Possível perseguição política interrompe história do “Meu Nome é Jão”

20 de Agosto de 2025

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Possível perseguição política interrompe história do “Meu Nome é Jão”

Quando em 2014 surgiu a ideia da realização de um evento alternativo, com entrada franca e a apresentação de grupos locais, muitos achavam que se tratava de uma ideia utópica. O país sentia à época os primeiros efeitos da crise econômica, porém, mesmo assim, dois jovens decidiram arregaçar as mangas e transformar o sonho em realidade. O resultado: um público de mais de 3 mil pessoas. 

Na ocasião, o evento cultural ganhou apenas o apoio do Shopping Center Fernandópolis, da Prefeitura, que abraçou a causa e da Secretaria Estadual de Turismo, graças à intervenção de Fabrício Falquette, então presidente do diretório local do PMDB. 
Todavia, com o sucesso da primeira edição, é claro, o “Meu Nome é Jão” ganhou ainda mais força. As atrações se multiplicaram e a parceria com a Prefeitura de Fernandópolis se consolidou, de forma que em 2015 o festival superou as barreiras locais e ganhou destaque no calendário estadual. 
Em 2016 não foi diferente. A grandiosidade do evento, que até então era realizado no Shopping Center, superou os alambrados do centro comercial e ganhou as ruas, praças e o Teatro Municipal de Fernandópolis, mantendo a sua essência de promover o trabalho dos artistas da cidade e ao mesmo tempo abrindo espaço para apresentações de renome nacional, como foi o caso do grupo “Metamorfose Ambulante” do Senac de Araçatuba. Mais de 250 artistas participaram do festival que, além das apresentações de praxe, promoveu workshops de teatro.  
Este ano, no entanto, a história de sucesso do “Meu Nome é Jão” foi interrompida. Em nota publicada na página oficial do evento no Facebook, a comissão organizadora anunciou o cancelamento da edição programada para este final de semana. 
“Infelizmente por questões financeiras, não conseguiremos realizar o Festival em 2017. Como todos os anos, fomos atrás de apoio, mas pelo jeito, o engajamento gerado nos três primeiros anos não foi suficiente para que o Festival acontecesse sem o apoio do poder público - que não compareceu este ano. Pedimos desculpas a todos que se inscreveram ou se programaram para participar do maior rolê alternativo de toda região”, diz a nota. 
Procurado Luigui Delyer, um dos organizadores do festival, disse que a não participação da Prefeitura de Fernandópolis acabou colocando um ponto final momentâneo no festival. 
“Sabíamos que seria difícil organizar o Festival este ano, já que, entre outras coisas, não é ano eleitoral, o que dificulta muito o recebimento de verbas da Prefeitura e Governos. Com a crise que o país atravessa não foi possível viabilizar os custos somente na iniciativa privada. No quarto ano de evento a não participação da Prefeitura pôs um ponto final momentâneo no Festival”, disse. 
PERSEGUIÇÃO 
Apesar de a Prefeitura negar perseguição política na decisão de não apoiar a realização do “Jão”, impossível não relacionar o fato às eleições municipais de 2016. Ainda mais diante do grande incentivo financeiro que deu a outros eventos semelhantes ainda neste ano. 
Acontece que, um dos responsáveis pelo evento declarou apoio à chapa adversária a do atual prefeito, André Pessuto (DEM), no ano passado, inclusive com críticas veementes a ele e seus apoiadores nas redes sociais. 
A rusga, que inevitavelmente deixou mágoas, pode ter sido um dos motivos para a não concessão do apoio necessário para a realização do festival, ainda mais quando se observa que nos anos anteriores esse apoio ficou restrito à disponibilização de palco, som e iluminação, de custos irrisórios diante do orçamento de R$ 190 milhões estimado para este ano. 
REPERCUSSÃO 
Nas redes sociais, o cancelamento do “Meu nome é Jão” causou revolta.  “Que ‘presente’ bem no dia do rock (12 de julho). ‘Obrigada’ Fernandópolis... só espero que daqui 3 anos a galera da cena não esqueça disso na hora de votar”, escreveu Janaína Tsuchida. “Fernandópolis realmente não investe em cultura”, completou Andressa Paes. “É triste a realidade dos eventos culturais”, concluiu Lucas Melchior.
OUTRO LADO 
Questionada, a Prefeitura negou a existência de intervenção política na decisão. Disse ainda, que gostaria de ajudar, mas que encontra muita dificuldade para isso atribuindo gastos com a realização do “Fernan Raiá’, no último fim de semana e a organização para a festa de aniversário de Brasitânia. 
Por fim, afirmou também que não descarta a possibilidade de apoiar o “Meu Nome é Jão” no ano que vem. “Todos os eventos são levados em consideração e este não será diferente dos demais, na qual também será analisado dentro das possibilidades legais”, concluiu a administração municipal.
O JÃO 
O “Meu Nome é Jão Festival Cultural” foi criado com o objetivo estimular a produção e divulgar os artistas de Fernandópolis e região. O evento conta com apresentações de música, teatro, dança, literatura, artesanato, exposições e artes em geral, com todas as vertentes contando prioritariamente com integrantes da cidade. 
O Festival foi formulado pela carência da promoção desses artistas, e também pela falta de eventos que disseminem a cultura alternativa e suas vertentes, que a cada ano tem saído das grandes cidades e se enraizado em municípios de médio e pequeno porte, como é, majoritariamente, o caso de nossa região. 
Além de promover a integração entre os participantes, o “Meu Nome é Jão Festival Cultural” também tem por objetivo enfatizar a importância de se levar cultura às pessoas.
Dada a expressiva produção cultural dos mais diversos seguimentos nos últimos anos em Fernandópolis, o “Meu Nome é Jão” surgiu para dar visibilidade aos artistas locais, oferecendo-lhes a oportunidades de adquirir experiência nos palcos e na apresentação para grandes públicos, estimulando assim a produção independente em todos as vertentes da arte.
Agora o projeto está ameaçado em função de uma possível perseguição política em detrimento das dezenas de artistas e milhares de pessoas que o prestigiam.