Jornalista chegou à cidade em 11 de agosto de 1965, constituiu família e se tornou empresário da comunicação
A cidade de Fernandópolis despede-se de um dos maiores nomes da imprensa e da história local. Faleceu aos 84 anos, Alencar Cesar Scandiuzi — jornalista, empresário e, acima de tudo, um apaixonado pela comunicação e pela cidade que escolheu para viver. Deixa um legado para a história do jornalismo fernandopolense.
Alencar Cesar Scandiuzi chegou em Fernandópolis em 11 de agosto de 1965, vindo de Mirassol, sua terra natal, para trabalhar como locutor e, mais tarde, gerente da Rádio Educadora Rural de Fernandópolis.
O que era para ser apenas uma oportunidade de trabalho se transformou em um vínculo profundo com a cidade, onde constituiu família, amizades e uma trajetória profissional exemplar.
O jornalista nasceu no dia 5 de dezembro de 1940, filho de Henrique Scandiuzi e dona Severina Tonelo. Quando começou no rádio em Mirassol adotou o nome artístico de “Cesar Filho”. Décadas depois decidiu incorporar o “Cesar” em seu nome de registro. Passou a assinar Alencar Cesar Scandiuzi.
Ao longo de seis décadas em Fernandópolis, o jornalista fundou o jornal Folha de Fernandópolis nos anos 70 e conquistou a concessão das rádios Jornal FM e Difusora AM em sociedade com Darci Araújo. Nascia ali o Sistema Líder de Comunicação. Participou ainda ativamente do surgimento da Editora Ferjal. do jornal CIDADÃO e do Grupo Scandiuzi de Comunicação.
Sua voz — firme, crítica e respeitada — ecoou nos microfones, nas colunas e nos corações dos fernandopolenses. A coluna Bastidores no jornal e no site CIDADÃOnet sempre foi leitura obrigatória dos bastidores políticos locais, e o editorial Dose das Doze no rádio, tornaram-se símbolos de um jornalismo sério e necessário.
Em 2015, ao completar 50 anos em Fernandópolis, foi homenageado com uma reportagem especial e emocionou ao reproduzir, meio século depois, a imagem de sua chegada à cidade.
Na edição especial de homenagem dos 50 anos, Alencar recebeu homenagens de amigos que reproduzimos abaixo:
11 de agosto de 1965. Na foto Alencar Cesar Scandiuzi em frente ao antigo e extinto Foto Primavera, durante transmissão de uma promoção
11 de agosto de 2015, ele volta ao mesmo local para a reprodução da foto, ao lado da filha Glenda
Quando comemorou 50 anos em Fernandópolis no dia 11 de agosto de 2015, o jornal CIDADÃO publicou uma homenagem sobre a trajetória de Alencar Cesar Scandiuzi desde o dia que pisou em solo fernandopolense no dia 11 de agosto de 1965.
Ao longo de sua trajetória, foi acompanhado por amigos, que decidiram escrever sobre o jornalista no cinquentenário de sua trajetória na imprensa de Fernandópolis. Selecionamos alguns dos artigos, que o leitor pode conferir abaixo:
Um irmão que a gente elege
Fernando Jacob Filho*
No último dia 11 de agosto o Jornalista Alencar Cesar Scandiuzi, meu dileto Amigo, completou 50 anos de Fernandópolis. Tinha sido contratado pela Rádio Educadora Rural, do Leodegario Fernandes de Oliveira muito conhecido pela alcunha de "Filinho".
Corria o ano de 1965. Alencar logo no início, induzido pelo Patrão, filiou-se à corrente política do Dr. Adhemar Monteiro Pacheco. Em 1968 houve eleições municipais e meu Pai, Fernando Jacob, apoiado pelo então Prefeito, Percy Waldir Semeghini, foi candidato a prefeito. O oponente era o empresário Leonildo Alvizi. Adhemar Pacheco apoiou a candidatura de Alvizi e o Alencar (Cesar Filho) ficou do lado deles.
Desse fato surgiu uma antipatia minha por ele. Mas tinha outro fato que agravava essa situação: ele não cumprimentava as pessoas na rua. Isso me deixava "fulo" de raiva.
Anos depois, a política acabou e um Amigo comum, o Newton Carlos Esmerini, me "obrigou a ter uma conversa com o César, que me informou que, durante a campanha política, o Juiz Antero Lichiotto estava processando-o por ofensa ao meu Pai. E que, na audiência das testemunhas de acusação, meu pai havia registrado que não se sentia ofendido com aquilo e que o Jornalista deveria ser absolvido. Que a imprensa dever ser respeitada na sua missão de informar.
