“Tratamos os alunos como filhos, a escola não merecia isso”, diz Cabral

20 de Agosto de 2025

Compartilhe -

“Tratamos os alunos como filhos, a escola não merecia isso”, diz Cabral

Os dois adolescentes que provocaram um princípio de tumulto na EELAS – Escola Líbero de Almeida Silvares – com uma brincadeira de mau gosto na quarta-feira, 20, envolvendo o massacre de Suzano, não deverão responder a processo criminal. Isso porque não restou provado, a princípio, nenhuma ameaça de fato contra a escola ou aos alunos. 
De acordo com o delegado Seccional de Polícia, Orestes Carósio Neto, o caso está sendo acompanhado pela DDM – Delegacia de Defesa da Mulher. O telefone de um deles foi apreendido, por precaução, e passará por perícia, porém não há indícios de crime e o boletim de ocorrência foi lavrado como “não criminal”. 
“Tudo ainda está sendo apurado, mas a princípio não há indício de crime”, disse o delegado. 
COMO FOI
Tudo teria começado um dia antes. A.J.G.R, de 15 anos e M.B.C.S, de 14, teriam tirado uma bandana que usam comumente no braço e amarrado no rosto, dizendo que iriam fazer o mesmo que Guilherme e Luiz Henrique de Castro fizeram em Suzano, quando oito pessoas morreram e outras sete ficaram feridas. A “brincadeira” foi feita dentro da sala de aula e alguns dos colegas ficaram assustados. 
Na quarta-feira, 20, o caso foi relatado a professora que após ouvir os adolescentes, decidiu levar os dois ao diretor do colégio, Carlos Cabral, que diante dos recentes acontecimentos decidiu, de pronto, acionar a polícia para lavrar um boletim de ocorrência e os suspendeu. 
“Com essa ‘brincadeira’ eles não apenas desrespeitaram as vítimas (de Suzano) como também os colegas, professores e todos que trabalham duro aqui para lhes oferecer uma boa educação. Eles são bons alunos, até então não havia nada que os desabonasse, mas por imaturidade fizeram uma brincadeira de muito mau gosto e agora terão que responder por isso”, disse o diretor em entrevista ao programa Rotativa no Ar, da Rádio Difusora. 
Contudo, entre a ida dos alunos à direção e a chegada da polícia, houve o recreio e deu-se início então ao chamado “telefone sem fio”. A informação foi distorcida a ponto de alguns alunos relatarem aos pais que A.J.G.R. e M.B.C.S. teriam levado armas para a escola e postado ameaças nas redes sociais, o que não aconteceu. 
Para piorar a situação, quando tudo já parecia controlado, um aluno do 3º colegial – que também já foi identificado pela direção – estourou uma bombinha no corredor, o que provocou tumulto e a corrida de alguns pais à escola para buscar os filhos. 
“Quando ouvimos o estouro ficamos muito assustados, alguns saíram correndo outros trancaram a porta da sala. Está todo mundo apavorado com o aconteceu lá (em Suzano)”, disse uma aluna que preferiu não se identificar. 
Após a conclusão do inquérito, o caso deverá ser encaminhado a Vara da Infância e da Juventude, que determinará as punições. 
PRISÃO  
Caso semelhante aconteceu em Rio Preto. Um adolescente de 16 anos resolveu postar frases ameaçadoras no seu status do WhatsApp, afirmando que planejava atacar a escola em que estuda, a Pio X. Denunciado, ele foi ouvido pelo Ministério Público e alegou que foi apenas uma brincadeira. Por prevenção, porém, o juiz da Vara da Infância e Juventude de Rio Preto, Evandro Pelarin, determinou a internação do jovem por 45 dias na Fundação Casa.
O menor, que não tem passagens pela polícia, foi detido na segunda-feira, 18. Ele foi submetido a avaliação psicológica e social por técnico da Vara da Infância e Juventude. Os relatórios serão analisados pelo juiz Pelarin antes de determinar qual será a punição do adolescente. 
“Deve ficar claro que a Justiça está atenta a qualquer atitude deste mesmo tipo, porque dizer que vai promover um massacre semelhante ao que aconteceu não pode ser levado na brincadeira”, alerta o juiz.
O caso chegou até o MP após ser denunciado pela direção da escola, que havia sido alertada por estudantes que ficaram alarmados ao lerem as mensagens postadas há cinco dias no perfil do aluno no WhatsApp. A direção da escola Pio X chamou os pais do aluno, comunicou o caso à Polícia Militar e ao MP.
“Se as armas não chegarem até amanhã vou esperar para segunda-feira (dia 18) que vem, é educação física. Que não tenha ordem judicial para impedir de chegar correio em casa, porque aí atrasa. Aí quem quero matar pode mudar de escola antes. Segunda vou matar todo mundo”, dizia uma das postagens do garoto, que foram entregues ao MP e ao juiz e colocadas no processo.
Em outras mensagens, o estudante dizia que iria levar “três armas no mínimo” para o ataque à escola e ameaçou até jogar granadas nos policiais militares que patrulham a porta da escola. Ao ver uma das mensagens, uma das colegas do estudante comentou que o adolescente “tinha a cara de fazer um bagulho do tipo que aconteceu em Suzano”.
Ao ser comunicado, o promotor da Infância e Juventude André Luís de Souza mandou convocar imediatamente o estudante e a mãe dele para prestarem esclarecimento. “Quando questionei o adolescente sobre as mensagens, ele falou que era tudo brincadeira, mas eu o alertei que, neste momento que passamos, após o massacre na escola de Suzano, não é a hora para este tipo de conversa”, diz o promotor.
Também ouvida pelo MP, a mãe do adolescente disse que ficou sabendo das mensagens do filho por meio da diretoria da escola e que repreendeu o adolescente, mas não acredita que ele fosse capaz que concretizar as ameaças.
Depois de analisar as respostas do adolescente e da mãe, o promotor apreendeu o celular do estudante. Após descobrir que havia mais mensagens no telefone, com o mesmo tom de ameaça, André pediu a apreensão do adolescente, segundo ele, por dois motivos: prevenção em favor de todos os alunos, funcionários e professores da escola, e pelo bem do próprio estudante, que precisa de mais acompanhamento.