Voepass teve as operações suspensas em 11 de março, até que, em 24 de junho, a Anac decidiu pela cassação do certificado
9 de agosto de 2024, 13h22. O avião ATR-72 que realizava o voo 2283 da Voepass entre Cascável (PR) a São Paulo caiu em área residencial na cidade paulista de Vinhedo. O acidente foi registrado por câmeras que mostraram a aeronave cair em um parafuso chato, movimento praticamente irrecuperável de um avião.
A bordo, 62 pessoas, entre elas, a médica de Fernandópolis, Arianne Albuquerque Estevam Risso, 34 anos, casada com o fernandopolense Leonardo Risso.
A notícia de que a bordo da aeronave estava a médica de Fernandópolis foi confirmada no final da tarde, horas após a queda da aeronave.
Arianne foi sepultada sob aplausos em Fernandópolis na tarde de 17 de agosto, após velório e homenagens na Igreja Batista.
A médica Arianne veio de Fortaleza para estudar medicina em Fernandópolis onde se formou em 2015. Aqui conheceu o marido, Leonardo Risso da Silva, com quem se casou.
Após formada, Arianne trabalhou na Unidade Básica da Família da Brasilândia até 2020, quando o casal deixou Fernandópolis para que ela pudesse fazer especializações. Primeiro em Blumenau (SC) onde ela fez clínica médica. Atualmente ela estava concluindo a residência em oncologia no Hospital de Câncer de Cascavel.
Ela e outra médica do Hospital de Câncer, embarcaram no voo da Voepass que saiu da cidade para São Paulo onde iriam participar de congresso de oncologia.
O QUE ACONTECEU
Desde o acidente, muita coisa aconteceu: familiares das vítimas continuam lutando na justiça pelos seus direitos, e revelações sobre o funcionamento da empresa vieram à tona após investigações por órgãos federais.
A imprensa registra a cronologia do acidente no dia 9 de agosto de 2024, com o avião de matrícula PS-VPB da Voepass que partiu do Aeroporto de Cascavel (PR) rumo a Guarulhos (SP). Era um voo regular, com 58 passageiros e quatro tripulantes, todos com habilitações em dia e experiência comprovada no modelo, incluindo treinamento para operações em condições de gelo.
A aeronave, fabricada em 2010 e incorporada à frota da Voepass em 2022, decolou às 11h58 (hora local). No início da subida, os sistemas de proteção contra gelo foram ativados, após alerta emitido pelo detector eletrônico instalado na asa esquerda.
Ao longo do cruzeiro, o alerta acendeu e apagou várias vezes. A tripulação comentou sobre "bastante gelo" e chegou a chegou a lidar com uma mensagem de falha no sistema de degelo.
Nos minutos finais do voo, começaram a surgir alertas críticos no painel: "Cruise Speed Low" (Velocidade de cruzeiro baixa), "Degraded Performance" (Desempenho degradado) e "Increase Speed" (Aumentar velocidade), o que revela que havia um problema sério para manter o avião voando como deveria
Às 13h22, o avião caiu em uma área residencial de Vinhedo (SP), a cerca de 70 km de distância do aeroporto de Guarulhos. Não houve sobreviventes, e o impacto gerou um incêndio pós-colisão que destruiu boa parte da fuselagem
O Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), órgão da FAB (Força Aérea Brasileira) divulgou no mês seguinte à tragédia um relatório preliminar com as informações coletadas à época sobre a queda. Nela, os investigadores destacam a seguinte cronologia do evento:
11h58 - Decolagem de Cascavel, com 58 passageiros e quatro tripulantes
12h12 - Sistemas de antigelo das hélices ligados
12h14 - Detector eletrônico de gelo indica acúmulo ao cruzar determinada altitude de voo
12h15 - Sistema de degelo da estrutura do avião é ligado e, em menos de 40 segundos, um alarme indica falha nesse sistema. Consequentemente, os sistema é desligado.
