Laura perdeu a perninha, mas não a alegria de viver

20 de Agosto de 2025

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Laura perdeu a perninha, mas não a alegria de viver

“Eu sou Laura e eu sou muito feliz. Venci um Câncer, tive que amputar, mas não é nada porque estou curada. Meu coto é fofinho e gordinho”.

“Meu nome é Laura Morgon. Sou amputada, uso prótese e vou continuar a viver. Sou muito boa para ler e escrever, amiga de todos e todos são meus amigos. Mesmo eu sendo deficiente me acolheram como se fosse qualquer um.  Não tenho vergonha de dizer que sou assim e adoro muito, muito, muito como eu sou. Tudo em minha vida mudou, está mais difícil de aprender tudo de novo e como já disse, sou amputada do membro inferior esquerdo, não foi acidente, foi um câncer. Perdi a perna, mas estou viva, isso que importa. Preciso de uma prótese avançada, mas por enquanto essa serve.  Tenho mãe, pai e uma irmã que sempre me apoiaram e tenho certeza que vão continuar me apoiando. Eu sou assim e adoro ser assim”. 
Os trechos acima foram extraídos de duas cartas escritas por uma menina que, aos oito aninhos, dá uma verdadeira lição de vida para pessoas que se sentem perdidos por estarem envolvidos em algum tipo de problema.
Desemprego, falta de dinheiro, problemas familiares, enfim, muitas vezes somos pegos reclamando de coisas como essas, ou até mais insignificantes, como o celular velho que está travando ou a falta de roupas novas no guarda-roupas. 
Pois é, tudo isso fica ainda mais apequenado quando se conhece a história de Laura Morgon, uma menina que teria motivos de sobra para reclamar da vida, mas ao invés disso decidiu sorrir, e espalhar alegria por onde passa. 
A HISTÓRIA 
Aos seis anos de idade Laurinha começou a sentir dores na perna esquerda. À época ela tinha começado as aulas de balé. Seu pai, Paulo Cesar Morgon, ficou preocupado com a reclamações da filha e decidiu a levar na Santa Casa. O médico plantonista disse que não era nada grave e receitou um anti-inflamatório. 
Sua mãe, Simone Salustiano Pereira Morgon, porém, decidiu não ministrar o medicamento, já que com uma compressa de gelo e aerossol de massagem as dores passaram.  
Duas semanas depois a menina voltou a reclamar de dor na perna e o pai então decidiu a levar no Hospital das Clínicas de Fernandópolis. Lá ela foi atendida pelo ortopedista Hélio Franciscon, que pediu uma série de exames, incluindo um Raio-X. 
No Raio-X o médico notou uma pequena alteração e pediu para que Paulo fizesse uma ressonância magnética em Laura, para um diagnóstico mais preciso. Após o resultado, o médico deu a pior notícia da vida de Paulo e Simone, até aquele momento: sua filha estava com um tumor no osso. 
“O Dr. Hélio olhou nos meus olhos e disse para eu levar minha filha, o mais rápido possível, para Barretos (Hospital do Câncer). Pronto, nosso mundo desabou”, disse o pai. 
Já em Barretos, novos exames apontaram que a pequenina estava com um câncer muito raro, agressivo e que se espalha rapidamente. Imediatamente o corpo clínico iniciou um protocolo de quimioterapias.
“A primeira coisa que fizemos foi questionar o que causou isso. A resposta foi que não existia explicação, que não era genético e que o tumor não tinha mais do que dois meses. Felizmente descobrimos rápido, pois em questões de dias o câncer poderia ter se espalhado e estabelecido metástases nos pulmões. O doutor Hélio foi muito rápido e pontual no diagnóstico e foi o que salvou a vida da minha filha”, contou a mãe. 
Para poderem acompanhar melhor o tratamento da filha, os dois decidiram se mudar para Barretos. Ela, professora e ele servidor público estadual, pediram afastamento de seus empregos para dedicarem-se apenas aos cuidados de Laura. 
Porém, mesmo todo esse o cuidado e a rapidez na descoberta e tratamento, infelizmente, não foram suficientes para evitar outra notícia terrível para a vida dessa família.  O tumor acabou atingindo a fise do crescimento e, mesmo com ela reagindo bem ao tratamento e o tumor eliminado logo nas primeiras sessões de quimioterapia, a única alternativa seria a amputação. 
Desnorteados e, mesmo sabendo que o Hospital do Câncer de Barretos é referência mundial nesse tipo de tratamento, eles decidiram procurar uma segunda opinião, afinal estavam falando da perna da filhinha deles de apenas seis anos. Eles então procuraram o GRAAC - Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer -, em São Paulo, e ouviram dos médicos de lá a mesma notícia desesperadora dos de Barretos.    
“Eles (médicos) disseram que nós demos muita sorte de termos descoberto rápido o tumor dela, pois se tivéssemos dado o anti-inflamatório receitado lá no começo pelo médico plantonista da Santa Casa, o problema teria sido mascarado e talvez Laura não perderia ‘apenas’ a perna”, contou Paulo sem conseguir segurar as lágrimas. 
O DIA DA AMPUTAÇÃO 
O dia da cirurgia de amputação foi o mais dolorido. Por mais que eles já estivessem conscientes da necessidade, veio o desespero. 
“Foi duro (emoção)... Ela foi andando para a cirurgia e a única coisa que passava pela minha cabeça era ‘nossa, minha filha vai andando para arrancar a perna (emoção)... é muito difícil para a cabeça da gente”, lembra Paulo. 
Diante de toda essa dor e angústia dos pais, Laura se mostrou forte e passou força para eles. “Quando cheguei na sala que o médico foi marcar a perninha dela ela olhou pra mim com os olhinhos cheios d’água e disse: ‘calma mamãe, eu cheguei a tempo. É só minha perninha, eu vou viver’ (emoção)... Não preciso nem falar minha reação”, completou Simone. 
Quando Laura disse que “chegou a tempo” ele se referia ao que ouvia nos corredores do hospital. O “chegar a tempo” quando se fala de câncer quer dizer que ele foi descoberto precocemente e que a chance de cura é grande. 
Depois que o efeito da anestesia passou, novo exemplo. “Ela acordou, olhou para baixo, levantou o lençol, abriu um sorriso e disse: ‘estou curada mamãe’”, contou Simone. 
PÓS AMPUTAÇÃO
Depois da operação, Laura ainda teve que passar por dois ciclos de quimioterapia até receber alta médica. De volta a Fernandópolis, sua força de vontade e alegria de viver fizeram com que ela viva uma vida praticamente normal, dentro de suas limitações, é claro. 
“Quando ela foi para o tratamento a professora dela, a Tânia, fez questão de ir acompanhando todos os passos e ela mesma ia informando os coleguinhas dela de tudo que estava acontecendo. Então, quando ela voltou para escola a recepção foi fantástica e isso a deixou muito à vontade. Ela nunca teve vergonha”, disse Simone. 
Hoje, Laura brinca, dança, se diverte ao lado dos amiguinhos e da família. Sua muleta cor de rosa é um charme e como ela mesma diz, seu coto é fofinho e gordinho. v