durante as aulas. Professor e maestro da Orquestra de Violeiros de Fernandópolis, Thito inicia em 2015 novas turmas de aprendizes de um instrumento que atravessa gerações: a viola caipira.

Bastante rígido e com talento musical extraordinário, o maestro compartilha com seus alunos não apenas sua experiência artística como também os preceitos básicos da boa educação, o respeito, o cumprimento de regras e desenvolvimento social.

Nascido em Aparecida do Taboado – MS, na adolescência ele se mudou para Curitiba-PR para estudar e trabalhar, mas a saudade dos familiares fez dele um violeiro. Na capital paranaense conheceu a catarinense Marli com quem se casou e teve dois filhos, Otávio Augusto e Rafael Jesus. Na década de 1980, trabalhando como bancário, passou a cantar na noite curitibana executando vários estilos musicais. Em 1987 conheceu Alessandro com quem formara a dupla “Thito Marques & Alessandro. A dupla participou de vários festivais e chegou a gravar um LP na capital paulista.

“Em 1999 me transferi para Fernandópolis com o objetivo  de concluir meus estudos e decidido a abandonar definitivamente a música. Formei em Direito e, em contato com músicos locais, renasceu a vontade de tocar. Formei então dupla com minha esposa Marli e durante sete anos tocamos na noite de Fernandópolis e região, fazendo os mais variados tipos de evento”, contou Thito.

 Paralelamente, Thito começou a ministrar aulas de violão e canto em um conservatório da cidade e para alunos particulares. Logo surgiu o convite para desenvolver o projeto de Orquestra de Viola Caipira, o que despertou o interesse de outras cidades da região. Hoje, além de Fernandópolis, Thito trabalha em projetos análogos em Guarani d´Oeste, São João das Duas Pontes e Populina.

O bom trabalho lhe rendeu além do prestígio na sociedade, uma Moção de Aplausos em 2011, honraria concedida pela Câmara Municipal.

Em entrevista, ele destaca o trabalho da Orquestra, fala sobre as inscrições para aulas de viola que seguem abertas e destaca a viola caipira, um dos instrumentos mais tocados por ele.       

 Quando a Orquestra de Violas foi fundada em Fernandópolis?

 A Orquestra de Violeiros de Fernandópolis foi criada em 2004, portanto completou dez anos em 2014.

O senhor quem a idealizou?

 Não, quem deu a ideia foi o André Pessutto, juntamente com o Rober Caetano, que na época trabalhavam na Secretaria Municipal de Cultura de Fernandópolis.

Atualmente conta com quantos integrantes?

26 integrantes fixos, que executam vários instrumentos: viola, violão, sanfona, contrabaixo, cavaquinho e percussão.

 As inscrições seguem abertas para iniciantes? Até quando?

Sim, as inscrições para iniciantes continuarão abertas até o final de fevereiro. Os interessados deverão se dirigir ao Teatro Municipal todas as segundas feiras do referido período, a partir das 18h.

Qual o local dos ensaios?

As aulas e ensaios acontecem todas as segundas-feiras no Teatro Municipal de Fernandópolis, a partir das 18h.

Como está a agenda da orquestra para 2015?

Estamos preparando um espetáculo comemorativo dos dez anos da Orquestra e já temos convites para apresentações em outas cidades da região.

Como vê o papel da música enquanto ferramenta de integração e transformação social?

É muito importante o papel da música, uma vez que traz benefícios em todos os âmbitos, podendo, através da sua prática servir de remédio para os males da alma e também como ferramenta de aproximação entre as pessoas e realização profissional.

Já vivenciou esse fator na prática?

Perfeitamente, tenho entre meus alunos, vários que tocam e cantam profissionalmente, sobrevivendo com dignidade, levando alegria através da música.

Como analisa o crescimento exacerbado do novo sertanejo em detrimento das duplas de música raiz? Há espaço para todos?

Os modismos na música sempre existiram e vão continuar existindo, pois são produtos dos interesses econômicos da indústria fonográfica. No entanto, o que realmente tem valor, fica e permanece, quando frutos do amadurecimento e desenvolvimento dos artistas e do público de cada época. Quanto a espaço, creio que sim, há para todos, pois em que pese a força da mídia; interessada somente no consumo sem reflexão, há uma grande diversidade de artistas que correspondem ao gosto das várias faixas de público, havendo assim espaço para todos os estilos. E hoje, com a internet o acesso a arquivos é imenso, possibilitando um conhecimento jamais visto anteriormente.

 O que faz o som da viola ser tão marcante e jamais perder o valor?

 Eu creio que a viola é a representante máxima da nossa identidade cultural. Por mais que a pessoa diversifique seus conhecimentos e saberes, se afastando de suas raízes, aqueles sons e sabores que estão em sua origem falam mais alto. E o caboclo quando ouve um som de viola se arrepia e não tem jeito, está no sangue, é atávico.

Hoje em dia quando alguém executa a viola a reação do público é diferente a de com qualquer outro instrumento. No Brasil, isso se deve à influência de Tião Carreiro?

 Com certeza, Tião Carreiro durante muito tempo transportou sozinho esta bandeira, quando a viola caipira era um instrumento marginalizado e a nossa cultura se curvava perante a força de modismos e imposições midiáticas. Tião Carreiro criou ritmos e estilos, quando inseriu a viola como instrumento arranjador dentro da música caipira.

Imagina como seria este cenário musical caso ele não tivesse alcançado a fama?

Difícil imaginar, ele é uma figura fundamental neste cenário. Seria como imaginar o Rio de Janeiro sem o Cristo Redentor ou o mundo da guitarra sem Jimi Hendrix.

Quem não é do ramo tem dificuldade em diferenciar o violão e a viola. Qual a forma mais simples de identificar cada um dos instrumentos?

Realmente, os dois instrumentos são muito semelhantes, mas o que difere um do outro, basicamente, é o número de cordas, pois o violão tem seis cordas e o encordoamento da viola é formado de cinco pares, totalizando dez cordas. Mas o que realmente diferencia um do outro é o som, pois cada um tem suas peculiaridades.

Atualmente ainda há interesse nos jovens em aprender a tocar viola? Houve uma diminuição no número de interessados ou um aumento?

Há um grande interesse dos jovens pelo aprendizado da viola caipira e a procura tem aumentado, graças a Deus. Isto também é reflexo do surgimento nos últimos tempos de grandes violeiros como Almir Sater, Mazinho Quevedo, Enúbio Queiroz, Rodrigo Zanc, etc.

Quando e como o senhor passou a tocar viola?

Quando eu fui para Curitiba, eu ganhei um violão do meu irmão, mas eu queria “tirar” o som da viola. Então nas férias em Aparecida do Taboado, aprendi com meu pai a afinação “Rio Abaixo” e passei a utilizá-la no violão mesmo. Mais tarde é que pude adquirir uma viola e então a ela me dedicar melhor.

Qual sua maior influência na música?

São muitas influências, pois sou um ouvinte ávido e escuto vários estilos musicais. Mas na viola, certamente a influência maior, ainda é o mestre Tião Carreiro, uma vez que eu cresci ouvindo suas músicas.

Sem o apoio do Poder Público Municipal, a Orquestra sobreviveria? Acredita em apoio por parte da iniciativa privada?

Dificilmente sobreviveríamos sem o apoio da Prefeitura de Fernandópolis, principalmente na gestão atual, que de alguma forma voltou seu olhar para nós. Para termos o apoio da iniciativa privada, precisamos de alguns instrumentos jurídicos que já estamos preparando, mas eu creio sim que é possível conseguirmos apoio da iniciativa privada.