12h16 a 13h12 - Alertas de gelo intermitentes são registrados na cabine
13h15 - Copiloto fala com o despachante da empresa em Guarulhos para coordenar informações sobre a chegada ao aeroporto na cidade
13h17 - Comandante informa passageiros sobre horário de pouso e o sistema de degelo é novamente ligado
13h18 - Aparece o alerta "Cruise Speed Low", ou seja, velocidade de cruzeiro baixa, de 353 km/h
13h19 - O alerta de "Degraded Performance" acende, indicando que o avião já não estava em seu melhor desempenho para o voo
13h20 - Um dos pilotos comenta "bastante gelo" e aciona o sistema de degelo pela terceira vez
13h20 - Aeronave inicia curva para uma posição no espaço aéreo de onde continuaria para o pouso
13h20 - Com velocidade de 313 km/h durante a curva, é emitido um alerta para que fosse aumentada a velocidade da aeronave ("Increase Speed")
13h20 - Ruídos de vibração da aeronave começam a ser ouvidos, e o alarme de perda de sustentação ("Stall") é acionado
13h21 - O controle da aeronave foi perdido e ela, após virar algumas vezes, entra em parafuso chato, colidindo com o solo instantes depois.
O Cenipa classificou a ocorrência como acidente, com dois fatores principais a serem ponderados: formação de gelo e perda de controle em voo. Entre as observações do documento, divulgado em setembro de 2024, destacam-se:
- Ativação repetida dos sistemas de anti-gelo e de-gelo, com alertas intermitentes e falhas registradas;
- Condições meteorológicas propícias a gelo severo no nível de voo da aeronave;
- Mensagens de degradação de desempenho e baixa velocidade de cruzeiro emitidas pelo sistema de monitoramento;
- Procedimentos previstos para evitar formação severa de gelo não evitaram a perda de sustentação da aeronave;
- Impacto em área residencial, sem separação estrutural em voo e sem incêndio antes da colisão;
- Tripulação qualificada e com experiência no tipo de operação;
- Uma das unidades de ar-condicionado estava inoperante desde quatro dias antes, conforme previsto na lista de equipamentos mínimos
O relatório final deve ser publicado na próxima quarta-feira, 13, e poderá confirmar ou descartar hipóteses levantadas na fase preliminar. A investigação do Cenipa não busca descobrir culpados, mas elucidar as causas do acidente para evitar que novas tragédias ocorram, e ela acontece de maneira independente de outras apurações nas esferas criminal e cível.
As indenizações às famílias estão sendo tratadas em processos separados da recuperação judicial.
Atualmente, sete aviões modelo ATR utilizados pela Voepass, companhia aérea que teve o certificado de operador aéreo cassado em definitivo, estão estacionados no pátio do aeroporto Leite Lopes, em Ribeirão Preto, monitorados por vigilantes em tempo integral e à espera de um destino.
Sediada na cidade do interior paulista, a Voepass teve as operações suspensas em 11 de março, até que, em 24 de junho, a Anac (Agência Nacional de Avição Civil) decidiu pela cassação do certificado.
"Vi minha filha queimar ao vivo na televisão". O desabafo é da empresária Fátima Albuquerque, 66, mãe de Arianne Risso, 34, uma das vítimas da queda do avião da Voepass ao chegar a São Paulo para os procedimentos de identificação do corpo da filha.
Na entrevista à imprensa, a mãe de Arianne pediu responsabilização da companhia aérea pelo acidente, assim como da Latam, que vendeu a passagem de sua filha. As empresas possuem um codeshare —acordo entre companhias aéreas.
"Isso não foi fatalidade. Foi culpa da 'voemorte', foi culpa da ganância humana", afirma. "Aquilo não era um avião, era uma lata velha. Foi uma tragédia anunciada.".
Em recente entrevista, ela afirmou: "Vivemos a queda do avião todos os dias".
Na primeira entrevista após o acidente, o fernandopolense Leonardo Risso Silva, 30, sobre a morte da esposa esposa, a médica Arianne, que estava no avião da Voepass que decolou de Cascavel (PR) para São Paulo, onde ela participaria de um congresso médico., destacou:
“A Arianne era a pessoa mais amável que eu conheci. Meu eterno amor", disse Leonardo em vídeo para a TV Tem (g1) no final da tarde de sábado, 10 de agosto de 2014. Eles se conheceram em Fernandópolis e estavam casados há oito anos.