PF investiga quem patrocinou hackers

20 de Agosto de 2025

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PF investiga quem patrocinou hackers

A Polícia Federal investiga supostos patrocinadores do grupo preso sob suspeita de hackear os celulares do ministro da Justiça Sérgio Moro, de delegados da PF e de juízes. Ao decretar a prisão temporária de quatro investigados, o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, apontou para a incompatibilidade entre as movimentações financeiras e a renda mensal de casal Gustavo Henrique Elias Santos e Suellen Priscila de Oliveira, que em dois períodos de dois meses - abril a junho de 2018 e março a maio de 2019 - movimentou R$ 627 mil com renda mensal de R$ 5.058.
"Diante da incompatibilidade entre as movimentações financeiras e a renda mensal de Gustavo e Suelen, faz-se necessário realizar o rastreamento dos recursos recebidos ou movimentados pelos investigados e de averiguar eventuais patrocinadores das invasões ilegais dos dispositivos informáticos (smartphones)", registrou o juiz. Na residência do casal foram apreendidos R$ 100 mil.
Também foram presos Walter Delgatti Neto e Danilo Cristiano Marques e cumpridos sete mandados de busca e apreensão. Os quatro são investigados pela suposta prática de crimes cibernéticos e foram detidos em Araraquara, São Paulo e Ribeirão Preto.
ENTENDA A INVESTIGAÇÃO
Os presos foram transferidos para Brasília. Segundo a PF, por questão de espaço, dois deles permaneceram na carceragem da superintendência e os outros dois, levados na noite de terça para local não informado. Um dos endereços alvo de buscas foi a casa da mãe de Gustavo Henrique Elias Santos, em Araraquara. Santos, no entanto, foi preso na capital. Ele trabalha com shows e eventos, segundo investigadores.
Além do casal, detido em São Paulo, a PF prendeu em Araraquara Walter Delgatti Neto, que já responde a processos por estelionato. Segundo informações da Justiça Eleitoral, ele foi filiado ao DEM. A defesa de Delgatti Neto não foi localizada. Há, ainda, um quarto preso, em Ribeirão Preto, Danilo Cristiano Marques. O inquérito está sendo conduzido pelo delegado Luiz Flávio Zampronha, que, em 2005 e 2006, presidiu o inquérito do Mensalão.
AUTORIDADES
Além de Moro, procuradores da Lava Jato no Paraná e outras autoridades teriam sido alvo de hackers - no mandado de buscas, há menção ao desembargador federal Abel Gomes, ao juiz federal Flávio Lucas, do Rio e aos delegados da PF Rafael Fernandes, em São Paulo, e Flávio Vieitez Reis, em Campinas. A PF informou também que vai investigar a suspeita de invasão nos aparelhos celulares do ministro da Economia, Paulo Guedes, e da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP).
Desde 9 de junho, o site The Intercept Brasil divulga supostas mensagens trocadas pelo então juiz com integrantes do Ministério Público Federal, principalmente Dallagnol. Foram divulgadas pelo The Intercept e outros veículos conversas atribuídas ao ex-juiz e a procuradores no aplicativo Telegram. O site afirmou que recebeu de fonte anônima o material. Moro nega conluio - ele não reconhece a autenticidade das conversas e atribui a invasão virtual a grupo organizado.
VÍTIMAS SÃO QUASE MIL
As buscas e apreensões feitas pela Polícia Federal nos endereços dos quatro suspeitos de terem hackeado autoridades revelaram centenas de pessoas - que chegam a quase mil - que tiveram suas conversas no Telegram roubadas. Fontes da PF dizem que entre as vítimas estão autoridades dos três Poderes e também jornalistas.
Já se sabe que o ministro da Economia, Paulo Guedes, foi alvo desse grupo, além do ministro da Justiça, Sérgio Moro, e de procuradores da Lava Jato. Guedes comunicou na segunda-feira, 22, que teve o celular monitorado.
CONFISSÃO
Preso em Araraquara, Walter Delgatti Neto, o 'Vermelho', confessou à PF que hackeou o ministro Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública), o procurador Deltan Dallagnol (coordenador da Operação Lava Jato no Paraná) e centenas de procuradores, juízes e delegados federais, além de jornalistas. 'Vermelho' acumula processos por estelionato, falsificação de documentos e furto.
Em seu Twitter, Moro postou nesta quarta, 24, que "pessoas com antecedentes criminais" são a "fonte de confiança daqueles que divulgaram as supostas mensagens obtidas por crime".