Fernandopolenses presenciam “mineiraço”

“Foi aí que olhei para o céu e novamente notei as nuvens carregadas. Mas a chuva das nuvens dão lugar a chuva de gols germânicos (...)"

20 de Agosto de 2025

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Fernandopolenses presenciam “mineiraço”

Há poucos dias, CIDADÃO publicou uma matéria com Ionne Terezinha. Na ocasião, ela detalhou sobre como foi presenciar a derrota do Brasil para o Uruguai, na final da copa do mundo de 1950, no episódio que ficou conhecido como “maracanaço”.

Poucos dias depois da publicação, novamente a seleção brasileira iria se despedir da chance de conquistar a taça em casa, com milhares de brasileiros no estádio. Alguns deles eram de Fernandópolis e região.

Os Fernandopolenses Edson e Patricia Costa, acompanhado dos filhos Bruno e Gabriel, estiveram em Belo Horizonte para ver o jogo, e não esperavam por tal resultado. Em um dia de tanto azar para a seleção, pelo menos um dos filhos, Bruno, teve a sorte de aparecer na TV para todo mundo, exibindo um cartaz, que arriscava um engraçado palpite: “Feijoada 2 x 0 Chucrute”.

Para Edson, a sensação foi de ter sido “massacrado”. Durante o jogo, o fernandopolense definiu o comportamento da seleção como “pane geral”. “A sensação ainda é de tristeza”, disse, mesmo com tantas sátiras rolando pela internet após a vexatória derrota.

Na saída do estádio, Edson conta que ecoava o silêncio, que pouco era quebrado pela vibração dos alemães, que saíram rindo. “Quando o jogo acabou, todo mundo ficou de pé para aplaudir a seleção alemã, com sinceridade, e todo mundo vaiou a brasileira”, disse Edson, que não esperava uma derrota tão expressiva.

O PAPEL DE UM COADJUVANTE NO MINEIRAÇO

No mesmo estádio, estava presente o coordenador do curso de jornalismo da FEF, Marcelo Matos. Residente de São José do Rio Preto, o professor está todos os dias em Fernandópolis, e após a poeira (e a vergonha) terem baixado, publicou sua experiência em pleno “mineiraço” em uma rede social. Abaixo, a história de Marcelo, que como uma crônica, detalha a sensação de estar lá.

 “Um dia depois de estar no "Mineiraço" resolvi escrever para compartilhar essa experiência. Esse distanciamento foi necessário para analisar situações nas quais estamos muito envolvidos.

O segredo de um bom coadjuvante é nunca roubar a cena. Tem que sempre apoiar o foco de atenção que geralmente está com o protagonista. Cumprir bem seu papel é fundamental para o sucesso do espetáculo. E este estava pronto no Mineirão com mais de 50 mil torcedores canarinhos, jogadores mineiros escalados e um adversário que mesmo nos goleando nas áreas econômica, social e política, nunca havia ganhado de nossa seleção na história das copas.

Mas como todo bom enredo dramático, surpresas acontecem gerando reviravoltas. É a lei da falha trágica na dramaturgia. O herói sofre um revés por forças fora de seu alcance. O que não sabíamos era que as nuvens carregadas em cima do estádio anunciavam a tragédia que iria acontecer.

Fiz o meu papel. Cheguei quietinho em Belo Horizonte, bem ao estilo mineiro, e desfrutei do incrível transporte público rápido montado para o evento. Depois caminhei vinte minutos até chegar ao estádio, mas não senti o tempo passar porque o clima de alegria imperava. As celebridades também estavam presentes. Vi o famoso goleiro goleador paraguaio Chilavert e tirei fotos com o músico Oswaldo Montenegro. Todo o ambiente estava propício para a festa. Sentei num lugar privilegiado, perto do gol que o Brasil jogou no primeiro tempo. Começa a partida e a festa se anima. Gritos de apoio e hino à capela apoiam a nossa seleção que nos cinco primeiros minutos agridem o nosso rival como nunca. A situação é animadora e a festa é bonita.

Foi aí que olhei para o céu e novamente notei as nuvens carregadas. Mas a chuva das nuvens dá lugar à chuva de gols germânicos e de lágrimas da torcida. Foram poucos minutos que nos sufocavam como se estivéssemos submersos. As máscaras caem e os rostos de espanto dos brasileiros aparecem se contrapondo com o constrangimento dos alemães e com a situação inusitada. Pequenas confusões nas arquibancadas são controladas pela segurança, mas a apatia domina a os milhares de torcedores que não acreditam no que presenciam.

Olhando para o campo via jogadores brasileiros acuados, com medo, perdidos, sem saber o que estava acontecendo. Sensação de quem é atropelado. Ninguém merecia isso. A torcida brasileira por ter que passar a humilhação ao vivo para todo o mudo; os jogadores brasileiros por entrarem na história pela porta dos fundos; e os alemães que depois de cada gol ficavam cada vez mais constrangidos. O aprendizado de uma derrota vexatória não é termos a consciência do que somos, mas identificar nosso potencial para o “devir”.

Não devo mais ter a oportunidade de ver outra Copa do Mundo no Brasil. Mas tenho certeza que ainda irei sentar num “buteco fuleiro” e rir disso algum dia. Aliás, essa foi a cena que presenciei na madrugada de BH, mas os protagonistas desta vez eram os alemães. Eu sou um mero coadjuvante nessa história”. – Por Marcelo Matos, no dia seguinte do “mineiraço”.