Depois de ouvir a decis�o do conselho de senten�a, que o absolveu da acusa��o de matar o engenheiro Jos� Carlos de Lemos, em 2002, o advogado Edilberto Donizete Pinato pretende agora juntar os cacos da pr�pria vida e alcan�ar um pouco de paz de esp�rito, ao lado da esposa Elen e do filho Daniel, nascido no �ltimo domingo, 23. Ap�s mais de doze horas de julgamento, Pinato, malgrado o al�vio que sentia, n�o parecia feliz: �Minha vida nunca mais ser� a mesma. Vou levar essa tristeza para o t�mulo�, disse. Embora cansado, o advogado concedeu esta entrevista exclusiva a CIDAD�O.
CIDAD�O: O seu advogado, Dr. Alberto Zacharias Toron, citou no j�ri uma frase do Chico Buarque: �A dor da gente n�o sai no jornal�. Como o sr. fez para dar conta da sua dor?
PINATO: Tive que segur�-la sozinho durante esses seis longos anos. Imagino que essa dor certamente nunca vai se aplacar totalmente, porque esse fato triste destro�ou duas fam�lias e destruiu meu casamento de 26 anos. Essa dor, essa tristeza, n�o tem como desaparecer. Pode at� diminuir de intensidade, mas sempre vai estar ali, escondida em algum escaninho da minha mente. Por�m, sempre tive a sensa��o de que a sociedade fernandopolense, desde os primeiros momentos, pelas circunst�ncias em que aconteceu esse fato, ela, a sociedade, j� tinha me absolvido. E tive a felicidade de ser merecedor de ter como testemunhas da minha conduta pessoal, um juiz de Direito da Comarca, em ex-prefeito e um ex-presidente da C�mara. Nunca me considerei um criminoso. Agi em leg�tima defesa, n�o tinha outra op��o. A sociedade, representada pelo conselho de senten�a, corroborou aquilo que eu j� sentia. Meus amigos s�o os mesmos amigos, freq�ento os mesmos lugares. Agora, n�o h� nada para comemorar. Houve muitas perdas nesse caso. � muito triste.
CIDAD�O: Mudou alguma coisa na sua cabe�a, depois dessa experi�ncia amarga?
PINATO: Quem passa por uma situa��o t�o dura, t�o desgastante, nunca mais � o mesmo. Sinto que eu envelheci. Logo ap�s os fatos, tive uma depress�o muito grande, que resultou numa �lcera. O Dr. Betiol me salvou, porque eu n�o sabia, mas estava perdendo sangue. Quase morri. J� estava quase em estado de choque. Tive tamb�m uma isquemia cerebral. Deus me ajudou, porque a veia do c�rebro entupiu e desentupiu sozinha, mas por instantes perdi a mobilidade do bra�o esquerdo e a fala. Ent�o, o caso trouxe muito estresse, eu sofri muito e jamais superarei esse trauma.
CIDAD�O: Quais foram, na sua opini�o, os respons�veis pela sua absolvi��o?
PINATO: Primeiro, a sociedade de Fernand�polis, como j� disse, que reconheceu, dentro das circunst�ncias, que eu realmente n�o tinha outra maneira de agir. Qualquer pessoa do povo que estivesse no meu lugar n�o teria agido de forma diferente. Depois, tive um amigo, um advogado-irm�o, que desde as primeiras horas me deu total e incondicional apoio. � o Dr. Fernando Jacob Filho, que cuidou do meu processo at� o recurso que questionou a legalidade da primeira senten�a (de pron�ncia), que, com a interven��o do criminalista Dr. Alberto Zacharias Toron, resultou na nulidade e no desentranhamento da mesma do processo, al�m de derrubar as qualificadoras. A partir da�, o Toron, que outro grande amigo, assumiu totalmente a minha defesa, e teve atua��o decisiva at� o resultado do julgamento em plen�rio, quando recebeu a assist�ncia do jovem e competente advogado Renato Martins, seu disc�pulo e fiel escudeiro. Tudo isso foi o que me levou a ser absolvido, apesar do brilhante trabalho realizado pelo promotor de Justi�a, dentro da sua �tica em rela��o ao caso. Fiquei muito impressionado com a dedica��o e compet�ncia do Dr. Eduardo Caetano Querobim.
CIDAD�O: Seu filho Daniel nasceu no domingo, um dia antes do j�ri. Isso n�o foi um pren�ncio de que novos tempos est�o chegando na sua vida?
PINATO: Gra�as a Deus, conheci h� dois anos uma pessoa maravilhosa, a Elen, com quem eu me casei. N�s programamos ter um filho, e realmente ele acabou nascendo no domingo. Foi uma coisa muito bonita, fiquei muito emocionado, porque essa crian�a e esse novo relacionamento deram in�cio a uma nova p�gina na minha vida. Acredito que ser� com bastante felicidade e um pouco de paz.
