Fernandópolis pelas lembranças de Adãozinho

20 de Agosto de 2025

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Fernandópolis pelas lembranças de Adãozinho

A história de Fernandópolis já foi e ainda é contada de inúmeras formas. Dois livros – Nossa História, Nossa gente -, aliás, foram inclusive publicados com os principais relatos político-administrativos destes 80 anos em um compilado de informações organizado e editado por fernandopolenses que amam a cidade. 
Ainda hoje esse grupo reúne documentos, realiza entrevistas e organiza informações das duas vilas e seus moradores, que deram origem ao local onde hoje vivemos. Todos os anos CIDADÃO também busca ouvir as pessoas que fazem parte dessa história, não apenas àquelas de famílias conhecidas ou autoridades, mas também os mais simples, àqueles que literalmente ajudaram a construir a cidade, botaram a mão na massa. 
Aos 85 anos, uma dessas pessoas recebeu com muito carinho nossa equipe de reportagem em sua casa simples, na Cohab Antonio Brandini. Se lhe chamarem pelo nome, Agenor Nogueira de Faria, poucos reconhecerão, agora pelo apelido, difícil encontrar um dos moradores mais antigos que não se lembre das peripécias de Adãozinho, bom de bola. 
 Ele nasceu em 13 de maio de 1934, em Catanduva, mas chegou aqui logo após a Segunda Guerra Mundial, em 1945. Seu pai, XXX, era toureiro e conheceu Fernandópolis numa de suas viagens de apresentação pelo sertão de Rio Preto e gostou tanto que decidiu aqui se estabelecer com a família. 
Além de toureiro, XXX era um pedreiro muito caprichoso e logo sua fama se espalhou pela cidade, sendo contratado para construir a maioria das casas da época.
Seu pai sempre trabalhou muito para dar boa educação para os filhos. Tanto que na época Adãozinho era um dos poucos na cidade que dominava a escrita na máquina de escrever e por isso conseguiu um bom emprego como escriturário no cartório. Mas sua paixão sempre foi pelo futebol e ainda muito moleque, como confessa, acabou deixando a bola intervir na sua vida e perdeu o emprego. 
“Eu era bom mesmo de bola e fiquei meio metido, andava só no meio dos bacanas. Ai acabei sendo mandado embora do cartório, porque só ia trabalhar sujo de bola, quando não era a camisa era a calça, quando as duas estavam limpas era porque eu esquecia o sapato lá no campo de futebol. Ai o chefe ficava bravo comigo e eu não estava nem ai, queria era jogar bola”, contou. 
Já que Adãzinho não aproveitou a oportunidade que teve no cartório, seu pai então o colocou para pegar no pesado nas obras junto com ele. “Meu pai sempre fez de tudo por nós. Tive todas as chances do mundo de ser alguém, mas muito cabeçudo deixei as chances passar e mesmo assim, sempre que precisava ou que eu aprontava ele estava lá do meu lado. Sinto muito a falta dele e me arrependo de não ter aproveitado o que ele tentou me oferecer”, completou. 
A maioria das casas do Santa Helena foi construída pelos dois. Sobre a Fernandópolis de sua época Adãozinho se lembra com riqueza de detalhes. Rua por rua ele é capaz de identificar as lojas e quem morava nas casas da época, sem titubear. Lembra também de todos os prefeitos, seus feitos e as mazelas de cada um. Para ele, o melhor foi Líbero de Almeida Silvares. 
“Ele não ficava trancado na Prefeitura não, estava sempre no meio do povo e se a gente precisasse de algo podia pedir para ele diretamente. Se dava para fazer ele mandava fazer na hora, se não dava ele já falava na sua cara, não ficava com enrolação e colocando a culpa nos outros”, disse.
Ele contou também sobre a rivalidade entre os moradores das duas vilas, mesmo após o interventor do Estado, Fernando Costa, promover a união delas.
“Quando eu cheguei tinha juntado já, mas não tinha amizade. Se o povo daqui atravessasse para lá, apanhava, e o mesmo se eles atravessassem de lá para cá. Juntava aquele bando e saia correndo atrás”, lembra. 
Para a nova geração de fernandopolenses Adãozinho faz um pedido em especial. “Amem e valorizem nossa cidade. Tudo que tenho e sou foi graças a essa cidade e ao povo daqui, apesar de ter desperdiçado muito das oportunidades que me foram oferecidas, por teimosia. Sou muito grato a Fernandópolis”, concluiu. 

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