Em cada temporada de pipas, a reclamação vem de todos os bairros da cidade. Grupos de adolescentes, jovens e até adultos se reúnem em áreas abertas marcadas pela internet para competições nos céus. Por traz do espetáculo colorido que toma conta dos céus, uma série de problemas que assustam os moradores.
A reclamação vem da zona norte da cidade. Os pipeiros vem se encontrando todos os finais de semana em área aberta ao lado do Residencial Itália. Uma verdadeira “invasão” reclamam os moradores. “Não são do bairro, eles vêm de outros bairros para empinar pipa aqui”, relata o morador Sidiclei Teodoro de Oliveira ao programa Rotativa no Ar da Rádio Difusora FM. Decidiu tornar pública a reclamação para cobrar as autoridades sobre uma fiscalização. “A gente trabalha e no final de semana não podemos nem descansar, porque eles tomam as ruas, com gritaria, palavrões e quando vão embora largam toda a sujeita pelas ruas e marcas do vandalismo”, enumerou.
Mas, esse não é o maior problema. Ele mostra restos de linha com cortante que ficam pelo bairro e relatou que a filha quase foi atingida por uma dessas linhas. “A sorte que a linha pegou no retrovisor da moto e ficou a marca. Imagina se pega no corpo”, diz. Para enfatizar o problema, ele cita que ficaram sem internet porque uma dessas linhas cortou o fio.
Motociclistas geralmente são as principais vítimas das linhas com cortantes. No último dia 21 de julho em Sumaré, Cremildo Ferraz de 52 anos voltava de um supermercado junto à esposa quando foi atingido pelo cortante. Ele chegou a ser socorrido, mas acabou morrendo degolado pela linha com cortante. Uma pesquisa na internet e é possível resgatar notícias de acidentes Brasil afora envolvendo motociclistas degolados por linha com cortante.
Uma ouvinte do programa Rotativa no Ar, contou que anos atrás aqui em Fernandópolis o filho retornava do trabalho com moto quando foi atingido por uma linha de pipa com cerol e sofreu um corte grave. “Foi um grande susto, ele poderia ter morrido”, disse a moradora.
Outra moradora relata também que a linha com cortante que fica enroscada nas árvores e postes é uma armadilha para os pássaros, especialmente para araras-canindé. “Estamos falando de uma linha que pode tirar a vida de um ser humano e de animais”, cita indignada.
LEI DO CEROL
O uso do cerol em linhas de pipas, a conhecida mistura entre cola e vidro, passou a ser proibida no Estado de São Paulo com a aprovação de lei em 2016 pelos deputados da Alesp e sancionado pelo governador do Estado.
A autoria do projeto foi do então deputado estadual Coronel Telhada (PP), hoje deputado federal. A lei foi aprovada em 2016, mas entrou em vigor em 2019.
A lei paulista proíbe o uso, a posse, a fabricação e a comercialização de linhas cortantes compostas de vidro moído conhecido como cerol, bem como a importação de linha cortante e industrializada obtida por meio da combinação de cola madeira ou cola cianoacrilato com óxido de alumínio ou carbeto de silício e quartzo moído, ou qualquer produto ou substância de efeito cortante independente da aplicação ou não destes produtos nos fios ou linhas, conhecido como linha chilena/linha indonésia, utilizadas para soltar pipas.
No texto da lei é definido o entendimento do que seja linha cortante. “Entende-se por linha cortante a que tem sua composição alterada na origem de sua industrialização por outros produtos químicos ou pó de vidro, limalha de ferro, quartzo, óxido de alumínio ou outro componente, com a finalidade de conferir atributo cortante ao fio direto em sua composição. Entende-se por cerol a mistura de cola com vidro moído; por linha chilena a mistura de madeira com quartzo moído; e por linha indonésia a mistura de cola cianoacrilato, conhecida como “super bonder”, com carbeto de silício ou óxido de alumínio”.
A lei estabelece multa de 50 Ufesps ao infrator, que na cotação atual é aproximadamente R$1.713,00. O estabelecimento que for flagrado comercializando linha cortante será autuado, acarretando aplicação de multa no valor de 5 mil UFESPs, equivalente a R$ 171 mil. Se for menor, os pais ou os responsáveis responderão pelo menor.
A lei existente em Fernandópolis é mais antiga (lei nº 2254, de 29 de outubro de 1997) e foi sancionada pelo prefeito da época Armando José Farinazzo. Proíbe o uso de cerol ou de qualquer material cortante em linhas ou fios usados para empinar pipas ou papagaios, no município de Fernandópolis. Prevê multa em de 50 UFIRs – Unidade Fiscal de Referência – extinta em 2000, cujo valor de cada unidade é de R$ 1,06.
Como toda a lei, alguém tem que fiscalizar a venda e o uso dos materiais proibidos. É o que os moradores afetados pela “invasão” dos pipeiros nos bairros cobram das autoridades.