Quanto ao outro defeito que eu via nele, não cumprimentar as pessoas na rua, explicou-me ele que tinha alto grau de miopia e que, simplesmente, não enxergava, a ponto de reconhecer, as pessoas na rua. Tornamo-nos, então, os mais novos "amigos de infância". Desde esse dia, a lealdade, o respeito e admiração sempre foram reais, de parte a parte. Tenho-o na conta de grande Amigo. Escrevo Amigo sempre com maiúsculo, porque, para mim, a Amizade é a maior instituição da vida em sociedade.
Revelou-se um grande piadista/repentista e viajar com o César é uma experiência engrandecedora. Fizemos várias viagens juntos. Já nos divertimos muito.
Quando me mudei de Fernandópolis para São José do Rio Preto, o César me apresentou um Amigo, João Roberto Curti, que se tornou um irmão para mim, como ele mesmo é para mim. Curti foi meu companheiro de Escritório em Rio Preto e faleceu no ano de 2000, deixando um grande vazio em nossos corações.
Alencar Scandiuzi, o "César", é daqueles irmãos que a gente elege; que dispensam laços consanguíneos. Homem ponderado, grande pensador, tem sempre um conselho certo para qualquer situação que se possa estar vivendo.
Nosso relacionamento é tão forte, que fomos descobrindo algumas afinidades e coincidências: ele nasceu em 5 de dezembro, a mesma data em que meu pai fazia aniversário; o pai dele se chamava Henrique, que é o nome do meu neto; ele tem um neto que se chama Fernando, que é o meu nome e, também, de meu pai e de meu filho; e, mudou-se para Fernandópolis no dia 11 de agosto, quando se comemora o "dia do Advogado".
Quero encerrar e, na falta de palavras minhas que possam traduzir melhor nossa Amizade, usar as de Milton Nascimento: "Amigo é coisa para se guardar/No lado esquerdo do peito/Mesmo que o tempo e a distância digam "não"/Mesmo esquecendo a canção/O que importa é ouvir/A voz que vem do coração". Forte Abraço, meu AMIGO!
*Fernando Jacob Filho – advogado - Texto publicado no jornal CIDADÃO, edição de 15 de agosto de 2015
Meu melhor amigo
Edilberto Imbernom*
" Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os amores. Mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos" - Vinicius de Moraes
Quando Alencar Cesar Scandiuzi deixou nossa Mirassol, em agosto de 1965, eu acabara de completar vinte anos e trabalhava nos jornais Correio de Mirassol e Diário da Região. Durante quatro anos tinha, também, trabalhado com o Cesar na Rádio Difusora de Mirassol, onde ele se destacava como figura exponencial, quer na locução, quer na programação.
Profissional respeitado, Cesar Filho - esse seu "nome artístico" - ensinou-me cada passo a ser dado no meio radiofônico, tempo inesquecível, aprendizado que me serve até hoje, em especial a intimidade com o microfone, esse aparelhinho que deixa as pessoas pálidas e com as mãos frias...
Nas lides da Difusora de Mirassol, emissora da extinta Rede Piratininga, amealhei inúmeros amigos que guardo carinhosamente até hoje. Entre eles, o especialmente querido João Roberto Rodrigues Curti, prematuramente falecido, que passou por Fernandópolis e, graças a seu indiscutível talento, emprestou eu potente vozeirão às Redes Tupi e Globo de TV e rádio, para, finalmente, instalar sua própria emissora de rádio em São José do Rio Preto.
Nesse ponto, peço permissão para deter-me numa breve confissão: Alencar Cesar, João Roberto Curti e eu edificamos uma tal relação de amizade que, de tão sincera e solidária, revelou-se eterna. Tivemos tantas e tão agradáveis oportunidades de congraçamento, quer no trabalho, quer na família, ou mais particularmente nos momentos de pura descontração, que os contabilizo como generosa graça divina.
O Curti se mandou, sem prévio aviso e totalmente fora do combinado. Ficamos, eu o Cesar, a nos consolar mutuamente, tocando a vida em frente. Venho a Fernandópolis com frequência. Muitas vezes só pelo prazer de poder abraçar o Cesar, nem que seja só para um cafezinho. E vamos mantendo aquecida essa chama.
Há 50 anos Fernandópolis nos sequestrou profissionalmente o Cesar. Mas jamais conseguirá tirá-lo do lugar que ocupa em meu coração: o de MEU MELHOR AMIGO!
