Fernandópolis não é, de acordo com ranking elaborado pelo BrasilDAT - Sistema Brasileiro de Detecção de Descargas Atmosféricas operada pelo Elat/Inpe - Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, uma das cidades com maior incidência de raios no Estado de São Paulo. Aparece apenas na 443º posição no ranking estadual com índice de densidade de 7,31 raios por km² (veja quadro). Acima de 5 o índice já é considerado alto. A média do Brasil é de 6 raios por km².
Contudo, 2016 foi atípico na incidência de raios, especialmente o mês de março. Na madrugada do dia 6, durante tempestade, Fernandópolis registrou 665 raios nuvem-solo entre as 4 e 8 horas da manhã. O número foi quase 50% do total de raios que caíram na cidade naquele mês, cerca de 1.500, segundo dados revelados pelo Elat/Inpe, em levantamento realizado a pedido do CIDADÃO. A média de raios que caem em Fernandópolis anualmente giram em torno de três mil descargas.
Em todo o ano de 2016, Fernandópolis registrou a ocorrência de 3,8 mil raios nuvem-solo. Na comparação com a média anual houve um aumento de 26%. Mas, o Inpe considera que está dentro da média para a cidade.
A maior incidência de raios ocorre na primavera/verão por causa do calor que favorece as tempestades. Devido à alta incidência nesse período e prevendo um aumento de 10% das descargas elétricas no Sudeste nessa nova temporada de Verão o Elat lançou um alerta para medidas de proteção contra os raios. Entre elas, se destacam ações como evitar ficar em local aberto, debaixo de árvores e ficar próximo de objetos que conduzem eletricidade, entre outras (veja quadro).
A temporada de Verão vai até março e até lá todo cuidado é pouco, segundo especialistas. O raio é uma descarga elétrica de grande intensidade que ocorre na atmosfera. A intensidade típica de um raio é de 30 mil ampères, cerca de mil vezes a intensidade de um chuveiro elétrico. Em geral, os raios provocam um clarão e, logo em seguida, o barulho denominado trovão, por causa do deslocamento de ar.
Segundo pesquisadores, as ocorrências de raios são comuns nas áreas centrais, onde há uma concentração elevada de prédios. Neste mês, por exemplo, alguns raios andaram causando prejuízos na área urbana. No Jardim Araguaia, uma residência atingida registrou danos em vários aparelhos eletroeletrônicos. No Edifício Atlantis, centro da cidade, um raio danificou no final de dezembro vários computadores.
Na zona rural, os animais são as maiores vítimas de raios. Um raio matou sete cabeças de gado em uma fazenda durante o temporal na noite de 17 de novembro do ano passado na região rural de Cedral . Antes, em abril, um raio atingiu a propriedade rural no Distrito de Talhado, região de Rio Preto e matou 12 bovinos.
Para a população, o Elat orienta: “Se uma pessoa estiver em local aberto e/ou descampado (como praia) ou próxima a objetos metálicos grandes como torres, cercas e carros, é importante buscar locais seguros”. Em média, 111 mortes por raios ocorrem no Brasil a cada ano. Em Fernandópolis não houve nenhum registro de vítimas por raios em 2016.
DICAS PARA EVITAR ACIDENTES COM RAIOS
Para evitar acidentes com relâmpagos as seguintes regras de proteção pessoal, listadas abaixo, devem ser seguidas:
1 - Se possível, não saia para a rua ou não permaneça na rua durante as tempestades, a não se r que seja absolutamente necessário. Nestes casos, procure abrigo nos seguintes lugares:
• Carros não conversíveis, ônibus ou outros veículos metálicos não conversíveis;
• Em moradias ou prédios, de preferência que possuam proteção contra raios;
• Em abrigos subterrâneos, tais como metrôs ou túneis, em grandes construções com estruturas metálicas, ou em barcos ou navios metálicos fechados.
2 - Se estiver dentro de casa, evite:
• Usar telefone com fio ou celular ligado à rede elétrica (utilize telefones sem fio);
• Ficar próximo de tomadas e canos, janelas e portas metálicas;
• Tocar em qualquer equipamento elétrico ligado a rede elétrica.
