O recado é da professora Wandalice Franco Renesto, autora do Hino a Fernandópolis e primeira mulher a receber o título de Cidadã Fernandopolense. E tem endereço: prefeito(a) e vereadores que serão eleitos no próximo dia 2 de outubro. Prestes a completar 88 anos, Dona Wanda, como é conhecida, conserva o brilho nos olhos e muito entusiasmo quando fala de Fernandópolis, “a minha cidade”. Ela chegou à terra de Joaquim Antônio Pereira e de Carlos Barozzi em 1952 com o marido Waldomiro Renesto, já falecido, e aqui fez sua carreira na Educação, criou sua família e é fernandopolense de corpo e alma. Uma cidadã exemplar, que nunca deixou de exercer seu direito de votar.
No próximo dia 2 de outubro, vai repetir o ritual que mantém em Fernandópolis desde 1955, quando aqui votou pela primeira vez para escolher prefeito e vereador. Logo cedo, estará ingressando pelo portão da Escola Coronel Francisco Arnaldo da Silva, onde foi diretora e professora, se dirigir até a 23ª seção para cumprir o sagrado direito do voto. Será a 15ª vez em que votará numa eleição municipal. Desde que Fernandópolis começou a eleger prefeitos e vereadores, Dona Wanda só não votou nas eleições de 1947 e 1951. Embora o voto lhe seja facultativo, ela não abre mão. “Enquanto puder pensar, vou votar até em uma cadeira de rodas”. Nesta entrevista ao CIDADÃO, Dona Wanda manda outro recadinho aos que forem eleitos: “Olha que eu te cobro”. Veja:
A senhora no dia 2 de outubro vai comparecer para votar nas eleições municipais, quando os fernandopolenses vão escolher o 17º prefeito eleito pelo voto popular. Como se sente em repetir esse gesto de cidadania?
Eu me sinto feliz e muito responsável, porque tudo o que se refere a Fernandópolis, tudo que se refere as coisas que fazem a minha cidade crescer, porque eu digo minha cidade com muito orgulho porque sou cidadã fernandopolense por lei. Fui a primeira mulher que recebeu esse título de cidadania. E como cidadã, eu me sinto responsabilizada, inclusive para escolher um candidato para cuidar da minha cidade.
O exercício do voto para a senhora é facultativo, mas não abre mão de exercer esse direito?
Não, enquanto eu estiver viva, enquanto eu puder pensar, mesmo que não possa andar, eu vou de cadeira de rodas, mas eu vou votar.
O que move a senhora aos 87 anos sair de sua casa e ir até a seção eleitoral para votar?
Eu acho que a liberdade que nós temos na democracia, de escolher um representante, quer para a Prefeitura, quer para a Câmara Municipal, isso é uma obrigação, mais que uma obrigação, porque nós temos que pensar na nossa cidade. Como vamos encarar os nossos herdeiros, as gerações que vêm após a gente, se nós escolhermos mal?
Quando tirou título de eleitor?
Faz muito tempo. Eu tirei em 1946. Votei na primeira eleição em 1947. Eu já estava casada e morava em Borborema. Votei lá. Vim para Fernandópolis em 1952 e aqui comecei a entender uma Vila com espirito de cidade. E aqui fui escolhendo, perdendo às vezes, ganhando outras eleições, mas para mim não importava quem estivesse na prefeitura. Eu tinha coragem de chegar, pedir, debater, argumentar, as causas que achava democráticas e plausíveis para nossa cidade.
Então a primeira eleição que a senhora votou em Fernandópolis foi em 1955?
Eu cheguei aqui em 1952 e era prefeito Edison Rolim. Eu votei então pela primeira vez em Fernandópolis na eleição de 1955 em que disputaram Adhemar Monteiro Pacheco e Neca Verdi (Manuel de Oliveira Verdi). Era a terceira eleição municipal para eleger prefeito, que foi o Pacheco.
A senhora vota em qual seção?
Eu voto na 23ª seção no Coronel (Escola Coronel Francisco Arnaldo da Silva). Quando eu estava em exercício (foi professora e diretora da escola) sempre fui chefe do prédio e agora vou lá, sinto saudade da minha profissão, sinto saudade dos meus alunos, revejo muitos deles e eles cobram aqueles quadros com as fotografias que a gente fazia no final de ano das formaturas que estavam no corredor e hoje não existem mais.
A senhora falou que votou pela primeira vez em 1947. Como foi o seu primeiro voto?
