Quem diz que anjos não existem não conhece a dona Dulce, uma senhorinha de 72 anos que mora na região do bairro Aparecida em Fernandópolis. Aposentada, ela tinha tudo para ficar em casa com a família, fazendo crochê ou viajando com o marido e filhos, mas em vez disso, ela decidiu fazer o bem, literalmente, sem olhar a quem.
Pelo menos uma vez por semana Dulce vai para o fogão preparar duas receitas de bala baiana. Com muito carinho ela as embala em pacotinhos, com três balas cada, e sai no sol quente vendendo-as pelas ruas, igrejas e eventos por R$ 5. Todo esse trabalho para ajudar pessoas que ela mal conhece, que não possuem nenhuma relação familiar e nem de amizade, até quatro meses atrás.
Tudo começou em meados de julho, quando uma conhecida falou para ela sobre a situação precária em que vivia uma família no Jardim Santa Bárbara. Dona de um coração que não cabe no peito, Dulce decidiu fazer uma visita levando consigo alguns alimentos para doação.
Porém, ao chegar no endereço que lhe passaram, ela se deparou com uma situação bem pior do que imaginava. Na casinha de dois cômodos foi recebida por Nilza Rodrigues dos Santos, de 71 anos, e sua mãe Ana Rodrigues dos Santos, de 94. Antes, Nilza e Ana moravam juntas em uma casinha alugada, mas elas acabaram despejadas e tiveram que pedir abrigo para Cristina, que é filha de Nilza.
O problema é que Cristina tem quatro filhos, todos grandes, e a casa mal cabia a família, tampouco a mãe e a avó. Porém, eles se apertaram, e muito, mas não deixaram as duas ao relento. Ana, que é deficiente visual, dorme em um sofá na cozinha/sala ao lado de sua filha, que se deita todas as noites em um colchão velho jogado no chão.
“Quando vi aquela cena e todas as coisinhas delas amontoadas lá do lado de fora meu coração doeu muito e eu precisava fazer alguma coisa, só não sabia o que e nem como ainda”, conta ela.
Naquele dia Dulce não conseguiu dormir. Apesar de sua aposentadoria e do marido, ela não tinha condições de fazer algo para melhorar a vida daquelas pessoas e isso a incomodava muito. Ela então voltou lá e foi quando descobriu algo que lhe acendeu uma luz de esperança.
Nilza recebe auxílio doença por conta de um câncer que teve no pé. As várias sessões de quimioterapia lhe judiaram muito, o que a impede de trabalhar. No entanto, mesmo gastando muito com remédios, há oito anos ela começou a pagar um terreno, ali no bairro mesmo, e um pedreiro amigo da família fez o alicerce para que ela enfim tivesse sua casa própria. Só que as dificuldades eram muito grandes e a obra acabou sendo abandonada.
“Pronto, decidi que iria a ajudar a terminar sua casinha, só não sabia como ainda. Eu faço pinturas, crochê, pinto guardanapos, mas nada disso vende fácil a ponto de eu conseguir juntar dinheiro para construir uma casa”, explicou Dulce.
Mesmo assim ela estava determinada e foi na visita a uma amiga que, segundo ela, Deus lhe mostrou o caminho. Essa amiga estava fazendo balas baianas e tocada enxergou ali a chance que precisava. Sem pensar duas vezes pediu a receita e correu para casa para testar. Como quando se faz com amor tudo sai perfeito, as balas ficaram maravilhosas e ela foi para rua vender. Foi assim e com a ajuda de amigos que, em quatro meses, ela conseguiu tirar a casa do chão, comprar portas, janelas e até encher a laje. O piso também já está comprado, bem como a instalação hidráulica do banheiro e o encanamento todo.
O problema é que agora a obra chegou em uma fase que, se ela não tiver mais ajuda, será muito demorado e o sofrimento de Nilva e Ana, prolongado. As economias, inclusive pessoais, de Dulce já se esgotaram e até ela conseguir juntar dinheiro para comprar o madeiramento da casa e pagar a mão de obra apenas com a renda da bala baiana vai muito tempo.
“Eu fui fazer o orçamento das madeiras e saí de lá desesperada. Não aguento mais ver elas naquela situação, preciso de ajuda. Se tiver que ficar o resto da minha vida fazendo bala para concluir a obra eu ficarei, mas elas não podem mais esperar. Meu sonho era que elas passassem o Natal na casinha nova, mas sei que é praticamente impossível”, concluiu Dulce com os olhos cheios d’água.
CAMPANHA
Por isso que o Jornal CIDADÃO e a Rádio Difusora decidiram lançar uma campanha para arrecadação de materiais e fundos para ajudar Dulce nessa missão solidária. A partir de segunda-feira, 17, os telefones 3442-5962 e 3442-2666 estarão disponíveis para atender a qualquer um que queira fazer algum tipo de doação.
Além dos materiais, elas também precisam de móveis, pois os que tinham se perderam, alimentos e dinheiro para pagar a conta de luz, que está cortada, e a de água que está prestes a isso. Qualquer colaboração, independentemente do valor, ou até doação de mão de obra, será muito bem-vinda.
Se Dulce conseguiu chegar até aqui vendendo balas, o que você pode fazer?