*Edilberto Imbernon – advogado - Texto publicado no jornal CIDADÃO, edição de 15 de agosto de 2015
Já na Rádio Difusora entrevista, ao lado de Darci Araújo, com o Fernando Henrique Cardoso, em Fernandópolis para o lançamento da candidatura de Raul Gonçalves a deputado federal em 1982 . Na foto, Fernando Sisto, Raul Gonçalves, Fernando Henrique Cardoso, Alencar Cesar Scandiuzi e Darci Araújo
O “Cesar da Rádio”
Milton Edgard Leão*
Sempre morei na Rua Rio Grande do Sul, no 725, e ali fui criado, ao lado da Rádio Educadora, onde conheci o "Cesar da Rádio", por volta do ano de 1966.
Já iniciara sua atividade de locutor e viera de Mirassol para atender as determinações do jornalista Emerson Sumariva, surpreendendo desde a chegada como um homem preparado e já vivido intensamente na locução e análise política. Ainda como estudante colegial e vestibulando, já passávamos a conhecê-lo e respeitá-lo, mas informações do meu pai Chiquinho Leão. Amigo pessoal no esporte e na escola do "Zé Cabral e do Otacílio", nossa proximidade levou-nos a conviver mais com o Cesar, conhecido também como Alencar Scandiuzi, admirando seu esforço e dedicação.
Fundaria a "Folha de Fernandópolis", onde a crítica consciente e o raro elogio, mesclavam-se nas diversas edições, demonstrando uma imprensa livre, respeitosa e crível. Nestes parâmetros de personalidade forte, muitos anos convivemos, pois aprendera respeitar as informações divulgadas, quando fora honrado com a vereança.
A retidão de seu caráter tornara-nos muito próximos, onde a admiração e confiança serena, levou-nos a uma maior união quando Fernando Jacob Filho formou nosso grupo e criamos a empresa "Choperia 99" e posteriormente a Rádio Jornal FM, juntamente com o Darci Araújo.
A conquista da Rádio Difusora, a alegria de participar das duas emissoras, comparava-se a mesma felicidade que sentiríamos, quando juntos, na companhia do Dep. Jaco Pedro Carolo, conseguíamos que o Ministro criasse a Agência do INPS em Fernandópolis, ou conseguíamos com Carolo e o Secretário Paulo Gomes Romeo a criação do Curso de Enfermagem Obstetrícia da Fundação Educacional de Fernandópolis no Conselho Est. De Educação.
Ao conviver nestas emoções, como na inauguração do Estádio Municipal "Claudio Rodante", sempre ativos, participando, vimos convictos que tudo valeu a pena, que este meio século vivido na nossa Fernandópolis deu-nos a maior gratidão e a consciência da imensa responsabilidade com a nossa terra.
Quero transmitir, em meu nome pessoal, a gratidão do amigo, pela alegria do trabalho fértil e o conselho sadio. Só o fato de podermos olhar para trás e vermos a família maravilhosa criada, as filhas e netos, mourejando nas suas atividades, podemos agradecer a Deus, singelamente. Por todos estes presentes e pela enorme lembrança da participação nos atos da nossa cidade. Um grande abraço!
*Milton Edgard Leão, ex-prefeito – Texto publicado no jornal CIDADÃO, edição de 15 de agosto de 2015
A Cesar o que é de Cesar
José Roberto Moreira
Conheci o Cesar Filho nos programas que ele comandava na Rádio Difusora de Mirassol. Daí o "Cesar" que deve ter vindo do Cesar de Alencar da antiga Rádio Nacional. Com o tempo fomos nos igualando na idade: mais próximos, eu em Jales e ele em Fernandópolis, junto com o companheiro Francisco Melfi, fundamos a "Folha de Fernandópolis". Trabalhamos juntos e bem.
Então, a cidade que já tinha excelentes emissoras de rádio levou um choque com o jornal que, de forma independente, mexeu com as estruturas locais, inaugurando um novo jeito de falar as verdades que a cidade tanto precisava.
O crescimento das empresas comandadas por ele, agora Alencar Cesar Scandiuzi, foi apenas um passo à frente: emissoras de rádio, jornal e gráfica. Para alguém que dedicou 50 anos de sua vida a Fernandópolis, constituiu família e cujos filhos e netos são o foco e a razão de sua vida, é uma retribuição justa.
Assim é o amigo, o companheiro, o cidadão probo e que cuja história se confunde com a própria história de Fernandópolis. Que esses 50 anos se multipliquem por outros 50 e que seu exemplo permaneça para as próximas gerações.
A César o que é de César.
José Roberto Moreira – foi Chefe de Gabinete do ministro Edinho Araújo - Texto publicado no jornal CIDADÃO, edição de 15 de agosto de 2015
Alencar Cesar Scandiuzi com as filhas e netos