Três dos atuais secretários do prefeito compõem a comissão “interventora”; eles afirmam que sempre pertenceram à Executiva do partido
A comissão interventora do PSDB de Fernandópolis que foi validada na terça-feira, 6, pela Justiça Eleitoral revela a presença do grupo do prefeito André Pessuto na sua composição. Três secretários do governo estão na comissão provisória que tem na presidência o assessor político da deputada Analice Fernandes, Neuclair Félix Nascimento.
A informação está disponível no site do TSE – Tribunal Superior Eleitoral. A Justiça Eleitoral validou a comissão provisória, que também é chamada de Interventora, na terça-feira, 6. A publicação do ato no site do TSE, provocou ruídos entre os tucanos, já que até o momento, sabia-se apenas quem era o presidente.
Chamou a atenção que dos seis membros da comissão, três são atuais secretários da equipe de governo do prefeito André Pessuto: Paulo Boaventura (Secretário de Comunicação), Iraci Pinoti (Secretária de Cultura) e Ivan Pedro Martins Veronesi (Secretário da Saúde).
Além de Neuclair Felix Nascimento (presidente) compõem a provisória Shriley Garcia Bordignon Uliana (tesoureira), Márcio Donizeti Viana e Nelson Felix Nascimento, que é pai do presidente. A vigência dessa comissão é de 2 de abril a 2 de outubro. A eleição municipal acontece no dia 4 de outubro.
“Ver à composição da Provisória não foi surpresa alguma, já é conhecido o modus operandi de deputado e prefeito, sempre de forma leviana, desleal e usando as pessoas. São capachos do jogo”, disse a ex-presidente Flávia Resende em mensagem enviada ao CIDADÃO. Embora não cite nome, Flávia se refere ao deputado federal Fausto Pinato (PP), desafeto político de Gimenes.
A ex-presidente disse que ainda aposta na intenção do Diretório Estadual do PSDB de ter candidato a prefeito em Fernandópolis e deixou no ar: “O tempo é o remédio para tudo”.
OUTRO LADO
Membros do PSDB que integram a Comissão Provisória se manifestaram após a publicação da matéria no site do CIDADÃO. Em mensagem, informaram que “o partido sempre esteve no governo Pessuto e que os membros citados sempre fizeram parte da Executiva”.
Eles encaminharam ao CIDADÃO documentos da Justiça Eleitoral apontando que a intervenção ocorreu porque o Diretório do PSDB de Fernandópolis não fez regularmente a prestação de contas referente às eleições de 2018. Em decisão do juiz eleitoral Mauricio Ferreira Fontes de março de 2019, foi determinado a perda dos direitos de recebimento de quotas do fundo partidário pelo tempo que o partido permanecer omisso em relação à prestação de contas. O juiz também determinou a suspensão do registro ou da anotação do órgão partidário municipal nessa circunscrição eleitoral.
"Prisão de Gimenes pode mudar rumo das eleições em Fernandópolis”, essa foi a manchete de capa de CIDADÃO do dia 29 de fevereiro. No dia 18 de março, uma decisão da Executiva estadual do PSDB dissolveu o atual diretório municipal do partido, até então comandado por Flávia Resende – sobrinha do ex-deputado estadual Gilmar Gimenes – e nomeou uma provisória comandada por Neuclair Félix Nascimento, assessor especial da deputada estadual Analice Fernandes.
Nem os próprios membros do partido sabiam da decisão que partiu do secretário estadual de Desenvolvimento Regional e presidente do PSDB, Marcos Vinholi. Procurados logo pela manhã, todos negaram a informação que mais tarde foi confirmada por uma nota emitida de dentro do gabinete da deputada Analice Fernandes.
“O PSDB de Fernandópolis, vem a público anunciar seu novo presidente, Neuclair Félix. Neuclair assumiu a presidência do partido, depois da executiva estadual se reunir, no último dia 16 de março de 2020. O presidente estadual do PSDB Marcos Vinholi, assim como a deputada estadual Analice Fernandes acreditam que Neuclair Félix conduzirá o partido para as mudanças necessárias que visem não só o aumento de filiados e pré-candidatos assim como, a retomada do protagonismo nas discussões municipais”, diz o texto.
Com o vácuo criado a partir da prisão do até então cacique do partido, Gilmar Gimenes, no âmbito da operação Hígia, foram iniciadas as articulações para que a deputada estadual Analice Fernandes, assumisse a liderança partidária na cidade com o objetivo de colocar os tucanos a reboque do atual prefeito André Pessuto, do DEM.
O governador João Dória já deixou claro que quer PSDB ou DEM na Prefeitura do maior número de cidades possível. Até então Gilmar era tido como o preferido e comandava o partido do governador regionalmente. Com o desgaste provocado pela prisão, ele perdeu força para que outro cacique, no caso a deputada, assumisse o comando.
Pessuto e Analice Fernandes são companheiros de longa data. Quando ainda era vereador o atual chefe do Executivo trabalhou em diversas campanhas ao lado da tucana, o que reforça a possibilidade do partido, agora comandado por ela, migrar para a coalisão situacionista.
Até então o PSDB figurava como principal frente de oposição nas eleições deste ano. Com a mudança, o nome do ex-vice-prefeito José Carlos Zambon, que havia sido reafirmado como pré-candidato a prefeito pelo antigo diretório do partido, pode ficar de fora das eleições.
Ao CIDADÃO, o prefeiturável, José Carlos Zambon, chegou a negar que a nova diretoria do partido venha influir numa mudança de nomes para as eleições deste ano. Segundo ele, já havia um contato com a executiva estadual do PSDB que era unânime em relação à sua candidatura.
“Para mim não mudou nada. Nós já vínhamos conversando com o Marcos Vinholi e o candidato do partido sou eu. Não acredito numa mudança nesse sentido. Essas alterações no diretório são mais por questões técnicas do que propriamente políticas, então vamos aguardar os próximos passos”, disse o ex-vice-prefeito em reportagem publicada por CIDADÃO em 21 de março.
Na primeira entrevista à Rádio Difusora e CIDADÃO, no dia 20 de março, logo depois da decisão da Executiva Estadual, Neuclair Félix reforçou as palavras de Zambon de que a intervenção partidária foi mais técnica do que política. Um dos fatores que teria levado Vinholi a tomar essa decisão é a suspensão do partido perante a Justiça Eleitoral em razão de problemas contábeis.
“Nós chegamos a um ponto que se fez necessário a intervenção municipal para que a gente viesse realmente com o objetivo de auxiliar nesse processo de resolução desse problema. É importante salientar que essa situação já está sendo resolvida”, disse Neuclair.
Na mesma entrevista Neuclair disse que o partido não tem dono e que precisa ser colocado numa posição de protagonista. “Analice tem realmente uma liderança muito forte, só que a definição final vai ficar para a convenção do partido, pois não é uma decisão que passa só pela deputada já que é preciso ouvir o partido, ouvir o diretório municipal, ouvir as pessoas e ouvir, principalmente, o nome do partido que é o Zambon. Acho que a cidade ganha com isso porque é um nome de peso. Temos que pensar no que for melhor para a cidade e para o partido. E o que for melhor, será feito”, disse na entrevista.
(Notícia atualizada em 10/04/2020 às 10:05)
