“Vou entregar a prefeitura em condições infinitamente melhores do que recebi”

20 de Agosto de 2025

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“Vou entregar a prefeitura em condições infinitamente melhores do que recebi”

A prefeita Ana Maria Matoso Bim cumpre os seus últimos quinze dias como Chefe do Poder Executivo. No dia 1º de janeiro, ela diz que estará no Paço Municipal para transferir o comando do município ao prefeito eleito André Pessuto.  “Não tem porque não estar. Apesar das divergências políticas, faço questão de estar lá sim, para desejar, de coração, muita sorte e sabedoria aos meus sucessores. Fernandópolis não pode parar”, afirmou. Nesta entrevista ao CIDADÃO, Ana Bim fala em que condições vai entregar a Prefeitura ao sucessor, comenta os motivos pelas quais os fernandopolenses não aprovaram a reeleição e diz que não se considera perdedora. “Não me vejo como perdedora. Primeiro, porque meu eleitorado se manteve o mesmo, independente de quantos partidos estavam na coligação”, afirma. Sobre a polêmica com o sucessor quando foi chamada de carioca, diz: “Sou carioca sim, com muito orgulho, mas essa é a minha cidade, é a cidade onde escolhi viver, criar os meus filhos e ver os meus netos crescerem”. Diz ainda que tem muito a comemorar, apesar das condições que recebeu a prefeitura e lembra a maior vitória: “O que mais me orgulha é ver nossa ZPE se tornando uma realidade, graças ao trabalho sério e honesto que desenvolvemos”. 

Veja a entrevista:
Em que condições a senhora vai entregar a Prefeitura no dia 1º de janeiro ao seu sucessor?
Em condições infinitamente melhores do que recebi. Pagamos a maior parte da dívida deixada pelo ex-prefeito (o restante está parcelado), e fizemos uma série de cortes no custeio da máquina pública que nos permitiram atravessar uma das piores crises econômicas da história do País sem atrasar o salário de servidores e o pagamento de fornecedores. Concluímos obras que estavam abandonadas - como a ampliação do Cadip – e recuperamos outras que estavam quase perdidas – como a UPA, além de conquistarmos uma série de prêmios nacionais e regionais que comprovam a eficiência da nossa administração. 
Qual a sua opinião sobre a disputa eleitoral deste ano? 
Acredito que as mudanças na legislação eleitoral que entraram em vigor fracassaram no seu objetivo principal, que era o de reduzir a influência do poder econômico. A campanha mais curta tem seu lado positivo, pois é menos cansativa, mas, aqui no interior, onde é preciso visitar os bairros, acaba sendo pouco tempo, impossibilitando a ida a todos os lugares. Sendo assim, o candidato com mais recursos acaba levando certa vantagem. 
Por que a senhora perdeu a eleição?
Não me vejo como perdedora. Primeiro, porque meu eleitorado se manteve o mesmo, independente de quantos partidos estavam na coligação, ou da campanha enxuta que fizemos. Basta ver que nas três eleições que disputamos para o Executivo, nossa votação sempre ficou na casa dos 14 mil votos, sem precisar de padrinhos políticos e patrocínios milionários, mas sim contando apenas com a confiança e o carinho da minha população. Na verdade creio que as pessoas estão insatisfeitas com a política de modo geral. Entre “brancos, nulos e abstenções” foram quase 17 mil pessoas que não votaram no município, e isso pra mim é reflexo de uma crise política nacional, e nessa, os administradores honestos acabam prejudicados, porque são colocados num mesmo balaio com os que não são. 
A senhora quebrou tabus em Fernandópolis. Foi a primeira mulher vereadora, vice-prefeita e prefeita duas vezes. Mas, não conseguiu quebrar o tabu da reeleição. Em sua opinião, porque o eleitor de Fernandópolis não aderiu à tese de reeleição no Executivo?
Acredito que muitas pessoas têm o desejo de mudança sem saber, exatamente, para o que querem mudar. E isso se reforça com as questões que o país e o mundo estão enfrentando. Toda essa indignação diante dos escândalos de corrupção, a instabilidade no comando do país, acho que tudo isso reflete nos municípios, não só na percepção do eleitor, mas nas dificuldades dos prefeitos em governar com quase nenhum recurso. Fernandópolis não é uma ilha isolada do mundo, prova disso são as diversas manifestações realizadas aqui nos últimos tempos por conta de questões nacionais.
