Luiz Scatena e o comprimido milagroso do “médico” Nelson Cunha

20 de Agosto de 2025

Compartilhe -

Luiz Scatena e o comprimido milagroso  do “médico” Nelson Cunha

Se o personagem fernandopolense que nos deixou esta semana já possui passagem marcante nas linhas da história da cidade, depois do relato do advogado Luiz Guerreiro Scatena, ele será idolatrado por um número ainda maior de pessoas. Conforme destacado com ligação umbilical com a saúde em Fernandópolis, Nelson Cunha veio a Fernandópolis para trabalhar como operador de Raio X, já que possuía como formação apenas como paramédico em São José do Rio Preto. Embora habilitado apenas para “tirar as chapas” e tendo fundado o Hospital das Clínicas juntamente com o médico Ademar Monteiro Pacheco, Cunha adquiriu uma grande experiência na medicina.

Na última quarta-feira, 14, o advogado Luiz Guerreiro confidenciou com exclusividade ao CIDADÃO uma história curiosa sobre um “comprimido milagroso”, que teria recebido de Nelson Cunha e que lhe aliviara de dores constantes na região abdominal. Crente que havia sido operado de uma apendicite pelo médico Luiz Carlos Ramos, Scatena conta minunciosamente que o talento de Cunha como médico, de fato, foi posto em prática à época, até então na surdina.

Confira no relato fiel do eterno agradecido Luiz Guerreiro Scatena:

“De fato perdemos uma pessoa que fez parte nossa história. Ele teve muitas passagens por Fernandópolis e só os mais antigos sabem. Mas, algumas coisas quase ninguém conhece. Tive a felicidade de falar com ele várias vezes, visitei-o quando esteve doente e ouvi muitas histórias interessantes a seu respeito. Eu gostava muito dele e, tenho certeza, que ele gostava de mim, a recíproca é verdadeira. Mas uma curiosidade que tinha com ele é que quando eu tinha cinco anos mais ou menos, há muito tempo (risos) tive um problema de saúde. Meu pai era ‘da roça’, morava em uma chácara próxima do aeroporto. Analisem, se hoje já temos dificuldade, imaginem naquela época. E eu, ainda bem pequeno, tinha uma forte dor na barriga e não sabia do que se tratava. À época, existia o médico Luiz Carlos Ramos, um dos mais antigos. O consultório dele era próximo onde é o Restaurante Frangão. Fui levado para uma consulta com ele e fui submetido a uma cirurgia de apendicite, muito simples hoje em dia, mas na época não era tão simples. Minha mãe sempre comentava que quem tinha operado era o Dr. Luiz Carlos, eu me lembro vagamente disso. Minha mãe dizia que quando fui operado continuei com dores e que não sabia se era psicológico. Um dia apareceu por lá, na Santa Casa, um tal de Nelson Cunha que me receitou um comprimido que fez com que minhas dores desaparecessem para sempre.

Depois, cresci, virei vereador, presidente da Câmara e conheci o Nelson Cunha. Estreitei a amizade com ele quando ainda era secretário de Sáude. Aí, abandonei a política, ele se candidatou, se elegeu novamente, e mesmo tendo muita diferença de idade nos dávamos muito bem, as cabeças batiam bastante. Contei a história para ele, do comprimido milagroso e ele fez algumas perguntas para mim e foi se recordando. Foi aí que ele começou a dar risada e me disse que quem tinha me operado havia sido ele e não o médico, de fato, Luiz Carlos Ramos. Ele me confidenciou que o Luiz Carlos apenas contratava o serviço. O Nelson não era médico formado, mas sabia muito mais, era prático.

Ele ria, ria, mas estou vivo por milagre, sou um sobrevivente e hoje tenho certeza de que tive sorte, fui privilegiado, sofri um procedimento das mãos do Nelson Cunha. E nessa mesma conversa, o mais interessante, é que ele me disse que havia operado outras pessoas, inclusive o promotor de justiça de Votuporanga José Vieira, filho de Moacir Vieira da Costa, que era amigo do Nelson. Ele contava com orgulho que o Moacir, cansado de esperar pelo médico mandou o Cunha operar o filho dele, também de uma apendicite.

No dia do velório do Nelson Cunha eu disse ao Zé Vieira que tínhamos algo em comum e contei a ele que também nem sonhava com isso. Comecei a contar a história e ele ficou feliz da vida. Parecíamos dois doidos, um mostrando a cicatriz para o outro. A dele era bonita igual a minha, quase imperceptível. Eu disse que o Nelson Cunha treinou na minha barriga depois fez a dele. O Nelson realmente sabia um pouco de tudo, tinha conhecimento de causa, não era formado mas, naquela época, era comum, até hoje têm dentistas e médicos práticos exercendo a profissão, só que hoje em dia se fizerem isso são processados como vemos na Tv. Bom, enfim, por isso quero agradecer ao Nelson Cunha por estar vivo hoje e por tudo que ele fez pela cidade. Foi um cara que deu benefício à cidade ao invés de se beneficiar dela”.