Borborema era uma cidade pequena. O candidato chamava-se Manoel Silveira Bueno que foi depois patrono da escola que lecionei. Ele era muito amigo do Waldomiro e era uma pessoa ética, trabalhadora, uma pessoa interessante para a cidade e trouxe algum desenvolvimento. Ele era pai do nosso padrinho de casamento. Então tinha uma porção de ligações e a gente votou nele.
A senhora chegou a Fernandópolis em 1952 e é testemunha ocular de 14 das 17 eleições de Fernandópolis. Qual a eleição que ficou marcada em sua memória? Por quê?
Eu não me esqueço da primeira eleição do Dr. Percy. Lembro-me bem da luta que foi em 1963 quando ele foi eleito. O Percy era uma pessoa ligada ao coração da gente e da nossa terra, nós crescemos juntos e ele tinha um laço de parentesco com o Waldomiro e a gente torceu muito por ele. E ele foi, a meu ver, um excelente prefeito porque ele pegou uma fase em que Fernandópolis tinha que desenvolver ou desenvolver, porque senão ainda hoje seria uma Vila.
A urna eletrônica é uma modernidade que chegou no ano 2000. Antes as eleições eram em cédulas de papel. Qual a sua preferência?
Eu acho muito mais fácil votar nas urnas eletrônicas, mais simples essa modernidade, embora não seja dessa era da tecnologia e não gosto muito não. Mas, acho que para a eleição foi uma evolução muito boa. E eu já tenho título para votar com a identificação biométrica, a votação digital. Já fiz o recadastramento. E o medo de não poder votar? Então fui lá e fiz o cadastramento biométrico. Não vou estrear esse ano, mas quem sabe na próxima eleição. Deus é que sabe se vou estar aqui (risos).
Como acompanhava as apurações nos tempos das cédulas de papel, contadas voto a voto?
Eu acompanhava as apurações naquela época pessoalmente. Eu ia à quadra, ficava junto, anotava tudo. Eu fazia uma ficha com o nome dos candidatos, urna por urna, eu acompanhava tudo. Antes de dar o resultado pela rádio eu já sabia.
Qual o seu olhar para o resultado de uma eleição?
Eu nunca tive problema com prefeito, com quem perdeu ou quem ganhou. Quem entrar tem a responsabilidade de cuidar da cidade e eu cobro, como educadora, como cidadã, como mãe. Sempre quis que houvesse benefício para nossa cidade, que houvesse desenvolvimento. Então em Fernandópolis, eu acompanhei todas as fases, e Graças a Deus, todos os prefeitos que passaram, o que eu votei, o que não votei, todos deixaram sua marca com alguma coisa de progresso. Eu sou grata a eles, por isso.
Seu esposo, Waldomiro Renesto, foi um político de proa em Fernandópolis. Como ele era como candidato?
O Waldomiro sempre foi muito calmo, pacato. Ele se candidatou por insistência dos amigos. Ele ia a um comício, falava cinco minutos e pronto. Achava que se fosse eleito era porque o povo estava entendendo o que ele fazia em benefício da cidade. Naquele tempo o vereador não ganhava nada. Então ele não entrou para arranjar um emprego ou subsídio. Ele entrava para fazer algo de bom para a cidade. Ele foi vereador e presidente da Câmara por um mandato. Depois na eleição seguinte, ele foi candidato, mas disse que iria fazer um teste. Ele não foi a um comício, não mandou uma cartinha, não visitou ninguém. Não fez campanha. Ele disse: se o povo for grato àquilo que fiz pela cidade me eleja, senão eu continuo ajudando sem ser vereador. E ele não ganhou. Mas, ele nunca desistiu de Fernandópolis e sempre ajudou. Eu sou muito feliz porque em cada canto dessa cidade eu vejo uma marca do que ele deixou. Quando eu vou à igreja, por exemplo, eu olho e vejo a torre com o relógio, eu falo: Bom dia Waldomiro ou boa noite Waldomiro, porque foi ele quem fez com mais três amigos. A Igreja não gastou nada, a prefeitura não gastou nada. Ele e três amigos fizeram aquela torre. Tem até um pormenor: quando o Waldomiro morreu, o relógio parou. E o relógio ficou parado muito tempo. Eu pedi para muita gente para que continuasse cuidando do relógio que ele (Waldomiro) cuidava com tanto carinho e que colocou lá por insistência dos taxistas, das pessoas que frequentavam o jardim. Sabe quem resgatou e que conseguiu consertar o relógio? Foi o vereador Pinheiro (Valdir). Então, até rendo uma homenagem, porque um dia conversando com ele, disse que estava enjoada, já havia pedido para a prefeitura, para a Câmara, para todos os órgãos da igreja e ninguém cuidou do relógio. Ele não falou nada. Um dia chegou para mim e perguntou: a senhora foi à praça hoje? Então vá que o relógio está funcionando. Fiquei emocionada.
