Há muitos anos – décadas, na verdade – a família Phelippe, proprietária da tradicional Casa Lisboa, vê os festejos de Natal na Praça Joaquim Antônio Pereira de uma posição privilegiada: o prédio da loja, na Rua Brasil. Mal comparando, é como assistir ao GP de Fórmula 1 do Paddock de Interlagos. O diretor da Lisboa, Carlos Alberto Fernandes Phelippe, fala nesta entrevista sobre a importância que têm, para o comércio, a decoração de Natal e os eventos artísticos no centro da cidade em dezembro. Carlinhos fala ainda de sua paixão extra-Valéria – o Corinthians campeão brasileiro – sem esquecer da economia, do samba que faz com o grupo Velhos Amigos e da cidade de Fernandópolis, onde ele só não nasceu por força de circunstâncias – na época, seu pai, Ventura Felipe, estava internado em São Paulo, o que fez dele um paulistano, já que dona Ana, mesmo grávida, acompanhou o marido. “Mas sou made in Fernancity”, brinca ele.
Você disse que, na última vez em que foi entrevistado pelo jornal, o Corinthians tinha caído para a Série B. Agora, estamos entrevistando o Carlinhos campeão do Brasil. A vida dá voltas, não é?
Pois é. Não sei se você se lembra, mas eu disse na ocasião, e você até colocou no título: o Corinthians é grande demais, portanto, qual Fênix, renascerá das próprias cinzas. De lá para cá não deu outra: foi só alegria. Ganhou dois campeonatos brasileiros, tem novamente o Tite como técnico e nossa meta, agora, é derrotar o Palmeiras na Libertadores, a única coisa que falta para nós.
O Corinthians terá a grandeza de emprestar o Tite para a Seleção Brasileira se os dirigentes da CBF tiverem juízo de chamá-lo?
Sinceramente, quando o técnico Tite saiu do Corinthians e iniciou aquele “ano sabático”, acho que ele já tinha em mente assumir a seleção brasileira. Ocorre que é difícil entender a cabeça dos dirigentes da CBF, assim como é difícil entender os políticos brasileiros. Saímos de um desastre que foram os 7x1 com o Felipão e entramos no retrocesso representado pelo chamamento do Dunga para dirigir de novo a Seleção. Se houver algum tropeço do Dunga, fatalmente a oportunidade será do Tite. Acredito que, para a seleção brasileira, o Corinthians cederia o Tite de bom grado. Para outro time, acho que não, principalmente para os nossos maiores rivais.
A posição geográfica da Casa Lisboa na Rua Brasil fez da sua família um grupo de expectadores privilegiados dos Natais na Praça Joaquim Antônio Pereira. Neste ano, a crise impõe a realização de uma decoração mais modesta, inclusive com reciclagem de materiais. Na suja opinião, qual foi a época de ouro dos Natais na praça?
Posso falar da década de 90, quando voltei de Santa Fé do Sul para Fernandópolis. Daquela época em diante, acompanhei todos os Natais. Penso que Natal remete a luz, a brilho, e era uma coisa que a gente sentia falta. Depois, foram colocadas vigas ou estruturas metálicas a cada 20 ou 30 metros, nas principais vias comerciais da cidade, e nelas instalados elementos natalinos. A partir de então, a gente passou a notar que havia sempre reciclagem desse material, mudando um pouco a configuração a cada ano, com aqueles estruturas permanecendo. De uns anos para cá, investiu-se mais na decoração da praça, principalmente após a última reforma feita na praça, que eu acho muito interessante. Lembro-me de uma entrevista que dei para a Glenda, creio que em 2002, em que disse que o coração da cidade estava abandonado, escuro, e as famílias tinham sumido do centro. A reforma devolveu o convívio familiar na praça central de Fernandópolis, principalmente por conta da nova iluminação e das mudanças, que deixaram a praça mais clean. Daí veio uma decoração mais localizada. Inclusive existe um projeto na Associação de Amigos para, no próximo ano, fazer um trabalho junto às escolas para que as crianças e adolescentes comecem a trabalhar material reciclável desde o início de 2016, como fazem outras cidades, principalmente a pioneira Santa Fé do Sul. Uma decoração que não tenha custo elevado mas que, com o tempo contando a favor, se consiga um belo resultado. O ideal é que se possa decorar todos os corredores comerciais da cidade. Há corredores importantes emergindo, como a Avenida dos Arnaldos. A ideia é ter uma decoração bonita, barata e principalmente onde se possa trabalhar com luz e muito brilho, como pede o Natal. Apesar do alto custo da energia na atualidade, o que dificulta as coisas...
Em 2013, no primeiro ano deste mandato, a prefeita Ana Bim lançou o projeto “Encantos de Natal”, com doze dias de eventos na praça. Isso foi bom para o comércio?
