Vinte dias. É por este prazo que a população de Fernandópolis e das 95 cidades atendidas pelo Hospital do Câncer local terão que esperar por uma definição sobre quem vai administrá-lo. De tudo isso, apenas uma coisa parece certa: a unidade não será fechada.
Essa afirmação se baseia em tudo o que foi dito durante a reunião que visava definir essa situação, na quinta-feira, 23, na sede da DRS XV – Diretoria Regional de Saúde – em São José do Rio Preto. O encontro reuniu autoridades locais e regionais, bem como representantes da Fundação Pio XII e da Associação Lar São Francisco de Assis na Providência de Deus, além do secretário estadual de Saúde, David Uip.
A reunião começou com o discurso de um dos diretores da Fundação Pio XII, Boian Petrov, que de cara anunciou que a instituição não fecharia mais o Hospital em Fernandópolis, pelo menos não por enquanto.
“Desde o dia que a Fundação em uma medida mais drástica e intempestiva achou por bem fechar a unidade de Fernandópolis, isso veio evoluindo, a gente veio procurando meios para que realmente isso não aconteça e estamos chegando a uma conclusão de que Fernandópolis é uma filial nossa que, por enquanto, nós vamos manter. Iremos diminuir um pouco dos atendimentos e nós estamos fazendo estudos para que a demanda que for suprimida em Fernandópolis seja atendida em Jales. Então, a intenção é diminuir um pouco o serviço, só não sabemos o quanto ainda”, disse o diretor.
A afirmativa de Boian provocou a imediata reação do secretário de estado de Saúde, David Uip. “Então mudou a história, não é mais fechamento?”, questionou Uip.
“Nós nunca tomamos atitudes como essa, mas foi uma atitude para a gente, primeiro, mobilizar a sociedade, mobilizar um pouco o governo, agora, depois com calma a gente vai analisando a situação mais a profundo, porque não é só Fernandópolis”, respondeu Boian.
No entanto, o secretário de Saúde, David Uip, rejeitou a “proposta” da Fundação Pio XII de seguir na administração do Hospital com a redução dos atendimentos. Segundo ele, não haverá serviço meia boca e muito menos fechamento de unidades durante a sua gestão.
“Não aceitamos essa hipótese de diminuição do atendimento. Ou vocês continuam como nossos parceiros e prestando o serviço que sempre prestaram, o que nós queremos muito, ou o estado irá assumir a unidade para não deixar a população desassistida”, disse o secretário, reforçando que a unidade não será fechada.
Diante da imposição, os representantes da Fundação Pio XII disseram que iriam levar a decisão ao conselho administrativo da entidade e que dentro de um prazo de 20 dias a resposta seria dada. Nesse ínterim o hospital permanecerá aberto sob a administração da Pio XII.
MOEDA DE TROCA
Ainda durante a reunião, a prefeita Ana Bim também deixou clara a posição do município em relação ao imbróglio. Segundo ela, a cidade não aceita e não merece mais ser “moeda de troca” para o atendimento das reivindicações da Fundação Pio XII.
“A Pio XII faz um trabalho fantástico, é uma referência mundial. Agora, não é justo fazer Fernandópolis de moeda de troca. Os pacientes não merecem isso. Só quem convive com o câncer e depende do atendimento pode imaginar o sofrimento da nossa população nos últimos dias. Saio dessa reunião tranquila de que a unidade não vai fechar, mas também precisamos de uma garantia de que essa história não se repetirá toda vez que o estado e a Fundação não se entenderem”, disse Ana Bim.
ALTERNATIVA
O secretário David Uip anunciou no início da semana um acordo com a Organização Social Associação e Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus, de Jaci, para garantir o funcionamento em Fernandópolis, caso a instituição de Barretos opte pela saída. Com isso, o fechamento do HC está descartado.
A notícia foi comemorada por muitos e questionada por outros, já que, até então, poucos fernandopolenses conheciam a associação ou sabiam de seu trabalho em todo Brasil e no exterior.
A Associação Lar São Francisco de Assis na Providência de Deus, mais conhecida como “Frei de Jaci”, por conta de seu fundador e diretor, o Frei Francisco Belotti, é uma entidade filantrópica cristã sem fins lucrativos, que administra 19 hospitais em todo território nacional, sendo 17 hospitais gerais e dois específicos voltados ao atendimento de pessoas portadoras de deficiências motoras graves.
Além dos hospitais, a associação ainda administra serviços de saúde como ambulatórios médicos de especialidades, pronto socorro, farmácia de alto custo, entre outros, bem como mantém albergue, casa abrigo para doentes em tratamento de saúde, restaurante popular; comunidades terapêuticas de recuperação, ambulatório para diagnóstico e tratamento de álcool e drogas e projetos educacionais, que tem como objetivo prevenir o uso de drogas pelas crianças e adolescentes.
Além disso, o “Frei de Jaci” ainda mantém uma missão em Porto Príncipe, Haiti, que desenvolve atendimentos de saúde, educação e nutrição.