As paradisíacas praias de São Sebastião no litoral norte de São Paulo foram os locais escolhidos por grupos de fernandopolenses para passeio durante o carnaval. Mas, o que era para ser um lazer, virou cenário de guerra, destruição e morte.
Os turistas e moradores de São Sebastião ao longo da costa de 100 km foram surpreendidos por um volume de chuva histórico, 683 milímetros, jamais registrado no Brasil.
A psicóloga Gabriela Pezzatti viajou para a praia de Juquehy em São Sebastião, com grupo de 12 pessoas, onde chegou no sábado de manhã. “Conseguimos aproveitar um pouco da praia no sábado”, contou em entrevista à Rádio Difusora FM na manhã de quarta-feira, 22, já retornando para Fernandópolis após três dias sem água, luz, telefone e internet na praia.
Ela relatou que a chuva começou no sábado à noite. “Não foi uma tempestade de ventos, trovões e relâmpagos. Mas era uma chuva intensa, contínua. Uma coisa que nunca tinha visto”, disse.
“O lugar que a gente estava, graças a Deus fomos privilegiados, não aconteceu nada. A única coisa é que acabou a energia, cortaram a água, não tinha sinal de internet e nem telefone. Foi um dia e meio sem energia. Saímos de lá na quarta-feira e continuava sem água. Precisamos usar água da piscina para cozinhar e lavar louça. Era o que tinha para fazer”.
Segundo ela, o grupo só tomou conhecimento da dimensão da tragédia no domingo, conversando com as pessoas. “Foi uma situação de aflição e angustia. A ficha não caiu. Fomos para um lazer e de repente ficamos no meio de uma situação trágica, de mãos atadas, sem ter o que fazer”, contou.
Outro grupo composto de cinco casais de Fernandópolis e Paranaíba (MS), com oito crianças, se hospedou em uma casa na praia de Maresias em São Sebastião. Era uma das praias preferidas do grupo, com frequentes visitas.
Mariana Abrão contou que o grupo chegou na sexta-feira à tarde, depois de uma parada em Aparecida. “Estava tudo bem, no sábado conseguimos aproveitar a praia. Não tinha sol, mas tinha um mormaço. À noite começou a chover e foi a noite toda. Quando amanheceu no domingo, já estávamos sem telefone, sem TV, sem nenhum sinal de internet e água. Nossa casa ficava num ponto alto e não aconteceu nada, mas na parte mais baixa estava tudo alagado. Não tinha como sair, ficamos ilhados. Só depois que a água baixou e que pudemos sair e começamos a ter noção do desastre. Na noite de domingo, conseguimos saber que na praia estava pegando sinal de telefone. A gente foi lá, estava um caos, todo mundo desesperado. Em contato com os nossos familiares é que soubemos o que aconteceu. Ficamos em pânico, bateu o desespero”, relatou Mariana.
Ela contou ainda na entrevista que a preocupação era como iriam sair dali, já que as estradas estavam interditadas. “Tentamos sair na segunda-feira, mas havia interdição na praia do Toque-Toque, no ponto de uma cachoeira. O que vimos era cena de filme de desastre, carros retornando porque não passava. Decidimos voltar e sair na manhã de terça-feira, com a estrada liberada. A vontade era passar logo, mas o trânsito estava lento e o medo era de ocorrer outros desmoronamentos. Enquanto não chegamos na Tamoios (Rodovia de acesso a São Paulo) não deu para relaxar”. No caminho, eles viram destruição, muitos caminhões do Exército, bombeiros, defesa civil, barulho de helicópteros, em típica cena de guerra.
Por tudo que aconteceu em São Sebastião, Gabriela e Mariana não têm dúvidas: “Foi um livramento. É hora de agradecer a Deus por toda a proteção e por estarmos de volta em casa, quando muitos não tiveram a mesma sorte. Tudo é muito triste”, relatou Gabriela.