Foi. Eu penso assim: tínhamos, anteriormente, um movimento muito bom, com as famílias subindo para a praça a partir das 19h30, 20h. Mesmo que não fosse para comprar, era para caminhar pelo centro, ver as vitrines, havia até um concurso de vitrines. Era um passeio, com o trânsito fechado, as lanchonetes abertas. Com o tempo, essa atividade foi diminuindo e as famílias pouco vinham ao centro. Com esses shows e atividades culturais, além da chegada do Papai Noel e a nova configuração da praça, a situação melhorou. Este ano, vi que a programação do show do dia 16 terá alguns artistas de renome, e isso é muito bom. O horário é legal, a população virá para a praça, e fatalmente atrairá o consumidor para as lojas, principalmente se houver vitrines atraentes.
E a crise econômica? O que vocês, comerciantes, preveem para o Natal de 2015?
Posso falar do meu caso em particular: é um ano muito difícil. No comparativo ao ano anterior, meu faturamento caiu 10%. Só que novembro deste ano foi o mês em que essa queda mais se acentuou. Isso assustou um pouco, e nesses dois primeiros dias de dezembro a tendência se manteve. Então, será bem difícil, a queda se manterá provavelmente nesse patamar. Se conseguirmos atingir os números de dezembro do ano passado, já me darei por feliz, especialmente por essa “guerra de notícias” que bombardeia a população diariamente.
Você acredita no “psicologismo da crise”?
Sem dúvida. Inclusive eu brinco, dizendo que a imprensa é meio alarmista. Veja o caso da alta do dólar. As coisas no Brasil funcionam muito na base da especulação. E já estão “sinistrando” 2016 por antecipação.
Como pé mesmo aquela sua auto definição?
Sou arquiteto de formação, comerciante de profissão e sambista por diversão.
Falemos de samba, então. O que representa o grupo “Velhos Amigos” para você?
Somos remanescentes de uma época em que Fernandópolis não tinha cursos superiores, então tínhamos que sair daqui para estudar. Desde aquela época, a gente se organizava nas férias para fazer música, até que fundamos uma escola de samba, a Fermentação. Desde então, Somos amigos, alguns desde a infância. Sempre fazendo um sambinha quando possível. Um dia, alguém sugeriu que tomássemos mais a sério essa questão do samba e tocássemos, por exemplo, num evento que ele iria promover. O primeiro convite foi para tocar na Copasasp, e gostamos do resultado. Decidimos levar um pouquinho mais a sério, e conseguimos o espaço do Plaza, onde fizemos um show para 200 pessoas. Ali nasceu o Boteco do Plaza, e a responsabilidade cresceu. Pedimos então o “auxílio luxuoso” do maestro Fernando Paina e de dois instrumentistas da OSFER, para dar mais peso à banda, e batizamos de Velhos Amigos. Hoje, somos sete membros, com a “contratação” do Guto Marson, que é multi-instrumentista, além de velho amigo de verdade. Resgatamos sambas antigos, misturamos com MPB, com samba-rock, Adoniran, Paulinho da Viola, Seu Jorge, Zeca Pagodinho...para nós, é uma terapia. Afinal, somos boêmios por definição.
Passei a acreditar que a coisa era séria quando soube da “Lei Seca” que o Fabião decretou no Velhos Amigos! (risos)
Pois é, como somos boêmios por definição e ideologia, poderíamos nos exceder no consumo de cerveja. Assim, instituiu-se que só poderíamos beber alguma coisa depois que tivéssemos executado pelo menos 50% do repertório do show. Mas, como diz o Carlinhos Batata, após duas músicas tocadas já tem gente perguntando se “o show já chegou à metade?” (risos). Mas é brincadeira, nós temos seriedade, uma vez que assumimos compromissos com terceiros e o público, né? Temos convites de várias cidades da região.
Quem compõe o grupo, atualmente?
Carlinhos Batata (violão, guitarra e voz), Silas Passerini (cavaquinho, banjo e viola), Guto Marson (violão e guitarra), Ovídio Cesar Martin (surdo, tantam e repique), Márcio Carnelossi (Cajon, pandeiro, Mesa de percussão), Fábio Fernandes, o Pantera (pandeiro, reco-reco, chocalho) e eu (voz e tamborim).
Manda a mensagem de Natal aos fernandopolenses.
Não só para eles, para os brasileiros todos. Já que se iniciou essa contenda, que a gente vê diariamente nos jornais, quero alertar que tá na hora de voltar a cuidar do Brasil. Recentemente vi a prefeita Ana Bim discorrer sobre os projetos do município e fiquei muito feliz, porque é preciso planejar e praticar a união. Já passamos por tantas crises e saímos delas, inclusive com o Corinthians!!