3 - Se estiver na rua, evite:
• Segurar objetos metálicos longos, tais como varas de pesca e tripés;
• Empinar pipas e aeromodelos com fio;
• Andar a cavalo;
4- Se possível, evite os seguintes lugares que possam oferecer pouca ou nenhuma proteção contra raios:
• Pequenas construções não protegidas, tais como celeiros, tendas ou barracos;
• Veículos sem capota, tais como tratores, motocicletas ou bicicletas;
• Estacionar próximo a árvores ou linhas de energia elétrica.
5- Se possível, evite também certos locais que são extremamente perigosos durante uma tempestade, tais como:
• Topos de morros ou cordilheiras;
• Topos de prédios;
• Áreas abertas, campos de futebol ou golfe;
• Estacionamentos abertos e quadras de tênis;
• Proximidade de cercas de arame, varais metálicos, linhas aéreas e trilhos;
• Proximidade de árvores isoladas;
• Estruturas altas, tais como torres, linhas telefônicas e linhas de energia elétrica.
6 - Se você estiver em um local sem um abrigo próximo e sentir que seus pêlos estão arrepiados, ou que sua pele começou a coçar, fique atento, já que isto pode indicar a proximidade de um raio que está prestes a cair. Neste caso, ajoelhe-se e curve-se para frente, colocando suas mãos nos joelhos e sua cabeça entre eles. Não fique deitado.
MITOS E LENDAS
Os raios e os trovões aparecem com constância nos mitos das civilizações do passado. Profetas, sábios, escribas e feiticeiros os interpretavam como manifestações divinas, considerados principalmente como reação de ira contra as atitudes dos homens. Nas mãos de heróis mitológicos e de divindades eram utilizados como lanças, martelos, bumerangues, flechas ou setas para castigar e perseguir os homens pecadores.
BUMERANGUE
Há mais de cinco mil anos, os babilônicos acreditavam que o deus Adad carregava um bumerangue em uma de suas mãos. O objeto lançado provocava o trovão. Na outra mão, empunhava uma lança. Quando arremessada produzia os raios.
CASTIGO DOS DEUSES
Para os antigos gregos, os raios eram lanças produzidas pelos gigantes Ciclopes, criaturas de um olho só. Elas eram feitas para que Zeus, o rei dos deuses, as atirasse sobre os homens pecadores e arrogantes. Como a mitologia grega foi migrada e adaptada à romana, a interpretação dada aos raios não sofreu muita alteração entre os romanos. O rei dos deuses, Júpiter, também tinha o hábito, como Zeus, de enviar raios (lanças) sobre os homens. Minerva, a deusa da sabedoria, no lugar de Ciclopes, era quem abastecia Júpiter com esta poderosa arma. Entre os nórdicos, que viviam no norte da Europa, Thor era o deus do trovão e dos raios. O som do trovão era provocado pelo movimento das rodas de sua carruagem e os raios podiam ser vistos quando Thor arremessava seu martelo.
ALVO OU PROTEÇÃO?
Acreditava-se que havia árvores que atraíam raios, enquanto outras as repeliam. O grande deus romano, Júpiter, tinha como símbolo o carvalho, árvore alta e majestosa, constantemente atingida por raios. Por outro lado, acreditava-se no poder de proteção do loureiro, arbusto também encontrado na região do Mediterrâneo, cujos ramos e folhagens eram utilizados sobre a cabeça de imperadores e generais romanos. O loureiro era considerado um meio de proteção contra a ira dos deuses da tempestade que, presumia-se, invejavam os generais pelas vitórias e conquistas de seus exércitos.
SINOS CONTRA RAIOS
Outra crença, muito difundida na Europa Medieval, dizia que o badalar dos sinos das igrejas durante as tempestades afastaria os raios. A superstição perdurou por muito tempo. Muitos campanários de igreja foram atingidos e mais de uma centena de tocadores de sino foram mortos acreditando em tal ideia. A superstição perde força somente no início do século XVIII.
ESPELHO ATRAI RAIOS?
Não. A crença surgiu na época em que os espelhos tinham grandes molduras metálicas – elas, sim, um grande atrativo para os raios. Não há necessidade de cobrir espelhos durante uma tempestade.
UM RAIO NÃO ATINGE DUAS VEZES O MESMO LOCAL?
Também é mentira. Uma prova disso é o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, que recebe cerca de seis raios por ano.