O “seu” Waldomiro nunca quis ser candidato a prefeito?
O Waldomiro era uma pessoa, que com cargo ou sem cargo, o partido dele chamava-se Fernandópolis, a luta dele chamava-se Fernandópolis e o trabalho dele era Fernandópolis. Então, ele foi muitas vezes convidado, mas uma das vezes que ele mais foi insistido ele perguntou pra mim e eu disse que não gostaria. Ele era muito bom e na política há muito sofrimento. E ele não se candidatou.
Ser esposa de político lhe trouxe mais alegrias ou tristezas?
Nós tivemos alguns percalços, mas a alegria de ver a cidade como está hoje e saber que a gente pôde contribuir de alguma maneira com o nosso trabalho para que ela chegasse onde está, isso compensa muito. Então é por isso que eu valorizo uma eleição. Eu acho que o fernandopolense tem que prestar bem atenção no que vai fazer no dia 2 de outubro, porque nós precisamos que a nossa cidade continue a desenvolver, não pode estacionar e nem pode ficar esperando cair do céu por descuido. Os próximos prefeito e vereadores devem assumir a responsabilidade de continuar dando valor a nossa cidade. Antigamente vereador não ganhava e trabalhava. Hoje vereador ganha, então tem que trabalhar. No caso do prefeito (a), acho que deve se dispor a desenvolver um trabalho principalmente nesta época em que nós temos muita coisa em jogo. Não podemos perder mais nada em Fernandópolis. Nós temos só que ganhar. E os políticos têm que lutar para levar nossa cidade sempre a um lugar ao sol.
Qual foi sua maior emoção na política?
Foram muitas. Nós tivemos muitas coisas bonitas. Mas, uma delas, certa vez me emocionou eu estava em São Paulo, estava até adoentada, e houve uma homenagem no Consulado Japonês a uma pessoa de Fernandópolis e eu liguei prá cá e falei para o Waldomiro, que era presidente da Câmara e disse que o Matazo Kuroda ia ser homenageado e precisava ter uma representação política da cidade. Ele disse que não poderia sair, mas que iria conversar com o prefeito (Antenor Ferrari). Os dois chegaram à conclusão que não poderiam sair da cidade naquele dia. E mandaram ofícios me outorgando a representação para essa solenidade. Eu fui ao consulado, era a única brasileira que estava ali, representando a minha cidade. Foi uma honra muito grande porque (Matazo Kuroda) era um cidadão prestante sendo homenageado e eu fui representando nossa cidade.
A senhora sempre esteve muito próxima da política, sempre foi, e continua sendo, muito participativa na vida de Fernandópolis. Nunca foi cortejada para ser candidata?
(Risos) Já fui sim, mas nunca quis usufruir de cargos, eu sempre tive os encargos.
O que a senhora diria hoje para os eleitores de Fernandópolis, principalmente aqueles que estão dizendo que não vão votar, ou vão votar em branco, ou anular o voto por decepção com a política?
Eu diria o seguinte: Como você poderá cobrar de uma prefeitura ou de uma câmara, algum benefício se você não foi votar. A democracia lhe dá acesso a um voto no dia 2 de outubro. Não deixe de votar. Pense na sua cidade, pense no seu filho, no seu vizinho, no seu amigo. As nossas instituições precisam do seu voto. Eu falo na Santa Casa, no Hospital de Câncer, nas escolas, na agricultura, em todos os setores da vida de Fernandópolis. Está tudo nas mãos do eleitor. Escolha bem, pense bem, não se deixe enganar por qualquer propina. Olha, nós estamos numa fase em que a propina leva ao Fórum. As leis são bem rígidas. Cuidado eleitor, pense bem antes de votar. Não se deixe levar por nada. Escolha bem e vote com sua consciência. Se você não ganhar a eleição, pelo menos você ganha o voto de missão cumprida.
E para os eleitos em 2 de outubro, qual a mensagem?
Pra eles, enquanto tiver vida vou cobrá-los. Eu tenho coragem de chegar e dizer: como é que é meu amigo (a), e a ZPE, e o Poção V, e a Saúde, e a Educação, como é que vai? Você vai, ou não vai, dar continuidade e desenvolver mais ainda Fernandópolis. Olha que eu te cobro...