Nesta eleição, novamente tivemos a polarização entre dois grupos políticos, um deles liderado pela senhora. No entanto, o que se viu foi o crescimento de um terceiro grupo, formado por eleitores que não optaram por nenhum dos candidatos, tanto que a soma de votos brancos, nulos e abstenções foi maior que a do prefeito eleito.  Culpa dos políticos? Qual sua opinião? 
Esse terceiro grupo não é exclusividade de Fernandópolis. Muitos acreditam que votar em branco, nulo ou se abster é uma forma de protestar, e a vontade de protestar é um sentimento que tem crescido em função do cenário político nacional. As pessoas vêem a todo o momento na TV, no jornal, na internet e até mesmo nas redes sociais notícias de políticos sendo presos, de operações sobre redes imensas de corrupção, a economia cada vez pior, e mesmo que essas situações aconteçam em lugares “distantes”, atingem de forma negativa a vida de todos. Muitas pessoas perderam o emprego, viram seu padrão de vida diminuir e sentem que tem algo errado, e isso acaba refletindo nas urnas.
Como analisa o relacionamento com o Legislativo, onde a senhora foi alvo de ofensa por parte de um vereador e de CPI da Merenda? 
Infelizmente, não fui ofendida uma única vez, e também, não foi por um único vereador. Iniciei minha vida política na Câmara Municipal. Então, respeito muito o trabalho do vereador. Sempre procurei atender ao máximo os pedidos que vem do Legislativo, pois entendo que são pautados nas necessidades da população. Da minha parte, sempre houve respeito, diálogo e ética, porém, lamentavelmente, nunca vi tamanha falta de consideração, e aqui também caberia dizer afronta, por parte de uma Câmara Municipal para com um chefe do Poder Executivo. Divergências são comuns, mas ofender, até mesmo com xingamentos, realmente é lamentável. Não sei se lamento mais pelo grito dos maus ou pelo silêncio (ou omissão) dos bons. Quanto a CPI da Merenda, ficou mais do que claro que a motivação era puramente política. Nunca fui contra nenhum tipo de investigação, ao contrário, sempre administrei com muita transparência, tanto é que procurei o Ministério Público para pedir que investigassem as suspeitas que foram levantadas e também realizamos uma Sindicância interna. O que alguns queriam era manchar minha imagem para atrapalhar a disputa eleitoral. É triste isso. Não é o tipo de política que aprendi a fazer e nem na qual acredito.
O que senhora comemora nesta gestão?
O povo de Fernandópolis e do distrito de Brasitânia confiou a mim a oportunidade de fazer o melhor por cada bairro e pela população. Creio que essa missão foi cumprida. É claro que em quatro anos não dá para sanar todos os problemas do município, pois há alguns que existem há décadas e ainda outros que vão surgindo, que são tão importantes quanto. Porém, creio que há muito a ser comemorado. Sinto-me orgulhosa do trabalho que realizamos. Aqui acho que cabe ressaltar a implantação de 100% de Programa da Saúde da Família, que é um marco na rede municipal de saúde, e os repasses em dia à Santa Casa, assim como o salário dos servidores, compromissos que para mim sempre foram prioridade. Em uma época tão difícil, é realmente uma grande vitória. Porém, o que mais me orgulha é ver nossa ZPE se tornando uma realidade, graças ao trabalho sério e honesto que desenvolvemos. Quando assumimos a administração a encontramos completamente desacreditada e cercada por uma rede de corrupção sem precedentes, onde existia até pedidos de propina registrados em cartório. Separamos o joio do trigo, fizemos audiências públicas, pedimos ajuda ao Legislativo e Judiciário, até que chegamos a um edital de licitação que se tornou modelo nacional. Hoje, graças a Deus, um grupo empresarial adquiriu as ações por meio dessa licitação e irá implantar esse projeto tão importante para Fernandópolis e região, que vai, sem dúvidas, mudar a realidade econômica regional.  
O que gostaria de ter feito e não conseguiu?
