A lição que partiu de um fernandopolense de 12 anos

20 de Agosto de 2025

Compartilhe -

A lição que partiu de um fernandopolense de 12 anos

O Jornal CIDADÃO e a Rádio Difusora realizaram – com o auxílio de seus parceiros –, uma promoção de fim de ano, cujo objetivo era proporcionar um Natal mais feliz para seis famílias fernandopolenses e, ao mesmo tempo, colaborar com entidades assistenciais da cidade.  

Com esse objetivo, nossos parceiros disponibilizaram incríveis prêmios: seis meses de vale-compras nos Supermercados Pessotto da Cida; seis meses de vale-combustíveis no Auto Posto Colombano; um dia de beleza no Cléber Jóia Cabelereiro; um bolsa integral no curso de inglês da Wizard; uma bolsa integral no cursinho pré-vestibular do Colégio Objetivo e uma bicicleta da Bicicletaria Monark.
A proposta era que as pessoas escrevessem uma carta dizendo como um desses prêmios faria seu Natal mais feliz. Para participar, cada escritor deveria fazer a doação de dois litros de leite, que depois serão revertidos a entidades assistenciais de Fernandópolis. 
O resultado não poderia ser melhor. Dezenas de cartas e litros de leite chegaram à recepção de CIDADÃO e da Difusora, porém muito além da quantidade, o que impressionou foi o conteúdo das cartinhas. 
A LIÇÃO 
Lidas, uma a uma, por nossa equipe e posteriormente pelos parceiros, cada correspondência trazia uma lição de solidariedade e amor ao próximo. Todavia, uma em especial comoveu a todos que a leram. Trata-se da história de Mateus Henrique Campos, um fernandopolense, que aos 12 anos de idade já mostra o tamanho de seu coração. 
“Oi eu sou o Mateus do 7º ano B, do JAP, tenho 12 anos e queria ganhar o mercado, por que quando eu era pequeno cheguei passar fome, minha mãe procurava comida no lixo, pedia comida nas casas e hoje não passo mais, mas tem o Dori, um mendigo. Eu dou comida, água, ‘refri’ e outras coisas para ele, por isso que peço, de coração aberto, que leiam essa carta com amor, ele passa fome e sede. Eu já passei e não desejo isso para ninguém. Eu, quando crescer, vou ser dono de um mercado e vou distribuir comida e ‘refri’ para todos os mendigos”, escreveu o garoto. 
Com essa cartinha em mãos, nossa equipe, é claro, decidiu conhecer pessoalmente a criança que já passou por tantas dificuldades e, em vez de pedir um presente para si, deu uma lição de humanidade ao pedir para outrem, com quem não possui nenhuma relação familiar. 
 Ele mora com a mãe, Vanessa, o irmão Kauã, de 7 anos, e o padrasto em uma casa humilde no Jardim Paulistano, um dos bairros mais pobres da cidade. Ele de fato chegou a passar fome em função de um conjunto de fatores que desestruturou toda a família. 
“Passamos por momentos muito difíceis. O pai dele o abandonou e logo que ele nasceu meus pais se separaram. No meio daquela confusão fui morar na favelinha, pagava R$ 80 de aluguel em um cômodo e, sem conseguir escola para ele, só conseguia fazer bicos de manicure ou faxineira, então as coisas ficaram muito difíceis”, contou a mãe. 
Ela então acionou a justiça e conseguiu uma vaga na creche para Mateus. Voltou a trabalhar, se casou e deste relacionamento nasceu Kauã. Quando as coisas pareciam melhorar, por vários motivos, Vanessa se separou do pai de Kauã e foi morar sozinha com os meninos. 
A família voltou a passar por dificuldades e necessidades. Porém, com o tempo, as coisas voltaram a melhorar. A mãe dos meninos se casou novamente e eles foram morar numa casa da mãe do novo companheiro de Vanessa, deixando de pagar aluguel. No entanto, o destino voltou a pregar uma peça na família. 
No início deste ano Vanessa foi diagnosticada com dois cistos bem grandes e outros seis pequenos no útero, o que a levou às pressas para a mesa de cirurgia, tirando-a novamente do trabalho. Quando ela se recuperava da operação, descobriu que durante o procedimento, sua bexiga foi perfurada e teve que passar por mais duas cirurgias chegando a ficar 15 dias na UTI. 
Em suma, Vanessa ficou quase um ano afastada do mercado de trabalho e seu companheiro, que é servente de pedreiro, teve que assumir sozinho as despesas de casa. Recuperada, ela agora tenta encontrar um emprego, espalhou currículos, mas ainda não encontrou nenhuma vaga. 
O DORI  
Como disse Mateus em sua carta, eles não passam mais fome, mas a situação não é das melhores. Mesmo assim, o pouco que eles têm o garoto procura dividir com o Dori, um morador de rua que dorme no alpendre de uma casa abandonada na rua de cima de onde eles moram. 
Assim que soube que sua carta foi selecionada, Mateus correu para contar as boas novas ao amigo e fez uma promessa: “o senhor vai com a gente no mercado e vai escolher tudo o que quiser comer”, disse ele ao Dori. 
Com lágrimas nos olhos, ele disse, assim como na carta, que sonha em quando crescer ter um mercado, só para não deixar ninguém passar fome, como ele chegou a passar. 
“Não desejo isso para ninguém, é muito ruim passar fome”, completou com a voz embargada. “Por isso que quando vi a promoção decidi escrever, o Dori passa fome e sede e as vezes não tem as coisas aqui para dar para ele. Quando eu crescer vou trabalhar muito para ter um mercado para poder distribuir comida para pessoas como ele”, concluiu. 

Ação de Mateus gera corrente de solidariedade

Como diz um velho dito popular, gentileza gera gentileza. Quando nossa equipe visitou a casa de Mateus, descobrimos que a Elektro – empresa concessionária de energia – havia notificado o imóvel sobre a necessidade de substituição do antigo poste e padrão de recebimento de energia, por um novo, sob pena de desligamento da rede elétrica da casa. 
 Tal substituição geraria um custo que complicaria ainda mais a situação financeira da família. Em contato com um dos parceiros da Difusora, o empresário Olavo Chaia, diretor da empresa Postes e Padrões Chaia, se sensibilizou com a história e decidiu entrar nessa corrente do bem. 
No mesmo dia ele acompanhou nossa equipe até a casa da família, verificou as necessidades técnicas e doou todos os materiais necessários. “É o mínimo que podemos fazer. Na semana que vem já faremos a instalação para eles. O que o Mateus nos ensinou de maneira tão simples não há o que pague”, disse Chaia. 
E assim segue a corrente. Da mesma forma que o Pessoto da Cida decidiu ajudar Mateus a ajudar o Dori e que o Postes e Padrões Chaia decidiu retribuir a gentileza, que estes exemplos se multipliquem e que mais fernandopolenses possam ter um Natal ainda mais feliz.