Projeto “Humanidade 21” é desenvolvido pela Polícia Civil de Fernandópolis
Um projeto de investigação inédito no Brasil está sendo liderado pela Delegacia Seccional de Polícia de Fernandópolis, com o objetivo de identificar pessoas enterradas como “desconhecidas” e notificar as famílias que, muitas vezes, ainda aguardam por notícias. O projeto leva o nome de “Humanidade 21”, exatamente por focar nos casos deste século. O projeto é tocado em parceria com a Universidade Brasil.
A primeira certidão de óbito, como resultado do projeto, foi emitida no último mês de maio, pelo Cartório de Registro Civil de Meridiano, atribuindo dignidade à família e à memória do falecido, encerrando um ciclo que ainda permanecia aberto.
Esse caso é de um homem sepultado em 2015 como desconhecido no Cemitério de Meridiano, região de Fernandópolis. A partir da identificação do cadáver foi possível chegar à família na cidade de Piracicaba que achava que ele ainda estava vivo e retornaria a qualquer momento.
“Nesse caso, é preciso um cuidado especial para garantir que não vamos gerar expectativas frustradas na família que espera notícias”, diz delegado seccional de Fernandópolis, Everson Contelli
NOVAS FERRAMENTAS
O delegado explica que o projeto Humanidade 21 está em andamento desde o final de 2023 e pretende descortinar a realidade dos mortos desconhecidos no Brasil, a começar pela região.
“Após um levantamento nos bancos de dados nacionais e a descoberta de que 17 pessoas foram enterradas como desconhecidas na região de Fernandópolis, a Polícia Civil desenvolveu uma metodologia de trabalho que visa realizar auditoria qualificada em todos os casos de pessoas mortas desconhecidas”, explica.
Inicialmente o projeto analisa as mortes de pessoas desconhecidas, denominadas nos arquivos públicos do país como “óbitos desconhecidos”, ocorridos a partir de 1º de janeiro de 2000”.
“Nós desarquivamos os inquéritos e iniciamos o trabalho de identificação usando as novas ferramentas e recursos existentes em o que naquele momento histórico, muitas vezes, não era possível. É um trabalho de formiguinha, que pode levar semanas ou meses até chegar em uma identidade. Mas ele é muito importante para que possamos levar dignidade às famílias”, diz Contelli.
PROJETO
O projeto foi instituído oficialmente nas regiões de Presidente Prudente e Fernandópolis A busca pela identidade começa a partir dos fragmentos dos Inquéritos Policiais e utilizando as ferramentas tecnológicas da atualidade (bancos de dados, IA, softwares forenses, DNA, dentre outros).
De acordo com o delegado Everson Contelli, o projeto mostra um caminho para dar dignidade a milhares de famílias que convivem com pessoas desaparecidas sem saber o destino. As três famílias que foram alcançadas, ainda que pouco em termos científicos, mostra um caminho para adoção da metodologia de trabalho para o restante do país. Afinal, praticamente todos os municípios do Brasil têm mortes desconhecidas e a metodologia pode ser empregada em qualquer rincão do território, bastando para tanto uma equipe de policiais civis motivada e o acesso às possibilidades tecnológicas, de inteligência e de investigação criminal dialógica”, assinala o delegado.
“Muitos me perguntam se este projeto serve para identificar moradores de rua, que chamam de mendigos. Digo com ênfase que não, mas que todo ser humano, entre o momento da morte e a consequente identificação, tecnicamente, é um morto desconhecido. O debate que precisa ser realizado é quem defende os mortos desconhecidos? Isso porque a família - detentora jurídica da sucessão patrimonial e processual - sequer sabe que houve morte! Cabe portanto, este importante encargo ao Estado, que não pode esquecer dos seus mortos, sejam eles conhecidos ou desconhecidos, missão do Projeto Humanidade 21 da Polícia Civil fomentado pelas ferramentas possibilitadas pelo Governo do Estado”, acrescenta.
Cemitério de Meridiano onde homem havia sido sepultado há 10 anos como desconhecido