Hoje se completam sete dias de uma nova etapa na vida do casal Aparecida Longati Vituri Miorin, 71, e Luiz Miorin, 72, residentes no Parque Residencial São Vicente de Paulo, o lar dos idosos de Fernandópolis. O casal que deu provas de que o amor verdadeiro ainda existe se uniu oficialmente no último sábado, 10, e já está desfrutando dos prazeres de uma vida a dois, realidade totalmente diferente da vivida por ambos nos últimos anos.
A rotina de solidão e tristeza agora deu lugar a uma nova fase de amor e companheirismo, trazendo de volta o frio na barriga que ambos nem sequer sonhavam que sentiriam novamente.
Com espírito de “mocinhos” os dois provaram estar em clima de lua de mel na primeira semana em que dividiram o mesmo teto, permanecendo de mãos dadas durante toda a entrevista ao Jornal CIDADÃO. Agora casados oficialmente, os dois passaram a viver em uma das casas do núcleo Santa Rita – conjunto de moradias pertencente ao Parque Residencial São Vicente de Paulo destinado a casais de idosos – que fica ao lado do Recanto do Tamburi. Dona Cida já residia no núcleo Santa Rita e, por isso, só encontrava senhor Luiz aos domingos, já que ele ficava na sede da entidade. Assim, o namoro à distância se tornou uma união estável e os dias longe um do outro foram cessados.
E se engana quem pensa que o casamento se deu apenas com uma união oficial em cartório. Com a animação de Canhotinho e sua sanfona, cerca de 70 pessoas estiveram presentes na festa do casal que ocorreu por volta das 12h. Cada um com seus motivos, nenhum dos filhos de ambos compareceram ao cartório, tampouco na festa do casamento.
O casal fez a troca de alianças, receberam presentes, dançaram e se emocionaram feito dois adolescentes no evento que foi realizado no Recanto do Tamburi. Um dos desejos de Dona Cida era ganhar como presente um forno elétrico, como ela mesma disse. O micro-ondas foi o presente dado pelo empresário Índio Fernandes, proprietário da estância onde o casal se encontrou por duas vezes em passeios promovidos pela entidade. “Eu disse ao Índio que em dezembro de 2013 nós dançamos separados na festa de final e ano no sítio dele, já em 2014 dancei agarradinho com ela”, brincou Luiz Miorin.
O NAMORO
Como qualquer outro namoro, especificamente os que ocorriam na época em que Aparecida e Luiz eram jovens, o primeiro contato se deu com a famosa “paquera”. Os olhos azuis do senhor Luiz chamaram a atenção de Aparecida, que por ironia do destino, adoeceu e passou uns dias na sede do Parque atestando que “há males que vem para bem”. Dentre outros 70 idosos, apenas um deles despertou o olhar de dona Cida que sentiu o coração bater descompassado durante os dias em que esteve convalescente na sede da entidade. “Eu havia ficado sabendo que ela gostava de mim, mas ainda não tinha a visto. Depois de uns dois dias ela puxou uma cadeira e se sentou ao meu lado. Conversamos bastante sobre filhos e relacionamentos passados e a partir daí sentimos um carinho diferente que era recíproco”, contou o idoso que ficava retraído em virtude de uma hérnia que lhe tirava o sono e de problemas dentários que ocultavam o largo sorriso que voltou a ser frequente com a paixão, à época, emergente.
Passados alguns meses de paquera e muita prosa, Luiz percebeu que dona Cida já lhe provocara saudade e passou a conviver com os primeiros sintomas do amor. Ainda ressabiado com seus problemas de saúde, o amor falou mais alto e, então, ele pediu permissão à assistente social Carmem Lúcia para que pudesse visitar sua amada no núcleo Santa Rita. Funcionária da entidade há 18 anos, naquele dia Carmem passaria a contar como peça fundamental para a união dos dois. Foi ela, inclusive, quem correu atrás de tudo, desde a regularização de seu estado civil em Vitória Brasil onde foi desquitado até a compra um sapato novo que ele tanto queria. “É algo tão inédito e bonito que a gente acaba se desdobrando para ver a felicidade dos dois”, disse a assistente social.
Com a autorização da visita, Luiz foi até a casa de Aparecida abrir o jogo. “Já cheguei de braços abertos cantando uma música do Zezé di Camargo e Luciano. Conversei com ela e expus meus problemas de saúde. Ela me entendeu e aceitou e assim fiquei mais tranquilo e começamos a namorar”, contou ele que passou a visitá-la aos domingos.
Apaixonados, os dois provaram juntos o doce sabor de um namoro saudável e mais uma vez davam provas de que o amor não está na posse, senão na aceitação, cumplicidade e apreciação. “M entreguei de corpo, alma e coração. Não ligo para beleza exterior, e amo muito a beleza que ela tem por dentro. Gosto de tudo que ela faz e fala e o carinho dela me cativou”, disse senhor Luiz, seguido de um largo sorriso.
Dona Cida, que sofrera de depressão após ser abandonada pelo ex-marido com quem viveu por 28 anos, atrelado à perda de dois irmãos, do padrasto e da mãe, disse que Luiz foi como um remédio para os dias de martírio. “Eu vivia triste, minha única alegria era ir à missa. Mas com o Luiz eu me sinto muito feliz, pois ele é muito amoroso e demonstra muito o que ele sente por mim. Eu sei que é verdadeiro e agora meus dias se tornaram mais alegres”, afirmou ela que disse ter ganhado de presente de aniversário um grande marido, já que os dois se casaram em sua data de aniversário.
Questionado sobre os sintomas de depressão que também sofrera, senhor Luiz ironizou e mais uma vez soltou uma gargalhada característica. “Eu já tinha me esquecido disso, lembrei agora que você perguntou”, disse ele se referindo ao tempo em que passou a conviver com a esposa.
Com bom humor ele disse que sempre brincava dizendo que ao se casarem os dois ficariam milionários, em alusão ao seu sobrenome. Outra de suas brincadeiras costumeiras é dizer para esposa que chegou em sua vida como um presente, segundo ele, bom, durável e não perecível”.
ELA
Nascida em Floreal, em 1944, Aparecida Longati Vituri, agora Miorin, veio para Fernandópolis na década de 70 e está no Parque Residencial São Vicente de Paulo desde o dia 29 de março de 2013. Ela trabalhou como lavadeira, passadeira, faxineira da igreja católica e foi cuidadora de doentes em domicílio. Durante cinco anos ela foi padeira do asilo.
ELE
Nascido em Nhandeara, no ano de 1942, Luiz Miorin já vendeu sorvetes nas ruas de Santa Fé do Sul, onde residia antes de vir ao asilo, foi lavrador, dono de mercearia, de bar, trabalhou na Sgotti por 10 anos vendendo artefatos de cimento e ainda trabalhou com serviços de reprodução e fotografias. Ele está no asilo desde o dia 14 de outubro de 2013 quando veio do lar de idosos de Santa Fé do Sul para ficar mais próximo dos filhos Carlu, que é alfaiate, Luis Henrique que é cabeleireiro e Silvia Cristina, professora de Inglês.