Costumo dizer que quatro anos é muito tempo para um péssimo administrador, e pouco para aquele que realmente trabalha. Perdemos um tempo precioso tendo que colocar a casa em ordem, mas, seria impossível administrar sem primeiro fazer esse trabalho. Há muitas coisas que iniciamos e que infelizmente não haverá tempo de concluir, como as obras de Infraestrutura. Iniciamos esse trabalho da outra vez, deixamos recursos e os projetos para que fossem concluídos, e não fizeram. Retomamos desta vez e nos esforçamos muito para concluir, mas, não contávamos que além da dívida do município, o país entraria em crise. Gostaria muito de ter conseguido levar asfalto e galerias a todos os bairros.
Quais obras deixa em andamento para a próxima gestão?
Graças a Deus, com muito esforço, conseguimos concluir a grande maioria das obras. Mas, ficarão algumas importantes como o CEU – Centro de Artes e Esportes Unificado, que é convênio com o governo Federal, a creche do Universitário através de convênio com o governo do Estado, a pista de skate do Paulistano, asfalto, recape e galerias, incluindo o Jardim Uirapuru, construção, reforma e ampliação de campos de futebol, o projeto de eliminação de pontos escuros e o prolongamento da Marginal Litério Grecco para acesso ao Distrito Industrial VI. Sem contar as obras realizadas com recursos e mão de obra do município como galerias no Terra das Paineiras, Alto das Paineiras, Botelho, Universitário, muro e canaletas do Cemitério da Saudade, entre outras.
No dia 1º de janeiro, a senhora estará no Paço Municipal para transmitir o cargo ao prefeito eleito André Pessuto?
Não tenho por que não estar. Sou carioca sim, com muito orgulho, mas essa é a minha cidade, é a cidade onde escolhi viver, criar os meus filhos e ver os meus netos crescerem, assim como várias outras pessoas que deixaram suas terras natais para viver aqui. Apesar das divergências políticas, faço questão de estar lá sim, para desejar, de coração, muita sorte e sabedoria aos meus sucessores. Fernandópolis não pode parar. 
E o futuro de Ana Bim? Vai continuar na política? Será novamente candidata?
Pode parecer clichê, mas a verdade é que o futuro a Deus pertence. 
Qual a mensagem que deixa aos fernandopolenses?
Quero agradecer ao povo de Fernandópolis e Brasitânia pela compreensão e apoio durante esses quatro anos. Foram inúmeros desafios, momentos difíceis, mas superamos todos e viramos o jogo. Quando assumimos a Prefeitura em 2013, a população estava desacreditada e temerosa, atravessando um momento delicado. Se não bastasse a grande dívida em que se encontravam os cofres públicos, havia também a situação da FEF e da Santa Casa que se agrava cada dia mais. É claro que nossa maior preocupação era a Prefeitura, mas em todo tempo não medimos esforços para ajudar também a essas duas importantes entidades, e creio que conseguimos. Hoje nosso município recuperou a autoestima, a credibilidade para celebrar convênios, o desenvolvimento e se tornou um verdadeiro canteiro de obras. Temos novos bairros, novas escolas, novas unidades de saúde, novas áreas de lazer, um trânsito mais seguro e moderno, uma iluminação pública mais econômica e eficiente, a melhor educação do Brasil, incentivamos o esporte na terceira idade, estimulamos a cultura e o esporte amador, fizemos mais asfalto, mais galerias, temos uma unidade do Poupatempo, entre tantas outras coisas. E por fim, cumprimos a missão de tirar o projeto ZPE Paulista de Fernandópolis do papel. A nossa maior inspiração é sem dúvidas, as pessoas e nossa meta de fazer nossa cidade avançar e se tornar um lugar ainda melhor para se viver foi alcançada. Queríamos ter feito mais, muito mais, entretanto, por tudo que conquistamos fica um sentimento de satisfação, de missão cumprida e de gratidão a toda equipe que esteve ao meu lado até aqui, a minha família pelo carinho de sempre e a toda população. Sou muito grata a esta cidade que me acolheu há quase 40 anos, onde eu e minha família escolhemos viver. Fernandópolis é uma grande cidade e o meu desejo é que ela seja cada vez mais próspera e abençoada. Um feliz Natal a todas as famílias e um 2017 repleto de alegria e paz!