O administrador hospitalar da Santa Casa de Fernandópolis, Duílio Igor de Oliveira, concedeu ontem, 12, uma entrevista ao programa Rotativa no Ar, da Rádio Difusora, para falar sobre o referenciamento adotado pelo Pronto Socorro do hospital. A medida foi implantada em junho, mas o que seria uma espécie de período de adaptação se encerrou na quarta-feira, 10.
Agora, atendimento no Pronto Socorro da Santa Casa só após passar por regulação das unidades de atendimento básico (UBSs, UPA) ou pelo SAMU – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência.
A medida faz parte de um processo de organização do referenciamento de saúde no município, onde o atendimento de urgência de baixa e média complexidade fica a cargo do município, por meio das 17 unidades de saúde da família e da UPA e os de alta complexidade por conta do estado, que contrata a Santa Casa para isso.
“É assim que funciona em todas as cidades do país. Na região, Fernandópolis é a única que ainda estava atrasada nisso. Votuporanga, Jales e Santa Fé do Sul já funcionam assim há um bom tempo. A população precisa entender que o objetivo não é desassistir ninguém, mas sim qualificar o atendimento de saúde no município”, disse administrador.
Duílio ainda reforçou os números que comprovam a ineficiência e o prejuízo que a forma antiga de atendimento provocava. Além da tão comentada defasagem da “Tabela SUS”, a Santa Casa ainda não recebia por mais de 98% dos atendimentos em seu Pronto Socorro.
“Como a Santa Casa não tem em seu pacote de financiamento esses atendimentos de urgência básica, todos esses pacientes que são atendidos aqui e tudo que é despendido com eles, seja medicamentos, curativos, agulhas e os profissionais, vem zerado no nosso faturamento. Ou seja, estamos bancando esse atendimento do nosso próprio bolso e tirando recursos que poderiam ser utilizados para melhorar os atendimentos que são de fato de nossa responsabilidade”, completou.
Ainda segundo Duílio a população tem se mostrado compreensiva à mudança, mas ainda há certa resistência em relação as grades que foram instaladas justamente para garantir essa triagem.
“O portão ainda incomoda muito as pessoas, mas era algo necessário para que o novo sistema funcionasse. Nosso objetivo nunca foi deixar as pessoas de fora, mas sim evitar o tumulto que existia antigamente e só atrapalhava o atendimento”, concluiu.
PENHORA
Duílio também não fugiu das perguntas envolvendo a penhora do prédio da Santa Casa. Segundo ele a administração está tentando celebrar um acordo para evitar que o hospital vá a leilão.
“Quando assumimos a Santa Casa em 2017 procuramos regularizar essa situação. Nós procuramos todos os funcionários do hospital e eles se uniram para fazer uma assembleia para encontrarmos uma forma de quitar essa dívida com eles. Nessa assembleia nós apresentamos uma proposta de pagamento do 13º com uma correção de 35% e 100% dos funcionários da ativa aceitaram. Procuramos também os advogados dos ex-funcionários e propusemos um acordo, mas eles não aceitaram. Ontem (dia 11) tivemos mais uma reunião com os representantes dos 29 ex-funcionários, mas novamente não houve acordo de modo que se eles não aceitarem o juiz não deve homologar nem o acordo que fizemos com os funcionários da ativa”, explicou Duílio.
Diante dessa situação ele não escondeu a preocupação de que a cidade perca seu único hospital por conta de uma dívida trabalhista.
“Isso nos preocupa e bastante. Por isso estamos tentando um acordo. A ação é de R$ 5 milhões sendo que 80% desse valor é de multas por atraso de pagamento, o que está muito distante da nossa condição de pagamento. Se seguir assim corremos um sério risco da Santa Casa ir a leilão”, concluiu Duílio.
A DECISÃO
O juiz da Vara do Trabalho de Fernandópolis Marcel de Avila Soares Marques, determinou a penhora do prédio que abriga hoje a Santa Casa de Misericórdia, por conta de uma dívida trabalhista do hospital para com 29 colaboradores. O imóvel foi avaliado em R$ 31 milhões e a penhora foi averbada no último dia 25 no cartório de imóveis.
Trata-se de uma ação movida pelo SinSaúde - Sindicato dos profissionais da área de saúde e área médica de São José do Rio Preto e Região – em 2016 em razão do não pagamento do 13º salário, salários e benefícios dos funcionários do hospital em 2015.
Desde então uma série de acordos foram feitos nos autos do processo, mas na última audiência acabou sendo determinada a penhora para assegurar o pagamento da dívida trabalhista.
“Determina-se a penhora, avaliação e registro dos imóveis indicados pela parte autora, prosseguindo-se, após formalizada, com os demais atos expropriatórios”, determinou o juiz Marcel de Avila Soares Marques.