Morre aos 82 anos, Paulo Alves, o “senador do futebol”

20 de Agosto de 2025

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Morre aos 82 anos,  Paulo Alves, o “senador do futebol”

O rádio fernandopolense está de luto. Morreu nesta quarta-feira, 18, o radialista Paulo Alves de Lima, conhecido como o “senador do futebol”. Ele chegou em Fernandópolis em 1955 e já na década de 60 foi convidado para integrar a equipe de esportes da antiga Rádio Cultura AM. Em Fernandópolis, trabalhou também na Rádio Difusora e na Rádio Educadora e chegou a ser proprietário da Rádio Águas Quentes  (antiga Cultura AM e hoje TEC FM) em sociedade com Alaerte Vidale.

De acordo com informações, o velório do radialista Paulo Alves de Lima, 82 anos, será na sexta-feira, 20, das 14 às 17 horas no Velório Municipal. A família aguarda a vinda da filha que mora nos Estados Unidos. Viúvo, deixa filhos, netos e bisnetos.

 

Em fevereiro de 2015, o jornal CIDADÃO publicou reportagem com Paulo Alves de Lima onde ele contou sua trajetória desde que chegou em Fernandópolis em 1955. Leia abaixo:

Paulo Alves: mais de 1.000 transmissões do FFC pelo rádio

Paulo Alves: mais de 1.000 transmissões do FFC pelo rádio

“Quem comenta deve conhecer, Paulo Alves comenta porque conhece”. Era com essa frase que o ex-comentarista esportivo Paulo Alves de Lima, era chamado para entrar no ar durante as transmissões radiofônicas dos jogos do Fernandópolis Futebol Clube. O chamado “senador do futebol”, apelido dado pelo também radialista Lívio Vono por ter muito conhecimento sobre futebol, nasceu em José Bonifácio no dia 18 de julho de 1941 e veio a Fernandópolis em 1955, quando o pai abandonou a vida de comerciante em uma sapataria em Nhandeara para se tornar agricultor em Guarani D’Oeste, plantando algodão.

Em Fernandópolis, Paulo Alves trabalhou na extinta Sambra, algodoeira, estudou no Ginásio Estadual de Fernandópolis, na Escola Técnica de Comércio, na Escola Normal de Fernandópolis. Sem interesse pela vida de professor, Alves passou a trabalhar como escriturário no Banco Moreira Sales onde ficou por um ano. Em seguida, foi contratado como caixa no Banco do Comércio e Indústria de São Paulo. A vida de bancário durou mais nove anos até que decidiu entrar de cabeça no mundo do rádio esportivo fernandopolense.

“Nesse período que fui bancário fui convidado pelo Anésio Pelicioni, o Matinê, para formar uma equipe de esportes na Rádio Cultura AM. Tinha meia hora de programa todos os dias e aos domingos a transmissão dos jogos. Já habituado ao rádio, anos depois deixei o banco e me dediquei apenas ás transmissões esportivas”, contou Alves, que tinha ao seu lado na primeira equipe de esportes da Cultura AlaerteVidali, Peixinho e Matinê.

Fazendo reportagem de campo, Paulo Alves que sempre ouviu as grandes emissoras da capital - por ser são-paulino fanático - trazia informações com qualidade aos microfones da Rádio Cultura, que já conquistava uma audiência maciça. O comunicador transmitiu jogos de campeonatos amadores de toda a região, porém ganhou notoriedade quando passou a comentar as partidas do Fefecê, na década de 1960, quando ainda levava o nome de ABE – Associação Bancária de Esportes. Com o fim dos trabalhos em 2006, por complicações em decorrência da diabetes, ao longo destes quase 50 anos de rádio, Paulo Alves participou das jornadas esportivas na transmissão de aproximadamente 1.200 jogos da Águia, um feito histórico.

Arrojado, assertivo e sincero, o radialista trabalhou em cinco emissoras, dentre elas, a Rádio Alvorada AM de Estrela D’Oeste e a 8 de Agosto AM de Votuporanga. Após três anos na Cultura AM, Paulo Alves foi contratado pela Rádio Educadora AM, que também transmitia os jogos do Fefecê que competia na 3ª divisão do Campeonato Paulista. Na emissora ele apresentava o Programa ‘Chute sem Bola” e participava das transmissões ao lado do amigo Deni Walter, à época sub-contador do Banco Comércio e Indústria de São Paulo e do narrador Marcos Alberto.

Com uma memória fantástica, Paulo Alves lembrou várias passagens marcantes de sua carreira no rádio esportivo, inclusive sua primeira transmissão em jogos da ABE. “Me lembro que teve briga na arquibancada com os irmãos Gomes envolvidos. O jogo era Mirassol e ABE”, contou.

Outro jogo marcante segundo ele, foi o título de 1979, o primeiro do Fernandópolis Futebol Clube, que teve o nome alterado para divulgação da cidade em 1966. “Estávamos em Mogi Guaçu e o Tato fez dois gols. Aquele também era cobra ein”, disse Alves.

Além deste, ele lembrou do segundo título em 1994, os amistosos contra São Paulo, Palmeiras Santos e Corinthians, os quatro grandes do estado além de maratonas e jogos de campeonatos de basquete e futsal que eram realizados no Uirapuru Tênis Clube.

Nas andanças do futebol, o “senador do futebol” que sonhou em ser jogador profissional quase perdeu a vida em um acidente automobilístico. “Nós estávamos indo a Presidente Prudente cobrir o Fefecê com Alarte Vidali, Corsini e J Guimarães no meu carro quando em Coroados, próximo a Araçatuba o pneu traseiro do carro estourou e capotamos na ribanceira. Quase perdi a vida pelo Fefecê”, lembra ele com tristeza.

Com uma vértebra deslocada, ele foi tratado pelo médico Paulo Briante, por quem tem muita consideração e apresso. “O Paulo me disse que levei sorte de estar vivo e de estar andando, pois tive uma vértebra deslocada e quase fui parar numa cadeira de rodas”, disse Alves.

Seu bordão característico nas transmissões futebolísticas ocorria quando ele percebia que dificilmente o Fefecê venceria a partida. “O povo gostava de mim porque eu era autêntico. Falava sempre a verdade. Então quando sentia que o outro time estava mais forte e jogando melhor e já dizia: ‘Pode desistir. Hoje não dá. Good night for you. Tchau e bença’”, lembrou ele aos risos.

Com uma bela história e contribuição para a construção da imagem da cidade ao longo dos áureos anos de glória do Fernandópolis Futebol Clube em todo estado, Paulo Alves nunca recebeu nenhuma homenagem por parte da Câmara Municipal de Fernandópolis. “Não que eu queria receber alguma coisa, mas é chato lembrar que mesmo quase perdendo a vida pelo Fefecê, exaltando o nome da cidade pelos quatro cantos do estado, nunca fui homenageado. Tem gente que está na cidade há cinco anos e já recebeu alguma coisa da Câmara. Eu estou aqui desde 1955 e nunca fui convidado para receber nada”, contou.

Após sua despedida dos microfones em 2006, Paulo Alves voltou a participar de uma jornada esportiva pela Rádio Águas Quentes AM, a qual foi proprietário por mais de 15 anos, durante a partida contra o Barretos em 2011, quando o time perdeu por 1 a 0 em casa, em partida marcada pela falha “bisonha” do goleiro Steve. Após essa partida ele nunca mais voltou ao Estádio Cláudio Rodante.