O anúncio do presidente Michel Temer (MDB) no início da tarde de ontem, 25, de que já teria acionado as forças federais para desbloquear estradas ocupadas, não intimidou os caminhoneiros. Pelo menos não os de nossa região.
CIDADÃO percorreu os pontos de bloqueio na Rodovia Euclides da Cunha e Eliézer Montenegro Magalhães, nos trechos que compreendem Fernandópolis e os municípios vizinhos e a classe é unânime em dizer que não abandonará o movimento.
“Ninguém tem medo de nada aqui não. Estamos fazendo tudo de forma ordeira e não vamos sair enquanto não tivermos nossas reivindicações atendidas”, disse Anderson Reginaldo, representante da categoria em Urânia. “Não acreditamos nas promessas feitas por políticos, já nos enganaram uma vez e estão querendo enganar novamente. Quando atenderem nossos pedidos e sair no Diário Oficial a gente sai”, completou Renato Oliveira representante de Jales. “Não vamos sair e ponto”, concluiu Gilson Rodrigues.
AMEAÇA DE TEMER
Temer optou por acionar as forças federais depois de se reunir com ministros para uma “avaliação de segurança” no país, já que a greve dos caminhoneiros continuou, apesar do acordo firmado entre governo e representantes da categoria na noite de quinta-feira, 24.
Segundo o presidente, a decisão de acionar as forças de segurança nacionais visa evitar que a população fique sem produtos de “primeira necessidade”.
“Não vamos permitir que a população fique sem gêneros de primeira necessidade. Não vamos permitir que os hospitais fiquem sem insumos para salvar vidas. Não vamos permitir que crianças sejam prejudicadas pelo fechamento de escolas. Como não vamos permitir que produtores tenham seu trabalho mais afetado”, afirmou Temer.
Ainda não há registro de confrontos entre forças de segurança e caminhoneiros na região.
NA REGIÃO
Na região os bloqueios de caminhoneiros são fixos na Rodovia Euclides da Cunha nas cidades de Valentin Gentil, Fernandópolis, Jales, Urânia e Santa Fé do Sul. Há também um bloqueio na rodovia Eliézer Montenegro Magalhães, no perímetro de Jales e em diversos pontos em São José do Rio Preto.
CIDADÃO acompanhou de perto a forma como o protesto é organizado. Os grupos se revezam na beira da pista forçando todos os caminhoneiros a parar. Alguns acabam não atendendo o pedido e jogando os caminhões contra os manifestantes.
Enquanto um grupo atua na pista, outro se encarrega da comida, do café e do trabalho via redes sociais de convocação de mais manifestantes. Durante o dia, as lonas que protegem as cargas nas viagens, serve como barraca contra o sol forte. A noite eles não dormem, apenas cochilam na boleia dos caminhões.
“É complicado, cansativo, mas vale a pena. Estamos lutando não só por nossos direitos, mas por um país melhor. O que nos dá muita força é que mesmo com todo o transtorno que a população em geral está passando em função do desabastecimento, estamos recebendo o apoio da maioria. Todos os dias algumas pessoas saem de suas casas para trazer água, comida e outros mantimentos para nos apoiar. Isso nos dá ainda mais certeza de que estamos fazendo o que é certo”, disse o caminhoneiro Anderson Reginaldo.
EM FERNANDÓPOLIS
O movimento grevista ganhou força na região a partir de segunda-feira, 21, mas apenas ontem houve de fato uma paralisação em Fernandópolis. Pelo menos 10 caminhoneiros estacionaram seus veículos às margens da Euclides da Cunha na altura do Jardim Araguaia.
Assim como nos outros pontos de bloqueio, eles invadem a pista e pedem para que os caminhões que seguem pela rodovia encostem e se juntem a manifestação. Luis Fanti é um dos motoristas fernandopolenses que aderiu a greve. Segundo ele, não há mais condições de continuar trabalhando da forma que está.
“Semana passada o preço do óleo diesel subiu duas vezes em um único dia. Isso depois de uma série de aumentos recorrentes. Nós não estamos mais conseguindo pagar nossas contas, não conseguimos mais estudar nossos filhos, pois tudo que se ganha fica na fumaça do diesel. E não é só. Para uma carreta sair hoje aqui de Fernandópolis para ir ao Porto de Santos e voltar, só de pedágio se paga mais de R$1,5 mil. E o preço do frete não pode acompanhar, pois do contrário, o que chega na sua mesa hoje praticamente dobraria de preço”, explicou o manifestante.
DESABASTECIMENTO
Enquanto governo e caminhoneiros não chegam a um acordo de fato, o que se vê em todo país e em Fernandópolis é uma crise causada pelo desabastecimento. O medo de ficar sem combustível causou uma corrida dos fernandopolense aos postos de combustíveis, o que gerou filas enormes na quinta-feira, 24.
Ontem a situação já era um pouco mais controlada, mas não por falta de preocupação da população e sim pela falta de combustíveis. Um levantamento feito por CIDADÃO aponta que apenas um posto na cidade ainda possui estoque de todos os combustíveis (etanol, gasolina e diesel). Quatro já não possuem mais estoque algum e os demais operam parcialmente, a maioria apenas com diesel nos tanques.
E não é só. Os supermercados já começaram a sofrer com a falta de produtos. Um deles chegou a fixar cartazes limitando a quantidade de itens por cliente em função do baixo estoque. As quitandas também já começam a encontrar dificuldades para oferecer hortifrútis e os preços começaram a disparar.
PRIORIDADES
Em razão das dificuldades para abastecer a frota, a Prefeitura de Fernandópolis está dando prioridade para os veículos da saúde, como as ambulâncias e ônibus de transporte de pacientes, além do SAMU.
O transporte escolar oferecido pela Prefeitura de Fernandópolis foi suspenso. Em nota emitida na tarde de quinta-feira, a Secretaria de Comunicação informou a situação. “A prefeitura informa que, devido à falta de combustível de seus fornecedores, temporariamente o transporte escolar de sua linha própria está suspenso. Pedimos a compreensão dos pais ou responsáveis e torcemos para que essa situação que está ocorrendo em todo o Brasil se normalize o quanto antes. Informamos que a Diretoria Regional de Ensino já foi comunicada a respeito desta interrupção momentânea”, diz a nota.
Também em função da greve, Comissão Organizadora da Expô anunciou que não haverá transporte gratuito para a festa. A princípio seria apenas na quinta-feira, mas como a greve continua o transporte segue suspenso.
A informação foi publicada em uma nota na página oficial da festa, no Facebook. “Devido à greve dos caminhoneiros que afeta todo país, a empresa que realizaria o transporte público para a Expo Fernandópolis 2018 não irá circular no dia de hoje. O motivo é a falta de combustível. A empresa, que também é responsável pelo transporte público municipal, aguarda a normalização para que volte a transportar os passageiros para a festa que tem caráter solidário. Todas as atrações da festa serão mantidas”, disse a nota.